quarta-feira, abril 29, 2009

Eternos ingénuos!...




A corrupção e a violação dos mais elementares princípios da ética estão a perturbar cada vez mais aqueles que são obrigados a trabalhar honestamente para garantir a sua subsistência.
São tantos os atropelos à moral, ao bom senso e à honestidade que muita boa gente se interroga se realmente vale a pena continuar a respeitar e a pôr em prática os valores morais que em pequeno lhe ensinaram.
Muitas vezes, – em assomos de raiva e revolta por tantos abusos – pergunto a mim mesmo se onde todos roubam, não será anti-ético não roubar!...
Se todos os dias a maior parte daqueles que deveriam dar o exemplo exercendo o seu cargo com isenção e lisura nos mostram o contrário, prevaricando a torto e a direito, como resistir à tentação de não proceder da mesma maneira?
Se para eles é correcto servirem-se do que não lhes pertence para auferir lucros e terem direito a um lugar vitalício nas primeiras filas deste circo, por que motivo não haveremos nós de tentar também sonhar e lutar por iguais benesses?
Será porque fomos condenados a usar eternamente esta fatiota de autênticos palhaços andrajosos, subservientes e choramingas?
E assim é. Somos palhaços acoitados sob esta tenda de circo esburacada, segura por cordas que nos foram cedidas por Bruxelas mediante acordos nos quais predominou a super-facturação em nome de todos, mas cujo dinheiro reverteu só em benefício de alguns.
Palhaços, porque pagamos aquilo que nunca recebemos. Somos palhaços de um circo decadente, exposto às intempéries e à cobiça das aves de rapina vindas de outras paragens; somos palhaços de um circo onde não falta comida para os leões, mas que escasseia nos sectores onde vive a bicharada mais pequena, numa promiscuidade indecente.
É um circo falido, mas onde nada falta aos donos e senhores que zombam dos necessitados que se atropelam à procura de comida. Os palhaços mais velhos, teimosos, desafiam a vida comprando a saúde em troca da mísera reforma que recebem, e que deixam na totalidade na farmácia da aldeia!
Um circo que mais se assemelha a um cemitério onde foram impiamente enterrados em vala comum todos os valores que diferenciam o homem dos bichos: a honra, o respeito, a vergonha, a educação e até o patriotismo!
Entretanto assistimos ao aparecimento de riquezas misteriosas e à divulgação de lucros escandalosos de Bancos e de Empresas públicas, à atribuição de indemnizações faraónicas a senhores que deixam um lugar para ocupar outro cuja remuneração e mordomias são ainda maiores!
Alguém já viu algum desses nababos abrir a sua carteira para ajudar a minimizar a fome e a miséria que por aí vai? Esses donos de fortunas incalculáveis conseguidas através de artes e manhas pouco recomendáveis falam muito em solidariedade e ajuda, mas tudo isso não passa de simples figuras de retórica e de enfeites linguísticos para branquear uma conduta pouco digna e honesta.
O circo está falido, mas haverá sempre comida para os mais fortes, para os leões... E sob a lona esburacada, os serviçais e os arrumadores – essa nova espécie de escravos - continuam a olhar o céu através dos buracos, acreditando ainda num milagre…Não no milagre das rosas, mas num outro milagre – o dos papelinhos, que nos actos eleitorais que se aproximam, irá transformar o rectângulo, finalmente, numa terra da fraternidade, de bem-estar e de igualdade entre todos. Santa ingenuidade!...

Quem matou a esperança?...



