sábado, dezembro 01, 2012

BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS



Brincando com coisas sérias
Afinal, e contrariamente ao que se tem vindo a apregoa por aí, a famigerada TSU (Taxa Social Única) não é uma invenção do Governo cá do rectângulo.
Por incrível que pareça a tal taxa, que afinal é imposto, veio de França da terra do general Cambronne, aquele da palavra feia, de cinco letras, que apetece repetir sempre que se fala em política.
Segundo me contaram, o nosso ex-primeiro que fez com que nos atascássemos neste lodaçal mal cheiroso e que agora se pirou e anda por lá a estudar filosofia política, quis complicar mais a vida ao seu sucessor e por intermédio de um amigo infiltrado no PSD, ter-lhe-ia mandado um extracto de um diálogo entre dois ministros de Luís XIV, que ouvira numa peça, Le Diable Rouge, em cena num teatro do Quartier Latin, sugerindo-lhe que se inspirasse nele para sacar mais dinheiro ao Zé.
Verdade ou mentira o certo é que o tal diálogo é inspirador. Ora leiam:
«Colbert: - Chegámos a um ponto que não sabemos a maneira de arranjar mais dinheiro. Agora que estamos cheios de dívidas até ao pescoço, o senhor ministro não sabe dizer-me como arranjar dinheiro para continuar a viver à grande como temos vivido?
Mazarino: - Bom. Um simples mortal, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente!... Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: - Pois é. Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: - Criando outros.
Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: - Sim, é impossível.
Colbert: - E sobre os ricos?
Mazarino: - Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: - Então, como faremos?
Mazarino: - Tu pensas como se não tivesses cérebro, Colbert! Há um grande número de pessoas que estão entre os dois, nem são pobres, nem ricos – é a chamada classe média! Que trabalha mais, sonha enriquecer, e tem medo de empobrecer. É sobre essas classe que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Eles formam um reservatório inesgotável…»
Ironia à parte, esta metáfora política espelha bem a realidade do que se está a passar e as artimanhas de que se servem os governantes para extorquir dinheiro ao contribuinte. Uma cena política actual da qual somos testemunhas e de que, infelizmente, somos também as vítimas.












SERMÕES


Sermões
Aí por volta do ano de 1654, também em tempos azarados, dizia o Padre António Vieira, em S. Luíz do Maranhão no célebre sermão de Santo António aos Peixes:
“Vós, diz Cristo Senhor Nosso, falando com os pregadores: sois o Sal da Terra: e chama-lhes o sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas, quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo nela tantos que têm o ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa de tanta corrupção?
Ou é porque o sal não salga ou porque a terra não se deixa salgar. Ou porque o sal não salga e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque a terra não se deixa salgar e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que eles dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se preparam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?...”
Embora tenham passado séculos, se meditarmos atentamente nas palavras de Vieira não poderíamos nós aplicá-las a estes tempos que estamos a viver e em que os mesmos males estão a corroer a nossa sociedade?
Quando ouvimos os nossos pregadores actuais fazer o contrário daquilo que apregoam, não estarão eles em vez de servirem o Povo, a servirem-se a eles próprios, como diz o sermão de Vieira?
E será o sal que não salga ou a terra que não se deixa salgar? Serão os pregadores que não cumprem o que dizem, satisfazendo apenas os seus apetites ou o próprio Povo que não reage, porque impotente e conformado?!
O certo é que um desacerto entre o que se disse, o que se ouviu e o que verdadeiramente se fez nos conduziu a esta situação perigosa em que nos encontramos.
E sem quaisquer complexos cabe a todos nós, como parte integrante da sociedade assumir a nossa quota-parte nesse descalabro. Uns porque mentiram e tiveram apenas em vista os seus próprios interesses e outros porque pensaram que nuns pais pequeno e pobre com os seus recursos ainda mais diminuídos pela «exemplar descolonização», seria possível vivermos, fazendo de todos os dias uma espécie de “sábado à noite”. Mas não vale a pena referirmo-nos a um quotidiano que todos conhecemos, nem a dar importância a alguns que, embora descrentes de Deus, querem que os tomemos como autores de um futuro, que só existe nas suas ocas cabecinhas!...
Comecei por transcrever o começo do sermão do Padre António Viera aos Peixes apenas para uma pequena reflexão, porque bem precisamos de a fazer.












  



















terça-feira, outubro 30, 2012

CST-IPSS - SEMINÁRIO "VIVER ENTRE GERAÇÕES"



