sábado, setembro 05, 2009
RECORDAÇÕES DE ÁFRICA - A Macodibe
Edição n.º 911 de 02 de Outubro de 2008
A Macodibe era uma das maiores empresas portuguesas do Congo, e tinha a sua sede em Basankusu, na província do Equador, e um escritório em Leopoldville que se encarregava de transaccionar os produtos vindos do interior.
De Basankusu a Mondjulongo quase a fazer fronteira com a então África equatorial francesa, a Companhia tinha feitorias um pouco por toda a parte, sobretudo nas margens dos rios que, como já disse, eram todos navegáveis. Em Basankusu, além dos escritórios que coordenavam todos os sectores do interior, um grande armazém no porto fluvial do rio Tshuapa, acolhia todos os produtos vindos dos diversos postos, sobretudo o copal, uma resina que os indígenas extraiam dos pântanos e que era expedida sobretudo para a Inglaterra para fazer vernizes. A companhia possuía ainda várias casas na vila e uma loja mista a que hoje se podia chamar Super-Mercado. Era ali que a população estrangeira se abastecia do necessário para viver, mas sobretudo de produtos alimentares vindo da Europa e também da África do Sul e de Angola. Basankusu era uma pequena cidade do interior, com a respectiva Mairie (Câmara Municipal), uma Catedral (onde mais tarde seria celebrado o meu casamento), e dotada de uma Agência bancária; de um Hospital com instalações modernas para a época e com uma equipa médica de grande nomeada; de um destacamento da "Força Pública" comandado por um oficial belga que assegurava a segurança; de um Hotel, propriedade de um português, o Castanheira, que albergava as gentes de passagem; uma sala de cinema improvisada numa dependência da Câmara Municipal e um Centro de convívio onde se reuniam os habitantes do aglomerado.
Saindo de Basankusu por estrada em direcção à fronteira com a África francesa, a Macodibe, possuía várias feitorias de indústria e comércio, nomeadamente, a de Balangala, (Plantação e fábrica de óleo de palma); a de Falanga, (fábrica de óleo de palma e plantação de palmeiras e de cacau); a de Baringa, (porto fluvial com um armazém que servia para juntar os produtos até serem embarcados); a de Ingende, (plantações de árvores da borracha e fábrica de transformação); a de Lifumba (exploração florestal para a exportação e serração); a de Boende (fábrica de descasque de arroz e supermercado), a de N’gongo (plantações de árvores de borracha, de palmeiras, e de café com as respectivas fábricas): a de Mompono (com um entreposto de armazenagem junto ao rio e várias lojas de comércio); a de Kailanga (fábrica de óleo de palma e criação de bovinos); a de Mundjolongo a 1.000 km de Basankusu (com plantação de café, fabricas de descasque de arroz, de café e lojas de comércio). Noutras aldeias, situadas nesses percursos, possuía ainda várias lojas de comércio, à frente das quais se encontravam negros naturais da região – os "Capitas" (nome por que eram designados os capatazes ou gerentes).
Permaneci na cidade cerca de dois meses e foram várias as peripécias por que passei, com especial relevo para a caça aos gambozinos. Eu conto: Basankusu, era o lugar de passagem e paragem de todos os viajantes das grandes empresas comerciais com sede em Lepoldville. Eles percorriam todo o Congo, visitando os clientes espalhados pelos lugares mais recônditos do país e permaneciam mais tempo nos locais onde a clientela era mais importante. Basa (abreviação de Basankusu) era o ponto de encontro de quase todos eles. Nesse tempo, em África, ainda não havia rivalidades comerciais e os viajantes reuniam-se todos, ao serão, para uma partida de bisca lambida, sueca ou bridge, ou para uma sessão de anedotas molhadas com uns bons uísques...
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2 comentários:
O meu avô foi o último dono dessa empresa que, nos anos 70, foi nacionalizada e enfim...
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