Esta hora de crepúsculo em que nos encontramos é uma hora triste, uma hora simbólica. É uma hora silenciosa, indescritível e amargurada por não sabermos o que nos trará a manhã que vem a seguir.
É uma hora tão secreta e enigmática que até os heróis têm medo, e todo o homem se sente sozinho, receoso e incrédulo!...
E é por tudo isso que eu penso que chegou a hora de nos unirmos para pôr fim a esta progressiva degradação do país. Em cada dia que passa mais se acentua esta espécie de catalepsia em que parece termos mergulhado.
Como sonâmbulos, vagueamos um pouco por toda a parte, falamos de tudo e de nada e, de olhos fechados, movimentamo-nos indiferentes a tudo o que nos rodeia.
É a hora de acordarmos. É a hora de pôr cobro a este descalabro da Nação. É a hora de abrir os olhos, de reagir, de não acreditar na visão dos burocratas; nem no optimismo dos mercenários da política; nem na óptica desfocada desses senhoritos vaidosos; nem na "sapiência" desses bacharéis de cartilhas modernas, nem nessa seita de homens medíocres, bem falantes – todos eles egoístas, prepotentes e desconhecedores, em absoluto, da realidade da vida.
Não esqueçamos, porém, que é também a hora em que devemos pensar que nada está perdido, mas que tudo se pode perder. É a hora de fazer da resignação uma revolta pacífica e da indignação uma força íntima que não tema nada nem ninguém.
É a hora de denunciar as injustiças. É a hora de não pactuarmos com o compadrio; de restabelecer a confiança e, sobretudo, de reforçar, de cimentar o verdadeiro conceito da honra e da honestidade.
Julgamos, criticamos e culpamos sem nos lembrarmos que também somos cúmplices, porque muitas vezes, quer por comodismo, quer por interesses particulares ou outros, não denunciamos as ilegalidades para que seja feita justiça e punidos os infractores.
Durante mais de três décadas temos aceitado com indiferença e tolerância todos os abusos que têm sido cometidos em nome da democracia – uma democracia de funil a que urge pôr fim. E só conseguiremos acabar com esse circo de demagogia e de retórica quando, em vez de aplaudir e bater palmas, tivermos a coragem de denunciar e desmascarar os barões que se escondem atrás das cortinas do palco da governação, que exploram o povo na sua ignorância e credulidade e que têm delapidado impunemente enormes verbas, servindo-se em vez de servir.
Comemorou-se mais um aniversário da «Revolução dos Cravos». É tempo de perguntar: Quem matou a esperança que surgiu como redentora no dia 25 de Abril de 1974?...

sábado, abril 18, 2009

Temperaturas




«Em política, o absurdo não é um obstáculo».
Napoleão
Segundo um infiltrado que há anos mantenho no circuito político, os prestidigitadores da governança cá do rectângulo, preparavam-se, há dias, para lançar um novo imposto. Mais um… E agora calem-se os que andam por aí a dizer que os nossos políticos não têm ideias. Ai que não têm. Quando se trata de encontrar “fontes” de rendimento, são tantas as que fervilham naqueles iluminados crânios que nem lava a sair de cratera de vulcão!
É verdade. Baseando-se no nosso clima que é um dos melhores desta velhinha e decrépita Europa, os tosquiadores deste rebanho à beira mar tresmalhado, propunham-se criar um novo imposto, a que seria dado o nome de Imposto Meteorológico!
E vejam a astúcia dos pegureiros: calcularam uma temperatura média de base e por cada grau acima, cada um dos habitantes da região onde se verificasse uma subida pagaria uma taxa de 1 Euro equivalente ao “excesso calórico”.
Nas áreas que não atingissem a média estabelecida, por cada grau abaixo pagaria o indígena uma taxa da mesma importância, equivalente ao «desequilíbrio térmico».
Mesmo processo para os dias de chuva: cálculo da humidade média e taxa de higrometria aplicada aos «mais» e aos «menos» na mesma proporção.
No Inverno, o diploma referia-se também ao dispêndio com o aquecimento, surgindo neste capítulo a primeira desigualdade entre cidadãos do mesmo País. Com efeito o preço do gasóleo, do gás e da electricidade seria mais elevado no Sul e mais baixo no Centro e no Norte. Em Beja, por exemplo, o litro, o quilo ou o quilovátio, respectivamente, seriam mais caros do que em Viseu, na Guarda ou em Vila Real, pois os habitantes da cidade alentejana terão muito menos necessidade de aquecimento do que os indígenas das faldas do Caramulo, da Estrela ou do Marão!...
E esse imposto só não foi avante porque, logo que dele teve conhecimento, o Instituto de Meteorologia e Geofísica, que detém o monopólio das condições climatéricas para Portugal e Ilhas Adjacentes, ter-se ia oposto veementemente classificando-o de «um acto absolutamente inconcebível, porque maioria terráquea, não significa, de maneira alguma, maioria absoluta no que diz respeito aos Astros!»
Que as senhoras e os senhores que "fazem" a chuva e o bom tempo se cuidem. A vingança pode vir a caminho, porque "quem se mete com eles... leva!" E entre eles há quem goste muito de "malhar…"