TESTEMUNHO
Há muita gente que tem medo de envelhecer. No meu caso, confesso, que me sinto feliz por ter chegado a esta fase da vida. Ela dá-me a oportunidade de prosseguir o meu desenvolvimento tanto no aspecto pessoal como social. E quanto não vale este livro ilustrado que é a memória com todas as experiências vividas?!...
Por isso aceito o envelhecimento como uma fase da existência terrena de cada ser humano – encaro-o assim como que uma espécie de prolongamento de um projecto inacabado! …
Agora que os sonhos se esfumaram, que as paixões se esvaziaram e que à euforia de outrora sucede a crua realidade do dia a dia, o tempo tem outro encanto, outro sabor e cada amanhecer é uma dádiva que aviva o sentimento da maravilha do ser humano na terra com toda a sua riqueza e diversidade.
E é também uma outra maneira de interiorizar a vida com a alegria de poder participar nas iniciativas que povoam o curso fértil da humanidade através da solidariedade e do voluntariado. 
Mas nem sempre é fácil!...Numa sociedade computorizada e consumista em que se passa o tempo a premir teclas e botões num ritmo alucinante imposto pela informática e pela cibernética, só com força de vontade e determinação se consegue aguentar a corrida desgastante que a maquiavélica máquina exige.
É uma sociedade traiçoeira, esta em que vivemos!...
Ela não se compadece com ninguém, nem mesmo com aqueles que são testemunhas vivas dos laços de família ao longo de várias gerações.
O conflito entre elas agudiza-se em cada dia que passa. O individualismo selvagem e cruel anda à solta; a afirmação pessoal agride; a competição social destrói e a solidariedade entre as pessoas tende a desaparecer.
Por isso são várias as dificuldades com que o idoso se debate e é necessária uma grande força de vontade e uma fé inquebrantável para fazer a integração nessa nova sociedade, sem que tenhamos de abdicar dos princípios básicos daquela em que fomos criados.
Apesar de estarmos na era da globalização, não podemos esquecer que a família continua a ser a célula básica da sociedade.
Durante estes últimos vinte anos foi talvez o período da minha vida em que se desenvolveu mais esta opção individual de reforçar o meu optimismo perante a vida.
O envelhecimento não é uma doença nem uma incapacidade, que nos impeça de ter uma vida produtiva e feliz. Ninguém lhe foge e temos que o encarar como uma realidade.
No entanto, cada um de nós, pode reduzir os seus efeitos através de métodos e preceitos a seguir no dia a dia. Desde a actividade física à alimentação regrada e saudável são várias as formas de envelhecer activamente. A boa disposição é um dos remédios mais aconselhados para enfrentar as inúmeras partidas que o decorrer dos anos nos vai pregando…
Saber rir de nós próprios, conformarmo-nos com a nossa idade e sobretudo ter fé, são também atitudes que ajudam a fazer face às injustiças…
Todos sabemos que os valores económicos aniquilaram os valores espirituais e culturais. Apesar de tudo, em qualquer parte do Mundo há sempre uns Avós nos quais os netos têm muitas vezes, a única referência de estabilidade, de afecto e de carinho.
É por isso que os responsáveis políticos deveriam tomar medidas adequadas de forma a criarem as condições necessárias ao envelhecimento activo e ao reforço da solidariedade entre gerações.
O contributo dos mais velhos para a sociedade é muitas vezes ignorado, assim como é ignorada a sua experiência e os seus ensinamentos que poderiam ser aproveitados e dados como exemplo aos mais novos.
Porém o que acontece muitas vezes é que os idosos são marginalizados pelos jovens, esquecidos pelos adultos e quando não há recursos nem paciência ou são “depositados” em qualquer estabelecimento que cuide deles ou são abandonados, sobrevivendo muitas vezes em condições infra-humanas.
Mas como disse mais atrás e no que me diz respeito, estes últimos vinte anos foram como que uma aprendizagem ao longo dos quais se recreou dentro de mim uma outra maneira de ser e de ver. Foi como também já disse no começo uma espécie de prolongamento de um projecto inacabado, uma continuidade da caminhada mas com a orientação das experiências vividas que me permitiram fazer uma opção individual de reforçar o meu optimismo perante a vida. Aprendi a cultivar o lado bom das coisas, a saborear os pequenos nadas. Aprendi a ver o futuro com esperança a aceitar o passado enquanto autobiografia e a interpretar o presente com confiança.
E logo me apercebi que o diálogo entre gerações é essencial para prevenir a solidão e a exclusão social. E comecei a tentar modernizar-me se assim me posso exprimir. E já com cerca de 60 anos comecei a martelar as teclas do computador. Os meus primeiros professores foram os meus netos. Mas foi com muita perseverança e paciência que aprendi o essencial e posso dizer que hoje sei o necessário para fazer os meus trabalhos de escrita.
Deus tem-me privilegiado no que toca a saúde e o voluntariado é também para mim uma outra maneira de reforçar a minha auto-estima mostrando-me que apesar da idade ainda posso oferecer os meus préstimos aos que deles precisam.
Hoje, logo que acordo, dou graças a Deus pelo dom da vida que ele me tem concedido. Agradeço-Lhe também pela família que tenho. Completei há pouco tempo oitenta e seis anos, e apesar de estar casado há 61 anos como uma Avó, como lhe chamam os meus netos, sinto-me imensamente feliz!
E é sem dúvida isso que me dá força para valorizar os factos e as pessoas numa vivência serena, mas de constante inovação, em que assentam os Verdadeiros Sinais dos Tempos.











CST-IPSS - SEMINÁRIO "VIVER ENTRE GERAÇÕES"




No nosso Concelho, felizmente, há alguma Instituições de Solidariedade Social cujo contributo para a Comunidade vai muito para além de fornecer refeições, fazer apoio domiciliário ou ter um Lar para pessoas velhas. Isso será muito, mas muito pouco na abrangência às respostas sociais que podem ser dadas por essas Instituições e para serem tomadas “medidas para criar as condições necessárias ao envelhecimento activo e ao reforço da solidariedade entre as gerações”, como aliás sublinha o sítio do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações que este ano está a decorrer.
Pelo segundo ano consecutivo, o CENTRO SOCIAL DO TOURIGO veio promover um Momento de reflexão para sensibilizar a opinião pública. No ano passado debateu-se “Coração e Atitude”, este ano e procurando assinalar a preocupação europeia, foi “VIVER ENTRE GERAÇÕES – O Desafio do Nosso Tempo”.
Assim, no passado dia 20, na sede do Centro Social do Tourigo, IPSS, a dinâmica Organização reuniu mais de 100 clientes das respostas sociais do CST, sócios, voluntários, convidados e população em geral.
Se o tema era aliciante, a qualidade dos Prelectores veio reforçar a sua importância.

SESSÃO DE ABERTURA
Após a entrega da documentação, cuja eficiência do Secretariado foi patente, teve lugar a Sessão de Abertura.
Mónica Ferreira da Silva, encarregada do Protocolo, chamou as entidades para a Mesa:
Manuel Ventura da Costa, Presidente da Direcção do Centro Social do Tourigo; Dr.ª. Cecília Fragoso, Vereadora da Acção Social da Câmara Municipal de Tondela; António da Costa Ventura, Vice-Presidente da Direcção do CST; Amadeu da Costa Ventura, Presidente da Junta de Freguesia do Tourigo; Nelson de Matos Almeida, Presidente da Assembleia-geral do Centro e Padre Alcides Vilarinho, Pároco da Freguesia.
Na ocasião, Manuel Ventura da Costa usou da palavra para, em nome do Centro social do Tourigo e da Comissão Organizadora, agradecer a presença dos que quiseram estar ali envolvidos numa tarde de reflexão no “Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade Entre gerações” numa preocupação que deve ser de todos nós.
Agradeceu a participação institucional da Câmara Municipal de Tondela e a presença amiga da Vereadora da Acção Social, Dr.ª. Cecília Fragoso, lamentando que um compromisso de última hora, fora do Concelho, tivesse impedido também a presença do Vice-Presidente da Câmara, Dr. José António de Jesus, pela amizade e mais valia que traria ao Encontro.
Referindo-se à comemoração do Ano Europeu do Envelhecimento activo, salientou a pertinência do Seminário no intuito de sensibilizar a população para uma das maiores conquistas da Humanidade que é o aumento da expectativa de vida. Há no entanto que desfrutar desse prolongamento, vivendo mais, sim, mas com qualidade. A sociedade é preconceituosa em relação aos idosos, o que faz com que, sobretudo na perspectiva política eles sejam marginalizados e por vezes esquecidos. Terminou reiterando os agradecimentos, fazendo votos para que o Seminário servisse para reforçar o antigo provérbio que diz que “velhos são os trapos.”
Cecília Fragoso, na sua intervenção, disse da satisfação de poder estar ali a partilhar uma tarde que se previa rica, já pelo tema, já pelos intervenientes. E estando ali a representar a Câmara Municipal de Tondela e a sua preocupação pelas causas sociais do Concelho, estava também pela amizade e admiração pela Obra Social que o Centro Social do Tourigo vem promovendo, que não lhe poderia ser indiferente como responsável por esse Pelouro.
Felicitou a Organização, lembrou que a Câmara Municipal e concretamente o seu Gabinete, procuram acompanhar sempre com a maior atenção e disponibilidade os problemas sociais do Concelho, terminando por desejar uma boa tarde de Trabalhos.
Terminada a Sessão de abertura, seguiu-se a apresentação dos Temas, de cujos Painéis foi moderador Jorge do Amaral Leitão.

