segunda-feira, fevereiro 25, 2013

E X E M P L O S




Sinto-me orgulhoso de ser filho desta ruralidade, deste pequeno mundo, deste símbolo de vida comunitária, desta minha aldeia humilde, mas onde ainda perduram alguns dos mais preciosos valores de antanho.
Não faço do passado emblema, mas confesso que em certos momentos sinto essa antiga aldeia a pular no coração.
E sinto-a, porque ela ainda existe na alma de quem acredita em Deus, de quem não esqueceu os ditames da cartilha do amor e da solidariedade aprendidos nesse grande livro, a célula-mãe, que é a Família - o baluarte espiritual do amor!
Nas horas de angústia é a ela que podemos recorrer, porque ele socorre, ela auxilia, ela perdoa, ele acarinha, ela dá afecto, ela dá força para transpor todos os obstáculos da vida.
Por vezes há também problemas que são o reflexo da sociedade em que vivemos, uma sociedade cheia de injustiças e contradições. No entanto, quando a Família está unida, quando o amor tem raízes profundas e quando se faz dela uma partilha, até o sofrimento dói menos e as horas mais incertas e difíceis se transformam em hinos de alegria
Vem este introito a propósito da notícia publicada há dias na coluna do Tourigo sob o título um “Gesto de Amor Fraternal” e que demonstra à saciedade que nestes pequenos espaços geográficos que são as aldeias do País real, há ainda valores que resistem e que, como disse João Paulo II no seu livro Memória e Identidade, “são luzes que iluminam a existência”. 
O Alexandre é casado, tem 3 filhos. Seu irmão André, também casado, tem uma filha. O Alexandre precisava urgentemente de um rim. O André, apesar de todos os riscos, os laços de sangue e a voz da fraternidade falaram mais alto – e não hesitou!… A cirurgia teve o maior êxito e ambos já se encontram em recuperação em suas casas.
Neste mundo desorientado pelo egoísmo, pela vaidade, pela ganância, e em que as más notícias nos entram em catadupa porta dentro, são casos como este que nos mostram que nem tudo está perdido e que a esperança ainda mora connosco.
E é na família, nesse núcleo de convivência unido por laços afectivos que encontramos apoio e aconchego nos momentos difíceis. Apesar de todos os embates com que todos os dias é confrontada, ela continua a ser um tesouro sem preço.
Ao contrário do que muitos pensam os jovens dos meios rurais ainda consideram importante a base familiar, não tanto pela situação que se vive, mas mais pela educação que receberam no seio familiar.
O caso a que nos referimos é paradigmático e vem demonstrar que o país real, o pais profundo, por vezes esquecido e injustiçado, pode dar lições de solidariedade e de humanização aos que apenas o conhecem pelo mapa afixado no seu climatizado, confortável e luxuoso gabinete do Terreiro do Paço.


















INSTRUIR E EDUCAR




A boa educação, a delicadeza e as boas maneiras, caldeadas num cadinho com um tudo-nada de cultura, traçavam, outrora, o perfil do mais comum dos cidadãos.
Havia depois os outros que, numa escala com números mais altos, constituíam a nata da sociedade, onde se perfilavam as mais variadas profissões. Juízes, médicos, advogados, políticos e professores, faziam parte desse leque de indivíduos que, na sua generalidade, inspiravam uma certa confiança e ditavam os padrões de valores a seguir.
Sem menosprezo para qualquer um dos citados, vou hoje falar-vos do professor. E isso porque, nesta Sociedade de hoje em que todos parecem apostados numa ânsia desvairada de obtenção de prazeres e de lucros fáceis, parece descurar-se um pouco a formação das gerações vindouras.
Se é verdade que existem algumas excepções, e há ainda famílias em que os pais sabem ensinar os filhos e incutir-lhes os valores da boa educação, do sentido da responsabilidade, da disciplina e do respeito pelos mais velhos, a maior parte dos nossos jovens desconhece, por completo, as mais rudimentares regras desses padrões.
Não vou aqui entrar em pormenores, nem tão pouco arvorar-me em moralista. Nada disso. Já transpus muita barreira, já caí muitas vezes, levantei-me outras tantas e não é agora, com o Sol quase no ocaso, que vou invadir terrenos alheios e, quixotescamente lutar contra essa fortaleza inexpugnável que é a nova escola.
O que pretendo com este desabafo de hoje é prestar uma sincera homenagem de agradecimento e gratidão, ainda que póstuma (e bem póstuma!...), à minha professora da instrução primária, que fazia da sua profissão uma arte e um sacerdócio. Instruir e educar, era a sua divisa. A escola era o complemento do lar, e o que não se trazia de casa era ensinado na sala de aulas. Era assim que era construído o "travejamento social do mundo de amanhã..."
"O magistério deve ser uma profissão vocacional; não há pior mestre que o animado por simples fins lucrativos, nem pior pedagogia do que a aquela que é praticada sem amor..." 
Nesta citação está a resposta para muitas das situações que se vivem actualmente nas nossas escolas.
Academicamente posso não ser a pessoa abalizada para tal conclusão. No entanto, o diploma de sabedoria que a velhice me conferiu e que foi obtido não em aulas teóricas, mas em práticas vividas, autoriza-me a fazê-lo.