Páscoa 2009




«SENHOR, DESCE DA CRUZ!...»
Há, na circulação dos anos, e sempre que olhamos o caminho percorrido, épocas, dias ou momentos da vida em que parece faltar qualquer coisa que preencha este vazio da crescente desumanização do mundo... Qualquer coisa que faça ressuscitar o sonho perdido e mantenha viva a esperança e a força para enfrentar os imprevisíveis combates que diariamente surgem na nossa vida. E só nos libertamos dessa angústia, dessa solidão, quando encaramos a vida através da fé na Ressurreição.
E é tempo agora, porque Cristo ressuscitou! É Primavera. E a Natureza que acordou florida associa-se também a esta passagem da Morte para a Vida.
A Ressurreição é o fundamento da nossa Fé e da nossa Esperança. A Páscoa é por isso a festa do Amor, da Alegria e da Fraternidade. Mas é também, e sobretudo, tempo de reflexão!
O sofrimento, as injustiças, as lágrimas dos pobres, a poesia, tudo isso é uma espécie de religiosidade e mistério que nos convida a reflectir enquanto percorremos esta caminhada da vida.
Que me perdoe a ilustre poetisa, Maria da Conceição, por lhe ter roubado o título e o poema desta minha crónica de hoje. Mas eu não sabia melhor dizer, melhor pedir... nem melhor fazer:

«Somos semente, pela mão de Deus
Lançada, à Terra, como grãos de trigo,
Que germinou; mas quantos filhos Seus
Já não vêem, no Pai, o grande Amigo!

Esp'rança e Fé, virtudes lá dos Céus,
Com Caridade, um manto, bom, de abrigo,
Destes três dons fez uso São Mateus
Por Fé, foi mártir, não temeu o perigo!

Teu coração, oh, Deus, Sagrada Oferta
Nos enviaste em Teu filho Jesus
Que devolvemos feito chaga aberta!

É para Ele que vai um grito rouco:
Perdão, Senhor, mas desce dessa Cruz,
Vem pôr, na ordem, este Mundo louco.»

Este Mundo louco onde a inovação ocupou o lugar da sabedoria, a segurança social substituiu a família e a arrogância nos matou a serenidade. Em nome do nosso bem-estar e sem nos apercebermos estamos a perder Deus, porque renegamos as Suas leis naturais!...
«Perdão, Senhor, mas desce dessa Cruz, vem pôr na ordem este Mundo louco...»

sábado, abril 04, 2009

Morra Marta, morra farta...