TEMA – GANHOS DAS IDADES
“O PROCESSO DO ENVELHECIMENTO”
Pelo Dr. Carlos Torres, Médico, Mestre em Gerontologia e doutorando em Medicina na área da Neuropsicologia foi descrito ali, em pormenor, todo o processo e razões que levam ao envelhecimento e suas consequências.
Começando por afirmar que “o envelhecimento começa quando nascemos”, o Dr. Carlos Torres lembrou que cada pessoa tem o seu processo de envelhecimento, e que todos, mais tarde ou mais cedo, passam por esse processo, que descreveu com a ajuda de “Powerpoint”.
Sobre as decadências físicas naturais que vão ocorrendo ao longo da vida, afirmou que, no entanto, 1/3 delas podem ser retardadas pelas nossas mãos e pela nossa acção para as contrariar.
Por outro lado, lembrou que para o aumento da média de vida, a retaguarda não está ainda preparada para a acompanhar e lhe dar mais qualidade.

“O GANHO DAS UNIVERSIDADES SENIORES”
O Dr. José Augusto Pereira, licenciado em História, Mestre em Ciências da Educação, tem no seu currículo vasta intervenção na área educativa e é responsável da Universidade Sénior de Rotary do Rotary Clube de Viseu, de que é associado desde 1997.
A acção desenvolvida pela Universidade Sénior de Viseu é de facto uma resposta, e muito positiva, para um envelhecimento mais rico e saudável. E o Dr. José Augusto, ao dar ali conta da importância que tem representado para a Comunidade visiense mais velha, mostrou que ela é um agente importante no envelhecimento activo e culturalmente gratificante.
Mas José Augusto quer ir mais além e trazer para as Universidades Seniores e instituições as experiências, os usos e costumes, formas de artesanato e jogos tradicionais dos mais velhos de um Povo que tem um manancial de coisas para transmitir. É um desafio que merece ser vivido.

“COMO LIDAR COM OS ANOS QUE TEMOS”
A Dr.ª Leonor Martins, com licenciatura em Psicologia Clínica e Pós Graduação em Gerontologia, trouxe à reflexão a nossa postura para lidar com a idade, ou melhor, com as três idade que fazem parte da nossa vida e em que cada uma há um caminho a percorrer, mas também opções para a caminhada.
A idade não perdoa, costuma dizer-se, mas a Dr.ª. Leonor Martins lembrou-nos que não há idade para nos descobrimos, porque a vida não tem idade. A idade está na nossa cabeça e na forma como podemos e devemos tirar de cada etapa o melhor proveito.
De forma brilhante, enquadrou e completou as intervenções anteriores.

 TEMA – O DESAFIO DE ENVELHCER – TESTEMUNHOS PESSOAIS

“ AS OPORTUNIDADES DO ENVELHECIMENTO ACTIVO”
Manuel Ventura da Costa, Presidente da Direcção do Centro Social do Tourigo, Director do Jornal de Tondela e senhor de um invejável currículo, grande parte dele por ocupação no estrangeiro, granjeou amizades, ganhou títulos honoríficos e é um exemplo de vida pela sua forma constante de dar de si, um desafio permanente de partilha, de voluntariado e de preocupação para com os demais.
Foi rica a partilha que ali deixou, porque ela representa sobretudo o seu modo de estar na vida, de aceitar que o “envelhecimento como uma fase da existência terrena de cada ser humano – é assim como que uma espécie de prolongamento de um projecto inacabado…”. Defensor intransigente dos “Valores” e da família como “célula básica da sociedade”, Manuel Ventura da Costa não vê o envelhecimento como uma doença nem como uma incapacidade, antes um desafio, que aliás está bem patente no seu dia a dia e ali esteve bem presente no seu testemunho, a que juntou sua Mulher na rica e longa caminhada a dois.
INSPECTOR MANUEL VELLOSO
Presidente da ANAFS – Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias, tem ao longo da sua brilhante carreira humanitária quer no Serviço Nacional da Protecção Civil, Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, Bombeiros Voluntários e, ainda, mais de 20 missões de assistência humanitária desde a Roménia, Turquia, Timor ou na catástrofe do Tsunami um admirável currículo. Quase que em conversa entre amigos, o Inspector Velloso contou a “história da sua vida”, história de uma vida muito rica, com muito risco, com encontro entre gerações, principalmente em graves situações onde as intervenções humanitárias eram requeridas.
Mas bela e interessante é também a sua vida familiar, que nos transmitiu como quem conta um conto.
A completar uma tarde de “descoberta” no caminho da vivência entre gerações, foi grato colher ali os testemunhos de Manuel Ventura e Manuel Velloso a completarem, e de que forma, os contributos para os desafios que se deparam no nosso tempo.

PERGUNTAS E RESPOSTAS – DEBATE
Terminada a “missão” da Mesa, teve lugar um período de perguntas e respostas vindas da plateia, o que permitiu esclarecer algumas dúvidas, aclarar a mensagem, comentar ou partilhar atitudes e “declarar” a satisfação pela riqueza vivida durante a tarde.

ENCERRAMENTO
Terminados os trabalhos, Manuel Ventura da Costa encerrou a sessão agradecendo a todos os presentes, a todos os funcionários da Instituição, aos patrocinadores e aos habitantes da Freguesia que muito têm ajudado a Instituição. Terminou com um conselhos aos novos: Quando a velhice começar a rondar a vossa porta, não deixem que ela vos escravize e vos transforme num amontoado de ossos enferrujados. Mexei-vos, e se a saúde o permitir, ajudai quem precisa. Lembrai-vos que “ a idade não é aquela que a gente tem, mas sim aquela que a gente sente.”
JAL
In Jornal de Tondela – Edição 1124 de 02 de Novembro de 2012                                                                                                                                                                                                                                                                                    



CST - IPSS - SEMINÁRIO "VIVER ENTRE GERAÇÕES"






EU SOU...



Eu sou os livros que leio, os lugares que conheço, as pessoas que amo.

Eu sou as orações que faço, as cartas que recebo, os sonhos que tenho.

Eu sou as decepções por que passei, as pessoas que perdi, as dificuldades que superei.

Eu sou as coisas que descobri, as lições que aprendi, os amigos que encontrei.

Eu sou os pedaços de mim que levaram, os pedaços de alguns que ficaram, as memórias que trago.

Eu sou as cores que gosto, os perfumes que uso, as músicas que ouço.

Eu sou os beijos que dei, sou aquilo que deixei e aquilo que escolhi.

Eu sou cada sorriso que abri, cada lágrima que caiu, cada vez que menti.

Eu sou cada um dos meus erros, cada perdão que não soube dar, cada palavra que calei.

Eu sou cada conquista alcançada, cada emoção controlada, cada laço que criei.

Eu sou cada promessa cumprida, cada calúnia sofrida, a indiferença que se formou.

Eu sou o braço que poucas vezes torceu, a mão que muitas vezes se estendeu, a boca que não se calou.

Eu sou as lembranças que tenho, os objectivos que traço, as mudanças que sofrerei.

Eu sou a infância que tive, sou a fé que carrego e o destino que reinventei."

Autor desconhecido (ou talvez não)

sábado, setembro 08, 2012

CALAR...NUNCA!





