sexta-feira, abril 03, 2009

Política, tolerância e ética

Assistimos, nestes últimos dias, a uma troca de palavras entre partidos políticos que em nada contribuem para a dignificação e o bom-nome da classe que nos governa.
Ainda recentemente e enquanto António Costa acusava o Bloco de Esquerda de ser «um partido oportunista que parasita a desgraça alheia e é incapaz de assumir responsabilidades», Francisco Loução, por seu turno, respondia em tom irónico, «que era uma honra para o BE ser transformado no principal adversário deste partido esponjoso», depois de ter esclarecido que «sabe quem são os parasitas, as ratices e as ratazanas…»
Poderia citar ainda mais alguns “mimos” proferidos pelos nossos mandantes desde o princípio deste ano, mas não vale a pena perder tempo com os desvarios de suas excelências…
Todo o homem tem o direito de pensar e de divergir, mas acima de tudo deve ser tolerante e cuidadoso nas suas afirmações. Todos sabemos que apesar de as ideias não serem sempre convergentes, é da sua discussão que brotam um sem número de pensamentos que poderão nortear a humanidade e abrir o caminho da verdade.
O homem distingue-se dos demais habitantes do universo pela sua capacidade inata de transformar a natureza e de criar bens culturais. No entanto essa criação só é genuína e verdadeira quando é feita em liberdade absoluta, independente de credos, imparcial e isenta, pois ela fica a pertencer a toda a humanidade. É património de todos.
Na sua luta pelo poder, os homens que o detêm, tudo fazem para o conservar enquanto os que se lhes opõem, tudo tentam para o conquistar. Não há regras, não há limites. E, assim, chegamos a uma espécie de “lei da selva” em que impera o mais forte.
Vivem-se situações indignas em quase todos os sectores da vida nacional -situações que há muito se julgavam sepultadas para sempre nas cinzas do passado.
Vivemos numa democracia disfarçada.
Hoje, como no crepúsculo de outros tempos passados, déspotas e fundamentalistas de todos os credos e opiniões, disfarçados de homens de bem, de democratas de fachada, tentam, sem vergonha e com um despudor nunca visto, transformar a mente daqueles que com o seu saber e trabalho contribuíram para o esplendor da civilização e marcaram rumos na construção de uma sociedade digna, fraterna e solidária.
Termino, citando, com a devida vénia, D. Carlos Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa: «São frequentes, nos nossos dias, os sucessivos atentados à norma, a repetição insistente e subtil da convicção de que não há normas universais na antropologia humana, a confusão entre o respeito pela diferença e a consideração objectiva e sem complexos do que é normativo. Em tempos de profunda crise económica, cada dia agravada, é hora para exame sério dos comportamentos de empresas, dos governantes, da Igreja Católica e da sociedade civil constituída por cada um de nós. A ética requer entidades reguladoras independentes do poder político e económico e autonomia responsável dos indivíduos ao serviço do bem comum…»

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