Edição n.º 937 de 02 de Abril de 2009

Embora nunca vos tenha dito declaradamente, já devem ter percebido pelos meus rabiscos, que já cá cantam uns bons anitos!
Imaginem que já venho de tão longe que os primeiros passos de dança que dei, foi ao som de uma grafonola!... Sou ainda do tempo das sardinhas em salmoura, dos feijões cozidos e temperados com azeite, do presunto curtido na salgadeira, da genuína broa de milho, das sopas de "cavalo cansado", do vinho tirado do tonel e tapado com o espicho, etc., etc.,... E sou também daquele tempo em que ainda não existiam esses locais a que puseram o nome de Centros de Saúde, mas onde só vão doentes… e de véspera para serem atendidos. Não é que nesse tempo não houvesse doenças. Havia, evidentemente, mas os doentes eram mais "sãos"!...
Há dias, quando ouvi dizer que o Governo ia tratar da saúde aos indígenas cá do rectângulo cortando no sal do pão, lembrei-me da conversa que o meu vizinho Agapito – um homem mais ou menos da minha idade, mas com muito medo de morrer – teve com um discípulo de Hipócrates, a quem agora chamam de médico de família. É ele a contar: «Logo à entrada, mal me sentei, ele disparou:
- «Então de que se queixa?» – «Olhe, Dr., praticamente de nada, mas como ouço dizer a toda a hora que é preciso fazer atenção com o que se come!... Agora, por exemplo, fala-se muito no sal...» – «O sal? É a pior droga existente sobre a terra. Veja os gordos, os cardíacos...» – «Mas Dr. uma omeleta sem sal... – «Omeleta! Nem fale em ovos, homem! Olhe o fígado, o aparelho digestivo...» – «Mas Dr.... digestões difíceis só quando como carne de porco...» – «O quê?!... Você come carne de porco? Você não sabe que os nitritos são tantos nessa carniça que podem levar um cristão directamente à cova sem passar pela Igreja?...» – «Nesse caso, Dr., um bife com batatas fritas...» – Abrenúncio! Ó homem você s'tá doido! Não ouve falar em hormonas, não se lembra das vacas loucas?!... Batatas fritas, disse você? E as gorduras saturadas, os pesticidas, os conservantes...» – «Resta-me então o frango...» – «Alto aí, amigo! Esse galináceo tem ainda mais química do que o animal; é como uma espoja a absorver os venenos que lhe põem nas tremonhas...» – «Quer dizer que só o peixe, Dr.?...» – «Qual quê? Nunca ouviu falar na poluição do mar pelos petroleiros, nos esgotos que para ele correm? E o mercúrio?!... Comer peixe é como suicidar-se trincando termómetros, homem!...» – «Ouça Dr.: Sabe o que vou fazer? Comer apenas pão com manteiga...» – «Então experimente e verá!... Com a farinha actual que é um pó indigesto e a manteiga que é colesterol no seu estado mais puro, você mal se precata, dá dois saltos e é um homem morto!...» – «Quer dizer que nesse caso só me resta o ar...» – «E mesmo assim só o ar do campo, meu caro amigo... O da cidade, com os gazes dos escapes dos carros, os fumos tóxicos das fábricas, o enxofre...» E aqui eu explodi: - «Vá p'ró raio que o parta seu esculápio de uma figa! Eu cá vou ingerir nitritos, hormonas, mercúrio e todos esses venenos que diz existirem em tudo o que sabe bem. Vou consolar – me ouviu?... Vou consolar – me. Passe bem. Levantei-me e deixei-o a esbracejar...»
Alguns dias depois deste desabafo encontrei o Agapito num restaurante, numa encarniçada "luta" com um valente cozido à portuguesa. Esqueceu os nitritos, as hormonas, e toda a química existente em tudo o que agora se come.
Aliás, como nós, os amantes da boa mesa, fazemos. Nada de comidas plastificadas. E isso na minha “insuspeita” opinião, porque morrer por morrer, antes com a barriga cheia. Morra Marta, morra farta, como diz a velha máxima.