A propósito da minha crónica da semana passada telefonou-me pessoa amiga dizendo-me que deveria ser mais “meigo” quando me refiro à nossa classe política. É que – dizia ele – nada ganhas e só angarias inimizades.  
Agradeci, mas logo informei que era coisa que não poderia prometer e isso por várias razões. A primeira, porque tudo o que escrevo acerca da classe, é verdade, ressalvando, claro, algumas excepções. Depois, porque, (Soares dixit) toda a gente tem direito à indignação. E a terceira é porque nunca pactuei com a hipocrisia e não gosto de bater palmas na rua e, janelas fechadas, criticar ou maldizer quem quer que seja. Fui, sou e continuarei a ser frontal. Sem papas na língua. Quando alguém se sentir atingido pelos meus desabafos nada mais tem a fazer do que responder. Eu cá estarei para me defender.
O que não posso é calar o que me vai na alma. E uma parte – ainda que pequena – da situação a que chegámos é também filha da acomodação de muitos. Como todos sabemos grande parte dos cidadãos deste país acoberta-se temerosamente num silêncio cúmplice e vergonhoso. Os membros dessa ‘irmandade’ têm “rabos-de-palha” e por isso evitam provocar faíscas, não vá o diabo tecê-las. E calam-se!...
Não é preciso nenhum diploma universitário nem mesmo daqueles que
se obtêm ao Domingo ou por inerência do cargo que se ocupa, para perceber a marosca, para não lhe chamar roubalheira.
Analisem com atenção uma factura da água, de electricidade ou de qualquer outro serviço público. Verifiquem o total. Vejam o que realmente gastaram e subtraiam os impostos – a fatia que vai para o Governo. Nalguns casos é mais do dobro, que vai servir para satisfazer a cupidez pelo poder e a ganância pelo dinheiro de uns tantos fulanos!...
E se falarmos noutros impostos, em Ivas em Imis, no dos combustíveis, etc., etc., então a coisa ainda pia mais fino.
Que paguemos o que gastamos e mais uma percentagem normal para remediar a despesas próprias dos serviços, entende-se. É normal e justo. Agora pagar o que não gastámos nem desviámos e alimentar uma classe parasitária a maior parte sem prática de vida sem experiência, sem uma pequena amostra de solidariedade para os que menos têm, isso não!
Podemos dizer, sintetizando, que temos tido uma política que assenta num diabólico binómio – prejuízos públicos, lucros privados. Será que alguém me desmente?
Para terminar, gostaria de transcrever as palavras de Adriano Moreira – uma referência a todos os níveis – proferidas há dias na Universidade de Verão do PSD: “Há um limite, que é a fadiga tributária, e nós não podemos atingir esse ponto. Qualquer responsável tem de estar muito atento a isso porque a prova de civismo da população tem sido enorme. Há manifestações sempre com uma ordem que, com o que tem acontecido na Europa, é exemplar, mas tem de se pensar neste ponto. A fadiga tributária é um facto que não pode ser ultrapassado…”
































EI-LOS QUE CHEGAM...




Não obstante o facto de possuirmos uma Língua riquíssima e com um vocabulário abundantíssimo, nós, como bons imitadores que sempre fomos, e esguichando engenho e arte por todos os poros, quando não imitamos... copiamos.
E vai daí, com esta nossa bazófia de querer mostrar ao mundo que somos os melhores, lá fomos surripiar o termo e, como a história do gato maltês que tocava piano e falava francês, passámos a designar o regresso dos nossos políticos ao seu "bem-bom," pelo vocábulo francês rentrée...
Não sabemos quando nem quem se apropriou da palavra. Mas quem o fez não era estúpido de todo!... É que a palavra rentrée, segundo Pierre Larousse, – o lexicógrafo francês bem conhecido de todos nós – emprega-se, essencialmente, no sentido de rentrée des classes, isto é, o regresso das crianças à escola! 
Portanto, quem pela primeira vez empregou o termo sabia o que fazia e deu-lhe a interpretação devida! Então não são quase todos os nossos políticos umas crianças grandes que cresceram por fora e continuam anões por dentro?!... Ou dito de outra maneira: não são alguns dos nossos políticos, meninos imberbes ou de caricatas barbichas, mimados, troca-tintas encartados e completamente alheios à realidade da vida?!...
Assim sendo, venha então a escola. Que eles bem precisam de lições. Mas qual o quê?...
Infelizmente, a vontade de aprender, de conhecer, de bem administrar, de bem gerir, parece não ser apanágio da classe.
Mas viva a rentrée!... E foi festa aqui, comício acolá, e convívio mais além. Foi marisco no litoral, feijoada no interior, tripas no Norte e cataplana no Sul. Foi fanfarra na aldeia, Boys-Band nas cidades, mas sempre tudo programado de maneira a que a televisão mostrasse o interior do chapiteau com todos os artistas: palhaços, domadores, trapezistas, engolidores de espadas, ursos amestrados e a respectiva moldura humana com figurantes ensaiados e basbaques que batiam palmam muitas vezes sem saberem porquê!
Viva a rentrée! Ei-los que chegam! Bronzeados, palradores, aí estão de novo os charlatães – sorridentes e palavrosos, maletas cheias de nada, prontos para venderem mais uns quilos de banha de cobra. Ei-los que chegam. Contentes, morenaços, descomplexados, eles aí estão de novo e com o seu nacional-porreirismo ao mais alto nível!
Não há diferenças entre eles, seja qual for a ideologia que adoptem. E a nossa recente história política é bem clara – quando se trata de dinheiro toda a gente é da mesma religião.




  
 




EI-LOS QUE CHEGAM...

Não obstante o facto de possuirmos uma Língua riquíssima e com um vocabulárioabundantíssimo, nós, como bons imitadores que sempre fomos, e esguichando engenho e arte por todos os poros, quando não imitamos... copiamos.
E vai daí, com esta nossa bazófia de querer mostrar ao mundo que somos os melhores, lá fomos surripiar o termo e, como a história do gato maltês que tocava piano e falava francês, passámos a designar o regresso dos nossos políticos ao seu "bem-bom," pelo vocábulo francês rentrée...
Não sabemos quando nem quem se apropriou da palavra. Mas quem o fez não era estúpido de todo!... É que a palavra rentrée, segundo Pierre Larousse, – o lexicógrafo francês bem conhecido de todos nós – emprega-se, essencialmente, no sentido de rentrée des classes, isto é, o regresso das crianças à escola! 
Portanto, quem pela primeira vez empregou o termo sabia o que fazia e deu-lhe a interpretação devida! Então não são quase todos os nossos políticos umas crianças grandes que cresceram por fora e continuam anões por dentro?!... Ou dito de outra maneira: não são alguns dos nossos políticos, meninos imberbes ou de caricatas barbichas, mimados, troca-tintas encartados e completamente alheios à realidade da vida?!...
Assim sendo, venha então a escola. Que eles bem precisam de lições. Mas qual o quê?...
Infelizmente, a vontade de aprender, de conhecer, de bem administrar, de bem gerir, parece não ser apanágio da classe.
Mas viva a rentrée!... E foi festa aqui, comício acolá, e convívio mais além. Foi marisco no litoral, feijoada no interior, tripas no Norte e cataplana no Sul. Foi fanfarra na aldeia, Boys-Band nas cidades, mas sempre tudo programado de maneira a que a televisão mostrasse o interior do chapiteau com todos os artistas: palhaços, domadores, trapezistas, engolidores de espadas, ursos amestrados e a respectiva moldura humana com figurantes ensaiados e basbaques que batiam palmam muitas vezes sem saberem porquê!
Viva a rentrée! Ei-los que chegam! Bronzeados, palradores, aí estão de novo os charlatães – sorridentes e palavrosos, maletas cheias de nada, prontos para venderem mais uns quilos de banha de cobra. Ei-los que chegam. Contentes, morenaços, descomplexados, eles aí estão de novo e com o seu nacional-porreirismo ao mais alto nível!
Não há diferenças entre eles, seja qual for a ideologia que adoptem. E a nossa recente história política é bem clara – quando se trata de dinheiro toda a gente é da mesma religião.