A UNIVERSIDADE DA VIDA


Atravessamos um momento tão difícil, tão conturbado e enigmático que é impossível o que nos reserva o futuro.
Perante esta complexidade de problemas seria necessário que aqueles que detêm cargos de chefia, possuíssem sabedoria e experiência para desempenharem cabalmente a missão que lhes foi incumbida.  
Mas não, isso não acontece!...
Não menosprezando o papel preponderante dos “canudos” é inegável que sem uma passagem pela Universidade da Vida, – onde se aprende, praticando – qualquer cidadão, por mais dotado que seja, não consegue adquirir uma preparação adequada que lhe permita enfrentar e resolver os problemas do dia-a-dia cujas soluções são cada vez mais difíceis de encontrar. Para complementar o que teoricamente se aprendeu, é necessária prática e sobretudo muita experiência.
Quem nunca teve dificuldades financeiras na vida, não sabe avaliar as necessidades dos que são obrigados a contar diariamente os tostões. Quem sempre geriu o dinheiro dos outros não sabe avaliar o que ele custa a ganhar, e quem nunca teve necessidade de trabalhar para comer, pode, à vontade, dar-se ao luxo de nada fazer!...
Isto para dizer que grande parte dos nossos governantes não tem a experiência necessária para desempenhar o lugar que ocupa.
A maioria dos responsáveis desconhece a verdadeira realidade do País no seu todo. A sua visão queda-se, muitas vezes, pelo que vêem da janela do seu confortável gabinete ou pelo que lhes relatam os seus assessores, eles também desconhecedores das mais aflitivas e imediatas dificuldades com que se debatem os cidadãos mais carenciados.
Uma das maiores exigências do tempo que atravessamos é responder à questão social. Para que a sociedade seja harmoniosa e justa é necessário que ela esteja motivada para o trabalho, para a criatividade, para a correcta distribuição da riqueza, para a igualdade de oportunidades entre os cidadãos.
Em vez de uma sociedade materialista e desumanizada dominada pela política, pelo futebol e pela ganância de enriquecer sem escrúpulos, é urgente construir uma sociedade orientada por valores e princípios morais que se oponham a exageros mediáticos e tecnocráticos do nosso tempo. É claro que estou a transcrever para o papel aquilo que realmente penso e que me é ditado pela minha experiência da vida. Nada mais!
Aliás, numa sociedade dominada pelo lucro e pelo egoísmo, haverá “herói” que consiga fazer-se ouvir por essa gente bem instalada na vida, prepotente, cega pelo dinheiro que lhe fez trocar os ditames de consciência por uma avultada e redonda conta bancária?