Falta de chá




Muito embora tenham sido os ingleses os "inventores" do chá das cinco, o famigerado five o’clock tee, foram no entanto os portugueses que trouxeram a planta do Oriente e a introduziram na Europa.
Reza a História que por volta do século XVII, a filha do nosso rei D. João IV, ao contrair matrimónio com Carlos II de Inglaterra, levava como dote, além da cidade de Bombaim, na Índia, o hábito de tomar chá, coisa até aí desconhecida em terras de Sua Majestade britânica.
A princípio, a bebida, proveniente da infusão das folhas do arbusto, era só privilégio das casas mais abastadas cá do Reino. Tomar chá conferia assim um certo estatuto de nobreza que, ao longo dos tempos se foi divulgando até que a expressão "tomar chá" começou a ser sinónimo de educação e de boas maneiras...
Estou daqui a ver a cara de escárnio de alguns leitores que consideram essa coisa de etiqueta e boas maneiras como resquícios do passado, daquele passado que as suas fanatizadas mentes não admitem seja lembrado!
Bom proveito lhes faça tal interpretação, mas cá p'ra mim continuo a pensar que a vida social só faz sentido quando é regulada por princípios de conduta que permitam distinguir o homem civilizado do homem das cavernas. Não porque esse nosso antepassado não mereça o devido respeito, mas ou se evolui verdadeiramente em todos os sectores da sociedade ou se continua a comer com as mãos e a limpar o nariz à costa da mão. Seria um recuo, penso eu, em que ninguém está interessado...
Mas vem este prólogo a propósito do "vale tudo" que reina por aí, a começar pela classe dirigente que chega ao ponto de não saber comportar-se com frontalidade, nem conservar o aprumo e a compostura que o desempenho dos cargos que ocupa lhe impõe.
À mais pequena escaramuça, estala o verniz, e assistimos, por vezes, a situações deveras caricatas para não dizer vergonhosas. No Parlamento, os eleitos da Nação, são disso um exemplo flagrante!
O chá que se possa ter tomado em pequeno ajuda muito, mas não basta. É preciso, pela vida fora, continuar a aperfeiçoar o nosso comportamento e saber enfrentar, civilizadamente, todas as situações.
Para baralhar ainda mais e usando armadilhas sofisticadas, apareceu el-rei D. Dinheiro que sem escrúpulos nem preconceitos se infiltrou em todos os sectores e se tornou senhor absoluto. Os seus arautos, os euros, de trombeta em punho, abrem o caminho. E passa-se por cima de tudo e de todos se, previamente, no percurso que conduz ao objectivo for estendido um fofo tapete de notas.
Tudo se compra e tudo é permitido. Compram-se empregos, títulos, nobreza... e até consciências!
E tudo é permitido em nome do senhor deus Dinheiro. A afabilidade, a cortesia, o «bom dia», a «boa tarde», o «se faz favor», e outras formas de civilidade caíram em desuso. Nada disso interessa e a importância do ilustre cidadão passou a ser avaliada pela sua conta bancária. El-rei D. Dinheiro, passou a ser uma espécie de lixívia, um tira-nódoas cada vez mais usado... Muito cheque, mas tanta falta de chá!...

sexta-feira, abril 03, 2009

Eles são muitos...