  
 




domingo, agosto 26, 2012

UM PAÍS QUE VAI MORRENDO AOS POUCOS



O tempo voa, os anos vão-se amontoando e não só a capacidade intelectual vai diminuindo como também se vai esgotando a paciência para enfrentar esta onda de oportunismo e de espírito mercenário. 
E se não há dia em que não confie ao meu diário as minhas angústias, as minhas frustrações, as minhas alegrias, as minhas desilusões e também as minhas esperanças, o certo é que, à medida que eles passam, a vontade de as exteriorizar e confessá-las publicamente, vai-se esgotando a pouco e pouco. Embora dotado de um espírito aberto e gregário, sempre me repugnou uma certa espécie de promiscuidade. Não no capítulo das ideias porque nunca diferenciei raças, castas, credos ou ideologias. Porém, em questões de ética e dos seus princípios, mal o seu desrespeito se vislumbra, não há gregarismo que resista.
Infelizmente, há que admitir que está assim o mundo em que vivemos. Fútil e traiçoeiro. Vive-se num pantanal de cinismo. Rodeia-nos uma floresta onde a hipocrisia cresce sem parar. E como teia de aranha, ela estende-se a todos os ramos. E nessa urdidura de ambições, louva-se ou condena-se, incensa-se ou conspurca-se, conforme os interesses em causa. E quase sempre sem olhar a consequências, nem avaliar possíveis danos morais. É uma espécie de luta sem regras onde tudo é permitido para se chegar à vitória.
E neste universo de interesses inconfessáveis cresce a olhos vistos a vontade de ser deus de qualquer coisa. E é assim, e dessa maneira, que o nosso dia a dia está cheio de especialistas analfabetos e de vigaristas transformados em heróis.!...
Desviei-me talvez um pouco do tema inicial desta crónica, mas é muito difícil, ao abordarmos qualquer assunto, mantermo-nos imunes e alheios a toda esta balbúrdia que nos rodeia. Numa sociedade materialista e desumanizada é impossível fugir às ondas de choque motivadas pela derrocada dos seus valores. Daí as minhas zangas e desavenças constantes com esta "democracia por turnos" que caminha de braço dado com esta degradação galopante dos princípios que deveriam nortear o seu funcionamento. Uma democracia já com idade para se portar como adulta, mas que no seu percurso continua traquina, inconstante, leviana e irresponsável. Tudo é jogo e espectáculo. O palco está a abarrotar de pedantes e ambiciosos.
Há teóricos, tecnocratas e doutores por toda a parte. Mas cada vez menos gente que trabalhe. São cada vez mais os barrigudos e com contas bancárias tão dilatadas como os seus ventres!
O povo português tem ideal, é arrojado, tem vontade e tem mostrado que é capaz de igualar outros povos; mas os exemplos que vêm de cima são tão maus, que tiram a esperança ao mais optimista.








domingo, julho 29, 2012

AINDA FALANDO DE BURROS...



Ainda a propósito do assunto da minha crónica anterior, já nos longínquos tempos da minha meninice havia em certas localidades um ferrador, que era um indivíduo que tinha como profissão tratar do “calçado” das alimárias, mais especificamente dos cavalos e das éguas. 
Quando o homem começou a servir-se destes animais para executar os seus trabalhos, tanto para a sua própria locomoção como para o trabalho da agricultura, apercebeu-se que o ponto fraco dos bichos era o casco – as unhas dos solípedes.
Em terreno pedregoso, por vezes, os cascos sofriam cortes e impossibilitavam os animais de cumprir as suas tarefas, chegando mesmo a obrigar à sua imobilização.
Era, por isso, necessário protegê-los. Para o efeito, e segundo livros antigos, teriam sido feitas diversas tentativas com o material da época, como couro, cordas, etc., até que surgiu o ferro que foi moldado no formato dos cascos, e que deu origem àquilo a que passou a chamar-se ferradura.
A ferradura era colocada na forja e, quando incandescente, era batida na bigorna e ajustada ao casco do animal. Seguia-se depois a sua aplicação por meio de cravos, uma espécie de pregos, que sem ferir o animal, a seguravam.
Parece que estou ainda a ver o senhor José ferrador, de avental de couro, martelo em punho, batendo o ferro e moldando sobre a bigorna, a ferradura incandescente para aplicar nos cascos do animal – cavalo ou égua – que, pacientemente, esperava “os sapatos” novos encurralado, entre duas tábuas!
Não me lembro de ter visto ou ouvido dizer que igual forma de calçado tivesse sido aplicado, na minha região, quer a um jumento, quer a um burro e sempre atribui tal facto à falta de “linhagem” dessa categoria de solípedes que eram considerados de segunda classe. Cavalo é cavalo, e burro é burro. Nada de confusões…
E como o burburinho dos diplomas e das “licenciaturas relâmpago” ainda não cessou, lembrei-me daquela historieta passada no tempo em que os animais falavam. E era assim... Havia um ricaço que apesar de todo o seu dinheiro, não sabia ler nem escrever. Um dia disseram-lhe que tinha aberto uma repartição do Estado onde vendiam certificados de doutor mediante o pagamento de uma avultada soma.
O homem informou-se, e um dia apresentou-se no local onde, em troca de um saco de ouro, lhe deram um título de doutor. Na volta, logo avisou o cavalo: “Cautela com os tropeções. Agora que sou doutor, cuidado com o trote…” O cavalo engoliu em seco e logo pensou em ir também comprar um certificado igual para ficar à altura do dono. E foi. Mas não o obteve, pois logo o informaram “que não... que não, que esses diplomas especiais e instantâneos não se destinavam a cavalos. Eram só para burros...”. Qualquer semelhança entre esta historieta e o que recentemente se tem passado cá no rectângulo no que diz respeito a licenciaturas pode não ser mera coincidência.

























O SENHOR DOUTOR SABE ASSINAR?