DE VOLTA




Une vie ! Quelques jours, et puis plus rien !
Guy de Maupassant
O punhado de leitores que ao longo destes últimos vinte e quatro anos se habituou, semanalmente, a passar os olhos por estes meus rabiscos, deve já ter perguntado o que me aconteceu para os ter interrompido durante todo este tempo…
Nada de grave. Apenas a substituição de uma espécie de rolamento num dos membros de locomoção me obrigou a esta paragem e me impediu de preencher este meu espaço. Como já uma vez o disse, “máquinas” são “máquinas”, e o desgaste causado pelo passar dos Invernos não perdoa, e prega-nos partidas. E, desta vez, “obrigou-me” a uma espécie de “férias grandes”, mas sem mar nem Sol!...
Mas foram muitos os ensinamentos que colhi durante esse descanso forçado. A começar pelos amigos. Nunca pensei que tinha tantos! E daqueles de que fala o provérbio, que “se conhecem no hospital ou na cadeia”. Dos verdadeiros!... E também dos outros, dos hipócritas e dos fingidos, daqueles que o são apenas por interesses momentâneos e egoístas.
Aprendi também a dar mais valor à vida, já que, num revés de saúde, o sofrimento físico aliado ao do espírito, fazem com que descubramos horizontes e sentimentos até aí ignorados. E esses momentos em que estamos mais sós, em que verificamos a fragilidade do nosso ser, permitem-nos também uma maior aproximação de Deus. E é nesses momentos mágicos, quando o silêncio impera e a imaginação, rédea solta, viaja no tempo, que a vontade de viver se agiganta e o desejo utópico de voltar a ser menino nos dá ânimo para prosseguir a caminhada.
Aproveitei também esse período de imobilidade para pôr a leitura em dia, evitando esse fluxo palavroso de notícias de telejornais, debates políticos e quejandos, que apenas nos embrutecem e revoltam.  
A saúde é a maior bênção que nos foi concedida, mas, distraídos que andamos, só quando um problema – por mais pequeno que seja – nos bate à porta, é que pomos os pés na Terra e, olhando para trás damos conta dos momentos desperdiçados que não aproveitámos por questões mesquinhas e fúteis!
A vida de cada um de nós encerra aspectos favoráveis, mas também acontecimentos desfavoráveis. A nossa existência está sujeita a leis inexplicáveis que, apesar de certas aparências contrárias, tem efeitos úteis e preciosos, que na maior parte das vezes não sabemos interpretar.No meu caso pessoal, a arma para ultrapassar esses momentos desfavoráveis consiste numa mistura de fé e de bom humor. Não só essa combinação me ajuda, me dá ânimo, como também contagia os que me rodeiam – o que é uma outra espécie de felicidade.
Termino, e embora tardiamente, aqui ficam os meus sinceros votos de um novo ano com muita saúde para todos.










O FANTASMA DE SALAZAR



Aqui há tempos o Autarca de Santa Comba Dão, pensou na requalificação do património deixado pelo antigo Presidente do Conselho que se situa na aldeia limítrofe do Vimieiro. Nesse sentido a Associação de Desenvolvimento Local no intuito de atrair investidores, lembrou-se de o fazer através de um dos seus produtos endógenos – o vinho do Dão – rotulando as garrafas com a marca “Memórias de Salazar, “um nome conhecido em todo o Mundo” e que ajudaria na sua promoção.
O pior é que apesar de o Homem estar morto e enterrado com sete palmos de terra por cima, só a evocação do seu nome ainda assusta muita gente. E, desta vez, os que se assustaram foram uns senhores do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, que tiveram medo e chumbaram a marca, alegando que “é recusado o registo de uma marca que contenha expressões ou figuras contrárias à lei, moral, ordem pública e bons costumes…”
Inacreditável!... Se, de facto, tal cláusula existe nos estatutos do INPI, quais as expressões ou figuras contidas na marca que atentem contra a lei, a moral, a ordem pública ou os bons costumes? 
Quarenta e dois anos após a sua morte e trinta e oito depois da instauração da Democracia, há ainda muita gente que vive atormentada com receio da “ressurreição”do homem que disse “que antes de deixar o Poder queria sacudir os bolsos e de todo o tempo que esteve à frente dos destinos da Nação, nem mesmo pó queria levar…”
Não será por isso – para evitar comparações – que o camartelo de uma certa elite continua a tentar demolir toda a sua obra sem poupar as traves mestras que têm resistido às intempéries da História?
A propósito estou a lembrar-me do “incómodo” causado pela vitória de Salazar no programa Os Grandes Portugueses emitido pelo canal público da televisão. Choveram críticas de gente das mais variadas tendências, mas as mais mordazes e venenosas foram as de alguns historiadores. Como o tiro lhes saiu pela culatra, não era de esperar outra reacção.
Este episódio rocambolesco da proibição da marca “Memórias de Salazar” é um fenómeno cíclico, que acontece quase sempre quando se pretende desviar a atenção do Povo. Espero que o Autarca de Santa Comba Dão continue a luta, porque apesar de tudo o que de bem ou mal se diga ou escreva acerca de Salazar isso não apagará o seu nome nem da terra onde nasceu, nem das páginas da História. Tranquilizem-se os que acreditam em bruxarias e têm medo que ele remova a pedra sepulcral, porque enquanto a Troika não nos deixar, não há defunto que ponha a cabeça de fora. Só a mão!...