Recordo-me de que há cerca de quase três décadas quando regressei ao país depois de uma ausência de trinta anos, – não como exilado político ou por outro qualquer motivo próprio da época – era de bom-tom e podia trazer grandes compensações, dizer-se de esquerda ou então afirmar ter sido perseguido pela ditadura.
Pelo contrário, qualquer indígena que se dissesse de direita, era logo conotado com o “antigamente”, com esse passado tenebroso, mas cujo ouro “ajudou” muito libertador a encher os bolsos… Já nesse tempo o dinheiro não tinha cheiro!
Hoje, quando se fala de política, a discussão à volta de esquerda/direita está completamente ultrapassada. Não há diferenças. Não há esquerdas, não há direitas. Há, isso sim, um conjunto de interesses cuja conquista se exerce de maneiras diferentes, consoante o modus operandi de cada um dos intervenientes na contenda.
As ideologias que faziam essa destrinça deixaram de existir e cederam o lugar a uma luta feroz em que os objectivos que estão em causa são apenas os interesses pessoais.
Hoje vale tudo: é-se de esquerda e governa-se à direita ou é-se de direita e governa-se à esquerda. Salvo raríssimas e honrosas excepções, são todos iguais. Não há que escolher. O que interessa são os lucros no fim do mês ou no fim do ano depois de se terem somado todos os proventos relativos aos “tachos”.
Há, no entanto, que salvar as aparências. Mas só para português ouvir…E ei-los arengando a arraia miúda, arvorados em defensores dos pobres, dos velhos, dos desprotegidos da sorte, dos sem abrigo, prometendo mundos e fundos, mas sem repartir com eles quaisquer sobras dos seus lautos banquetes!
Fala-se muito em moralizar o Estado. Fala-se… São palavras ditas, mas sem vontade de concretização, porque isso não interessa a nenhum dos partidos. Há que dizê-lo sem medo, porque é a verdade.
Quando os políticos confundem o seu papel com o dos grupos económicos e querem fazer dos partidos empresas privadas onde podem colocar quem bem lhes apetece e talhar os seus ordenados à medida da sua ganância, está visto que não podemos esperar melhores dias.
Num pequeno céu como é o nosso, não há lugar para tantos abutres! Com esta doutrina do dinheiro e com tantos e tão devotados praticantes, não há “água benta” que chegue. A injustiça e a impunidade passeiam ostensivamente perante a pobreza que vai aumentando assustadoramente. Há crianças que passam fome e idosos que deixam de comer para comprar medicamentos!
Porém, essas carências não existem no mundo daqueles que têm mais almoços que barriga. E nesse mundo há de tudo: Esquerda, direita, centro …
Depois das próximas eleições para o Parlamento Europeu e segundo o Novo Estatuto dos Deputados, os seus salários vão ser aumentados de 3.815 euros para 7.665 euros por mês! Será possível esta imoralidade em tempo de crise?
A ser verdade, não terão razão aqueles que dizem que o Estado rouba aos pobres nos impostos e nos serviços para criar novos-ricos? É verdade que os pobres têm pouco, mas são muitos…

Política, tolerância e ética

Assistimos, nestes últimos dias, a uma troca de palavras entre partidos políticos que em nada contribuem para a dignificação e o bom-nome da classe que nos governa.
Ainda recentemente e enquanto António Costa acusava o Bloco de Esquerda de ser «um partido oportunista que parasita a desgraça alheia e é incapaz de assumir responsabilidades», Francisco Loução, por seu turno, respondia em tom irónico, «que era uma honra para o BE ser transformado no principal adversário deste partido esponjoso», depois de ter esclarecido que «sabe quem são os parasitas, as ratices e as ratazanas…»
Poderia citar ainda mais alguns “mimos” proferidos pelos nossos mandantes desde o princípio deste ano, mas não vale a pena perder tempo com os desvarios de suas excelências…
Todo o homem tem o direito de pensar e de divergir, mas acima de tudo deve ser tolerante e cuidadoso nas suas afirmações. Todos sabemos que apesar de as ideias não serem sempre convergentes, é da sua discussão que brotam um sem número de pensamentos que poderão nortear a humanidade e abrir o caminho da verdade.
O homem distingue-se dos demais habitantes do universo pela sua capacidade inata de transformar a natureza e de criar bens culturais. No entanto essa criação só é genuína e verdadeira quando é feita em liberdade absoluta, independente de credos, imparcial e isenta, pois ela fica a pertencer a toda a humanidade. É património de todos.
Na sua luta pelo poder, os homens que o detêm, tudo fazem para o conservar enquanto os que se lhes opõem, tudo tentam para o conquistar. Não há regras, não há limites. E, assim, chegamos a uma espécie de “lei da selva” em que impera o mais forte.
Vivem-se situações indignas em quase todos os sectores da vida nacional -situações que há muito se julgavam sepultadas para sempre nas cinzas do passado.
Vivemos numa democracia disfarçada.
Hoje, como no crepúsculo de outros tempos passados, déspotas e fundamentalistas de todos os credos e opiniões, disfarçados de homens de bem, de democratas de fachada, tentam, sem vergonha e com um despudor nunca visto, transformar a mente daqueles que com o seu saber e trabalho contribuíram para o esplendor da civilização e marcaram rumos na construção de uma sociedade digna, fraterna e solidária.
Termino, citando, com a devida vénia, D. Carlos Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa: «São frequentes, nos nossos dias, os sucessivos atentados à norma, a repetição insistente e subtil da convicção de que não há normas universais na antropologia humana, a confusão entre o respeito pela diferença e a consideração objectiva e sem complexos do que é normativo. Em tempos de profunda crise económica, cada dia agravada, é hora para exame sério dos comportamentos de empresas, dos governantes, da Igreja Católica e da sociedade civil constituída por cada um de nós. A ética requer entidades reguladoras independentes do poder político e económico e autonomia responsável dos indivíduos ao serviço do bem comum…»