O senhor doutor sabe assinar?...
Hoje, aliás como todos sabem, ideologicamente falando, as palavras esquerda, direita e centro já não existem. E se ainda constam dos dicionários, na política, esses vocábulos perderam completamente o seu verdadeiro significado.
Não há diferenças entre eles. Os três passaram de antónimos a sinónimos, e juntos, representam um conjunto de interesses, divergindo apenas nas respectivas siglas.
O objectivo comum dos seus usuários é o estatuto pessoal. Cada qual tenta à sua maneira tratar da sua vidinha e a dos outros, a do povo que ainda trabalha, que se lixe.
Infelizmente chegámos a um ponto em que não podemos confiar em nenhum dos representantes partidários que tomam assento nas fofas cadeiras da Assembleia da República.
Aqui há tempos ainda podíamos apresentar excepções ou tomar fulano ou sicrano como exemplos a seguir para conseguirmos sair deste lodaçal para onde nos empurraram. Agora acabaram-se as excepções e os exemplos. Parece haver uma espécie de combinação entre todos – governo e oposição – e os ataques e insultos que vemos ou ouvimos entre eles são apenas uma espécie de fogo de artifício para pôr a malta a olhar para o ar e esquecer o que se passa a seus pés.
Estamos numa época em que vale tudo, Tudo é permitido, tudo é perdoado. Mas só aos graúdos, que o pequenito paga tudo com língua de palmo. E que bem falam, que carinhosos são os nossos políticos quando querem adormecer o Zé!...
É vê-los arengando a arraia miúda, arvorados em defensores dos desempregados, dos pobres, dos velhos, dos desprotegidos da sorte, dos sem abrigo, prometendo mundos e fundos, mas sem repartir com eles quaisquer sobras dos seus lautos banquetes!
Fala-se muito em moralizar o Estado. Fala-se… São palavras ditas, mas sem vontade de concretização, porque isso não interessa a nenhum dos partidos. Há que dizê-lo sem medo, porque é a verdade.
Quando os políticos confundem o seu papel com o dos grupos económicos e querem fazer dos partidos empresas privadas onde podem colocar quem bem lhes apetece e talhar os seus ordenados e fazer leis à medida da sua ganância, está visto que não podemos esperar melhores dias.
O recente caso da “licenciatura relâmpago” de um dos nossos ministros é um exemplo flagrante deste folclore político e da degradação que se instalou cá no rectângulo. Se este facilitismo continua, não é de excluir que dentro de uma década, na tomada de posse de qualquer “filho da nação”, o senhor do protocolo, de caneta em riste, não tenha de lhe perguntar: “O senhor doutor sabe assinar?...


















sexta-feira, julho 20, 2012

EM DIA DE ANIVERSÁRIO

 


Lá vão oitenta e seis anos –
Um longo caminho andado,
Com alegrias e desenganos,
Caminhando de braço dado.
Oitenta e seis anos, tanto tempo!...
Tanta alegria e lamento,
No meu peito!
Tanta chama que se apagou,
Tanto desejo que ficou,
Insatisfeito!

Até as lágrimas de outrora,
Gotas de água tão sorridentes…
Porquê, meu Deus, as lágrimas d’ agora,
São tão tristes e são tão dif’rentes?
Ah! Meus sonhos de menino,
Que a esperança embalava
E aquele mundo pequenino
Que o meu coração albergava!...

Não havia noite,
Era sempre dia,
Era tudo esp’rança,
Era tudo alegria.
Era a Primavera em flor,
Era sempre sol nascente
E no coração da gente
Havia sempre calor!

Mas o tempo,
Como o vento,
Soprando,
Foi meus anos levando!...
Daquele bebé rosado
Que há oitenta e seis anos nascia
É um senhor já muito usado
Que se festeja neste dia.

Perdeu a pena o perdigão
E tudo já o tempo levou…
E de um jovem rapagão
Vejam lá o que ele deixou:
Uma carcaça enferrujada
Donde o caruncho esguicha
Uma coisa velha, enrugada…
Tudo encolhe, nada espicha!...

Eu venho de longe e estou cansado
De tanta luta, tanto desengano…
Mas sempre optimista e esperançado,
Espero voltar a ver-vos pró ano!... 

quarta-feira, junho 13, 2012

V ENCONTRO DOS EX-ALUNOS DO TOMAZ RIBEIRO


  
Neste V encontro começamos por nos servir de parte de um poema, de  uma colega, a poetisa Maria da Conceição, que este ano, por afazeres pessoais inadiáveis, não pode estar presente: «Mística de persistentes / Que teimam viver, contentes / Um dia de cada vez… / Este vai ficar gravado, / De recordações, ornado, / Dia nove. Junho, o mês.»
«Piano toca a alvorada, / Que, neste fim de jornada, / Estar aqui, é privilégio! / Meus amigos, que saudade / Dos tempos da mocidade / E do velhinho colégio…»
Poderíamos ficar por esta introdução, pois nela está o verdadeiro objectivo que é o de reviver, ainda que fugazmente, esses tempos já bastante longínquos caracterizados por uma verdadeira, sã e duradoira amizade!
E como dissemos no ano passado, lá nos encontrámos – mais barriga, memos barriga, aprumados ou coxeando, a aiveca do arado do tempo não parou na sua contínua destruição!
Menos que no último encontro de Outubro de 2011, – a maior parte ausente por questões de saúde – foram horas em que se reviveu o passado voltado atrás no tempo numa viagem de saudade, ternura e muita amizade. Aos da década 40-50 também se juntaram outros de tempos mais recentes, partilhando toda em conjunto essa alegria própria do reencontro de amigos da nossa infância.
O encontro começou com uma missa em acção de graças e em sufrágio dos colegas que já nos deixaram, celebrada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo e acompanhada por um magnífico Grupo Coral, a que desde já felicitamos e agradecemos. O nosso bem-haja também ao celebrante e às suas palavras alusivas ao nosso encontro.
Seguiu-se a fotografia da praxe desta vez com um fundo diferente – o Palácio da Justiça, o que motivou alguns comentários com muito humor à mistura. A idade pode ser muita, mas a boa disposição tem se mantido, malgré tout!...
No almoço, servido no memo local do ano passado, poder-se-á dizer que se falou mais do que se comeu, apesar da variedade e abundância dos petiscos. Havia muita conversa a pôr em dia, muita pergunta acerca dos que faltaram este ano. E também muitas histórias a relembrar e a evocar com saudade.
E como cantou João Sá, dedilhando a viola, e em jeito de balada coimbrã: «Colégio tem mais encantos / Tantas décadas passadas / Nos nossos cabelos brancos / Saudades acumuladas…/»
Este ano foram vinte e dois os colegas que, pessoalmente ou por telefone, justificaram a sua ausência, quer por motivo de saúde, quer por compromissos já agendados para o dia.   
Para o ano, se Deus quiser, reviveremos estes momentos ficando desde já todos convidados – os menos novos e os novos, que queiram associar-se.