A irresponsabilidade remunerada

Aqui há tempos, num fim de semana, os deputados do PSD que na Assembleia da República representam, o Povo que os elegeu, resolveram sem mais aquelas, “pirar-se” do hemiciclo numa altura em que ia a votação uma Lei, creio eu, referente ao estatuto dos Professores.
Logo a seguir houve grande alarido, pois parece que se todos estivessem presentes a tal Lei não passaria, dado o facto de ter havido deputados da maioria, que ou se abstiveram ou votaram contra.
Este caso suscita várias interpretações e eu pergunto-me se o que aconteceu agora não se terá repetido noutras ocasiões em que “outras” leis foram aprovadas de igual forma, isto é, com tanta falta de responsabilidade e tão levianamente.
Mas o que ainda mais me indignou foi o facto de haver quem viesse a terreiro desculpar os faltosos, evocando a necessidade de se ausentarem para se dedicarem a outros trabalhos para sobreviverem, pois o ordenado que auferem no Parlamento não lhes permite viver desafogadamente!
Um desses defensores afirmou que “Os deputados têm a sua vida profissional, não se paga aos deputados o suficiente para eles serem todos apenas deputados, sobretudo quando são profissionais do Direito ou fora do Direito. Um advogado que tem um julgamento, não pode estar na Assembleia e no julgamento ao mesmo tempo. (…) Talvez esteja errado que as votações sejam à sexta-feira, é preciso arranjar horas para a votação que não sejam as horas em que, normalmente, é mais difícil e mais penoso estar na Assembleia da República. (…) No meu tempo não havia votações à sexta-feira, porque é a véspera do fim-de-semana. Os deputados são humanos, não são máquinas…”
Não faço comentários. No entanto como há muita gente neste país que não está informada da verdade verdadeira eis quanto ganham os defensores do Povo:
O salário base de um deputado é de 3.707 euros e 65 cêntimos. Por extenso para que percebam melhor: Três mil, setecentos e sete euros e sessenta e cinco cêntimos. Se o Sr. deputado estiver presente 22 dias, receberá por dia cerca de 168 euros!...
Agora, Ti António faça a comparação com a sua reforma mensal de 256 euros. Já fez as contas? Pois é…
Mais uma vez os políticos nos “dizem” através da aritmética que a “sua” Democracia não é a mesma que a que apregoam. Socialmente falando a sua conduta não só é vergonhosa como ultrajante! E perigosa…
A Democracia quando exercida sem ética nem moral, corre o risco de se transformar num bumerangue que no retorno pode ser fatal para o praticante.
A onda de individualismo que está a varrer o Mundo pode, a breve trecho, transformá-lo num autêntico campo de batalha, cujas consequências ninguém pode prever.