sexta-feira, maio 25, 2012

DESABAFO


Por que será que este sentimento de fuga me invade cada vez com mais intensidade? Será a necessidade de esvaziar esta arca velha, de desabafar, de fugir de mim mesmo, de afastar o pensamento de toda esta balbúrdia que me rodeia e me incomoda e de criar à minha volta, um mundo novo, com gente a sorrir, sem pressas e sem competições? Utopia?!... Que o seja, mas sinto muitas vezes esse impulso de reinventar outro mundo!
E nesse desejo, nessa ânsia, muitas vezes, sem me aperceber, esqueço-me de mim mesmo e invento outra personagem. Totalmente diferente. Uma silhueta quase irreconhecível, uma espécie de fantasma, que pouco dura e que acaba por desaparecer submersa nas vagas da minha própria imaginação.
É difícil fugir da aparência, da fachada, da máscara com que disfarçamos uma felicidade que nunca atingimos. É sempre difícil se não impossível despir completamente a indumentária que vestimos ao longo de muitos anos.
E é também difícil localizarmos no nosso imaginário aquele momento mágico em que nos foi oferecida a ocasião de optar, de escolher o rumo certo, aquele que agora, depois desta longa distância percorrida, pensamos teria sido o ideal... 
Mas será que alguma vez na nossa adolescência nos apercebemos desse momento enigmático, dessa encruzilhada de caminhos que a vida nos mostrou para podermos escolher o tal rumo certo?!...
É curioso como apesar de todos estes anos de peregrinação por este vale de lágrimas, esta ânsia de reinventar um outro caminho que não o percorrido, continue, de vez em quando, a atravessar-se nos meus pensamentos, colocando dúvidas e interrogações difíceis de satisfazer!
É curioso também que mesmo numa idade avançada se continue a sonhar e a ter pesadelos. Sobretudo pesadelos, porque os sonhos, quanto a mim, têm uma grande lógica interna e uma grande coerência interior. Eles permitem-nos, enquanto duram, de alimentar esperanças dando-nos alento e reforçar ainda que ficticiamente, a nossa auto-estima.
Todos nós temos virtudes e defeitos tornando-se por isso, e à medida que o tempo vai passando, mais importante consciencializarmo-nos das nossas imperfeições. Bem sei que nesse turbilhão de ideias, nesse emaranhado de interrogações e sem possibilidade de voltar atrás, nos resta apenas dominar os sentimentos e substituir as tendências negativas pelas tendências positivas, lutar, reeducando-nos para a felicidade. Não a felicidade completa, mas aquele estado de alma que nos proporciona todos os dias a alegria de viver em paz connosco, sem ódios, sem remorsos, sem alimentar sentimentos de inveja pelo vizinho do lado que é mais poderosos e rico.
Às vezes ando ás voltas dentro de mim, e mesmo consciente de que por mais voltas que dê não vou para lado nenhum, tento recriar, baseado no passado, um caminho diferente. Porém, como o passado, não se refaz, não se recria, mas também não se pode abjurar, volto ao ponto de partida – às interrogações, às reticências. E é sempre com elas, com reticências  que termino estas minhas incursões àqueles momentos, a esse tempo que parou no tempo – ao meu tempo de menino…






sexta-feira, maio 11, 2012

RABISCANDO...


Apesar de ter tido bons mestres, se me pedissem para escolher aquele que mais e melhor me ensinou, eu responderia sem hesitação que foi na escola da vida que mais aprendi.

E foi nos seus bancos, espalhados um pouco por toda a parte – em casa, no campo, longe da Pátria, trabalhando, desesperando, esperançado, desiludido, mas sempre confiante, que compilei a sebenta com as mais importantes lições que me têm ajudado a passar de ano. E com boa média!...
E durante essas aulas, quase sem me aperceber, e à medida que o tempo se ia escoando ora sob um céu pardacento, ora sob um céu azul sem nuvens, as folhas foram-se enchendo, e o livro da minha existência foi-se avolumando.
Hoje, as suas páginas constituem este aglomerado de factos que sou, repartido em três volumes já escritos- Primavera, Verão e Outono.
O outro, o Inverno, já vai muito adiantado, mas continuo a trabalhar nele afincadamente, tentando superar com paciência e optimismo o que já me vai faltando em talento!
E, dia-a-dia, linha por linha, sozinho, neste cubículo, nesta espécie de cafarnaum, cá vou passando o tempo rabiscando, amontoando emoções, sentimentos, a maior parte para escárnio de novos e consumo de velhos.
Mas não esmoreço, nem me dou por vencido. Nesse aspecto sigo as palavras de um escritor francês cujo nome não me ocorre agora, mas que já mencionei noutros textos. Disse ele que “escrever é falar sem ser interrompido.” E é a adopção dessa espécie de lema que me dá ânimo, que me dá força para extravasar, através do papel, o que me vai na alma.  
Quando se chega a uma certa idade começam a escassear as pessoas com as quais poderíamos trocar impressões ou simplesmente cavaquear. Não é recente tal facto, mas nos tempos que correm e em que a tecnologia tenta por todas as maneiras possíveis e inimagináveis apossar-se do homem e até escravizá-lo, primeiro dá-se atenção à máquina e só depois ao homem!..
E então quando se trata de velhos, essa falta de tempo ou de paciência atira-nos para as prateleiras, onde, se não estivermos atentos, depressa e só o pó se encarrega de nos visitar.
E é muitas vezes por isso, para não me deixar transformar em mera relíquia ou objecto de estimação visitado apenas por qualquer espanador ocasional, que estabeleço este monólogo com o papel…ou melhor, com a máquina!
Quando quero livrar-me dos ecos deste palavroso e nauseabundo lixo político que me fere os tímpanos, desligo e entretenho-me a rabiscar.









domingo, abril 29, 2012

DRAMAS DO NOSSO QUOTIDIANO

Eram para aí seis da manhã quando saiu. O dia estava chuvoso e frio, daqueles dias que apetece ficar em casa. Não à lareira, porque não tinha lenha, mas para ficar enrolado na manta a enganar o frio e a olhar pelo buraco do plástico que, à míngua de dinheiro, servia de vidro na janela que dava para a rua. Há dois anos que estava desempregado. Graças aos vizinhos lá ia sobrevivendo com a mulher e os dois filhos. Deixara de fumar, porque “quem não tem dinheiro, não tem vícios”, disse-lhe a mulher. E largou o cigarro. Mas naquele dia o que lhe apetecia era um cigarrito. Com o anúncio do Jornal amarrotado no bolso e na esperança de conquistar o lugar, precisava de qualquer coisa para lhe acalmar os nervos. Lembrou-se de tomar um café, mas se o fizesse, o dinheiro não chegaria para o autocarro. Desistiu e continuou a caminhar até à paragem sempre a pensar como seria o amanhã com um bom emprego e dinheiro no bolso no fim do mês!... Ao chegar, e como havia já uma grande fila, resolveu continuar a andar. Não estava muito longe e sempre ia aquecendo os pés. E, de contente, até cantarolou umas canções, coisa que há muito não fazia. O trabalho que pediam no anúncio era o que fazia no emprego em que trabalhara umas dúzias de anos. Não lhe faltava experiência e chegou mesmo a convencer-se que o lugar seria dele. E os projectos começaram a invadirem-lhe a mente: o primeiro salário seria para pagar a dívida na mercearia. Depois viria a saúde. Os miúdos precisavam de ir ao médico e a mulher andava há tempos a queixar-se duma dor no peito. Iria também. A seguir daria uma volta na casa. Chovia no quarto dos garotos, as janelas não tinham vidros, e compraria também roupa e calçado. Pagaria as facturas atrasadas da luz, compraria um frigorífico novo… Ah! E compraria mochilas para os filhos levarem os livros para a escola…Enfim, graças a Deus, esperava-o uma vida nova! Entretanto chegou à Empresa que tinha posto o anúncio e onde, com certeza, iria concretizar o seu sonho, arranjar amigos e, quem sabe, subir até de posto! Sentia-se já em terreno familiar. Deu os bons dias à menina da recepção, disse ao que ia, mostrou o anúncio e, solícito, ia obedecendo aos pedidos da funcionária: bilhete de identidade, composição familiar, experiência… Mas de repente uma nuvem negra interpôs-se entre os dois: - «Tenho muita pena – disse ela – mas a idade…» E ele nem queria acreditar! Então com cinquenta anos era já considerado inútil à sociedade? E todos os sonhos morreram. Começou então a percorrer as ruas para matar o tempo até que a noite chegasse…Queria entrar em casa sem que ninguém o visse e, às escuras, chorar à vontade.

SUPERSTIÇÕES

Segundo me confidenciou um amigo, – que milita na ala esquerda por via dos euros, mas que tem o coração mais à direita do que o mais direitista dos cidadãos – parece que só de pronunciar ou escrever o seu nome, pode contrair-se uma espécie de doença incurável ainda mais mortífera do que a provocada pelo mais desconhecido e terrificante vírus! São vários os nomes atribuídos aos “portadores”desse “mal”, mas os intelectuais fazedores de rótulos atribuíram-lhe um que no seu entender simboliza o que há de pior e mais contaminante sobre a terra: - salazaristas! Claro que eu não acredito nessas patranhas de contaminação, mas é sempre bom, (permitam-me a metáfora) calçar luvas, munir-se de pinças, pôr uma máscara, e estar preparado para o pior, não vá o diabo tecê-las. Apesar de o homem estar morto, enterrado, com sete palmos de terra por cima, a avaliar pelo medo que ainda suscita no imaginário de muita gente, nunca é de mais tomar as devidas precauções. Esta espécie de “agoiro” já vem de longe, mas ultimamente raro é o dia em que não se evoque o seu apelido – uns para o incensar outros para o denegrir. Embora a “borracha” e as “tintas” de Abril tenham conseguido apagar, disfarçar ou esbater um pouco as sete letras do nome, nem assim as “consciências” (ou as conveniências?!...) de alguns deixam de atribuir ao falecido todas as desgraças por que temos passado nestes últimos anos. Mudaram-se nomes de pontes, de ruas, suprimiram-se livros na escola, cortaram a cabeça do seu busto, mas nem assim o seu fantasma deixou de perseguir uma boa parte dos habitantes cá do rectângulo! De vez em quando e a pretexto de escamotear qualquer trafulhice ou no intuito de desviara a atenção ou anestesiar o Zé para mais uma tosquia, “desenterra-se” o homem e aí vai disto... Agora, o “fogo” voltou a reacender-se. Serviu de rastilho o facto de o autarca de Santa Comba Dão, João Lourenço, anunciar o lançamento de uma marca de vinho à qual vai dar o nome de “Memórias de Salazar, ligando “um nome conhecido em todo o mundo aos produtos da terra”. Ainda segundo o mesmo a ideia visa também angariar fundos para a “recuperação da área urbana do Vimieiro ligado ao património que lhe pertencia…” Por mais que tente compreender a razão de tanto burburinho sempre que se fala no falecido, ainda não consegui saber quais os proventos resultantes de tanto barulho! Incapazes de trabalhar para construir um futuro melhor, essa gente passa o tempo a fazer interpretações infantis, tentando desvirtuar o passado. Tudo o que de bem ou de mal se diga ou escreva acerca do homem que nos legou a “pesada herança” não apagará o seu nome das páginas da História. E tudo o que se tem dito, escrito ou ouvido, quer a favor, quer contra, tem apenas servido para espevitar a curiosidade daqueles que apenas conheciam a música de ouvido… Hoje, porém, muitos já sabem ler a pauta, interpretar as notas e fazer comparações. E é justamente por isso, para evitar comparações, que muita gente não quer, não gosta, nem está interessada em que certas facetas da sua vida sejam conhecidas. «Antes de deixar o Poder quero sacudir os bolsos e de todo esse tempo que estive à frente dos destinos da Nação, nem mesmo pó eu quero levar…» – disse um dia Salazar. E como o disse, assim o fez. E, essa frase, actualmente, incomoda muita gente…

sábado, abril 28, 2012

OS PEQUENOS DITADORES


O País está atulhado deles. Há-os por todo o lado. Grandes e pequenos. Intelectuais e analfabetos. E existem tanto na esquerda como na direita.
No Governo, na Assembleia da República, nas Secretarias de Estado, na Justiça, na Saúde, nos Sindicatos, nas Fundações, nas Comissões de Inquérito, nos Municípios, na Imprensa, nas Escolas e em todos os lugares onde lhes cheire a poder, eles espalham-se e escondem-se por todo o lado como piolho em costura!
Saímos de uma Ditadura maior para ditaduras menores, mais disfarçadas, mas não menos nefastas…
E são essas pequenas ditaduras que geram sentimentos de medo por parte dos subalternos que, por sua vez, criam à sua volta, e em simultâneo, climas de bajulação e de denúncias.
Com medo de se perder o emprego, o estatuto ou os privilégios, lisonjeia-se o chefe e denuncia-se o colega.
Não há moral, não se respeita a ética, e ignoram-se os ditames de consciência – a integridade que deve caracterizar qualquer ser humano desaparece.
Muita gente vê o autoritarismo apenas sob a perspectiva do Estado enquanto opressão do poder político. Mas isso não é totalmente assim.
O autoritarismo é uma manifestação de egoísmo que pode manifestar-se em qualquer sector da sociedade, dependendo apenas do alto conceito que cada um atribua a si mesmo. A ambição, a vaidade, o protagonismo e a supremacia em relação ao semelhante, pode desencadear esse sentimento
Um lugar de chefia é, geralmente, a rampa de lançamento mais usada para a propulsão do prepotente.
Há instituições particulares que apesar da sua fachada democrática e da sua orientação pedagógica e científica, apresentam, por intermédio do seu chefe, um carácter opressivo.
E, paradoxalmente, é nessas instituições em que a liberdade, a sinceridade, o respeito mútuo, a civilidade e o diálogo deveriam, acima de tudo, sobrepor-se a qualquer outra forma de actuação.
Esses pequenos ditadores consideram-se profetas de um novo Mundo e exercem os seus cargos como de feudos se tratasse, erguendo muralhas e fossos de protecção e usando o poder que a função lhes confere para reforçar a sua vaidade pessoal e o domínio sobre os outros.
E há casos em que eles não só exercitam a sua prepotência sobre aqueles que gravitam à sua volta como também tentam estender os seus tentáculos para o exterior. Com sucesso algumas vezes, mas muitas mais sem conseguirem atingir o seu objectivo. No primeiro caso porque o alvo se presta a chantagem, no segundo porque há ainda quem não tema quaisquer represálias sejam elas de carácter ideológico, profissional ou meramente pessoal.
O pequeno ditador, geralmente, não é inteligente. Mas é esperto. E é narcisista, hipócrita, vingativo, manhoso, mas covarde quando atacado frontalmente. Não sei se algum dos meus leitores já alguma vez foi alvo dessa casta de indivíduos. Se não, acautelem-se.