sexta-feira, novembro 04, 2011

A ESCOLHA


Chegou a hora de todos pagarmos os erros e os abusos cometidos por alguns desses vendedores da banha de cobra da praça política. Não vale a pena estar aqui a alinhavar números ou a enumerar casos de um quotidiano que todos vamos conhecendo através das notícias que nos chegam e nos anunciam buracos atrás de buracos.
Uns mentindo, mais ou menos conscientemente, e outros porque acreditaram ou acreditámos que seria possível viver bem e desfrutar de todo o conforto à custa de “desvios”, défices e endividamento crescente, temos todos a nossa quota-parte de culpa no descalabro do País.
Como a de qualquer casa de família, a economia de uma nação é coisa delicada de mais para ser entregue a amadores ou a teorias lidas à pressa nas sebentas universitárias.
O amadorismo por si só não pode abarcar, em toda a sua complexidade, a realidade natural e humana do factor económico.
As sebentas académicas também não o conseguem, porque não ensinam a prática e fazem da economia um simples exercício de papel e esquadro.
Fala-se muito em estatísticas, em números, em rácios e eu sei lá no que mais, mas ao fim e ao cabo desconhece-se completamente a pura realidade das coisas e dos factos. Desconhece-se o País real!...
Legisla-se sem conhecer o verdadeiro impacto ou as consequências que poderão advir da aplicação da lei. Muitas vezes legisla-se para beneficiar o amigo sem olhar aos prejuízos que a medida pode causar em centenas, milhares ou milhões de cidadãos. Mas também aqui não vamos entrar em detalhes, porque são do conhecimento de todos as habilidades dos nossos malabaristas da política.
Chegou a hora e nada adianta protestar, blasfemar ou insultar. O desafio que se nos coloca ou melhor, o desafio que se coloca hoje às sociedades civilizadas é o de voltar a equacionar os problemas materiais e humanos com o coração e com a inteligência.
Não há outra via de salvação que não seja a do trabalho, mas um trabalho que sirva o homem e a comunidade e não o trabalho de que o homem se sirva em proveito próprio – aquele trabalho que produz riqueza e não apenas e somente serviços, pois também não se podem criar serviços sem produção que os pague.
As questões que nos dividem, infantilmente, entre siglas e slogans deviam envergonhar-nos. Temos diante de nós um futuro difícil. Devemos encará-lo unidos e com espírito de sacrifício. Greves, desacatos, manifestações, não resolvem o nosso problema. Não podemos continuar a reivindicar ilusões. O esforço tem de ser de todos. Mesmo que não tenhamos sido nós a contribuir para esta situação desesperada em que nos encontramos, temos de escolher: ou sacrificamo-nos e continuamos portugueses ou desistimos e passamos a simples pedintes andrajosos com o nome de “europeus”.

CARAPUÇAS


Há homens que recriam o mundo a partir de si próprio e que se julgam uma espécie de deuses. Acreditam que podem bastar-se sozinhos, que não precisam de ninguém, e só o que pensam e dizem é que conta.
Só eles sabem. Dizem-se detentores de toda a sapiência, arvoram-se em construtores de ideias e rejeitam quaisquer modificações à sua maneira de pensar. Tudo o que os outros fazem está mal feito e só eles podem fazer melhor. Não gostam de ser contrariados, nem aceitam que lhes digam que têm defeitos.
Os defeitos estão sempre nos outros, que não neles. Como todo o ditador que se preze eles precisam de público, de gente que com eles partilhe, que tenha os mesmos gostos, que cultive os mesmos ideais e, sobretudo, que faça da bajulação um sacerdócio, aplaudindo-os, elogiando-os, apoiando-os.
Raiva, ódio, maledicência e inveja são sentimentos que, ao mais leve sopro, podem explodir e atingir inocentes alheios às suas manobras e contrários à sua conduta.
Não há fronteiras para essa gente e na sua caminhada pela vida, não hesitam em fazer ataques com armas imorais como a difamação, a calúnia, a traição, o embuste, a mentira e a hipocrisia.
Nada os detém e envoltos num esfarrapado manto de superioridade, eles pavoneiam-se emproados, cheios de nada, tentando a todo o custo transmitir a imagem de que nada temem.
A arrogância é outra das suas armas de defesa, porque na sua maneira de pensar quem mais alto fala, mais facilmente é ouvido. Pobres deles!..
Insuflados de sentimentos de importância, usam sempre a primeira pessoa do singular no exagero dos seus feitos, nem sempre verdadeiros.
Têm obsessão por fantasias de sucesso ilimitado, procuram fama, poder e omnipotência. Procuram adulação, atenção e afirmação.
Não aceitam que deles discordem e vivem convencidos que merecem tratamento especial, sempre com prioridade em relação aos outros.
São invejosos e pensam que os outros têm o mesmo sentimento em relação a eles. Desconfiam de tudo e de todos. São, por tudo isso, uns eternos dependentes. Dependentes de uma fachada que criaram e cuja manutenção necessita de cuidados cada vez maiores. Com o rolar dos anos, com a erosão do tempo e a diminuição das forças, as aparências tornam-se cada vez mais difíceis de manter. E como neste mundo tudo é efémero, da falsa aparência que sempre ostentaram ficará apenas desencanto e frustração. Que não haja ilusões – o êxito pessoal depende sempre da humildade, da persistência e da lealdade com que procuramos realizar os sonhos que temos. Todos sabemos que o novo-riquismo mudou mentalidades. Veja se a carapuça lhe serve…









GENTES PACÍFICAS IGNORADAS

Antigamente o bilhete de identidade de grande parte das aldeias portuguesas do interior era constituído por uma Capela e por uma Escola.
A capela, onde geralmente aos domingos se celebrava a missa e se reuniam todos os habitantes e a Escola onde, de pequenino, se aprendiam as primeiras letras.
Com a junção de algumas formaram-se depois esses espaços geográficos que são as Freguesias com a sua Igreja Matriz e outros serviços, que a certa altura desempenharam um papel preponderante na vida nacional, sobretudo nos meios rurais.
Citando apenas um exemplo, houve um tempo em que o exame da 3.ª classe era feito na Escola da Freguesia, sem falar já na História desses aglomerados dispersos pelo País que eram anotados pelos párocos, nos livros de registo das Paróquias.
Mas, como é evidentemente, com o evoluir dos tempos a vida tudo mudou e pouco a pouco a aldeia começou a descaracterizar-se, tendo contribuído muito para isso a falta de visão futura dos governantes ao retirarem competência e serviços às aldeias em favor dos grandes aglomerados urbanos.
Assistiu-se em seguida ao êxodo das populações rurais que cada vez mais isoladas, e mais necessitadas dos mais elementares meios de sobrevivência, se viram obrigadas a rumaram às grandes urbes onde se fixaram e quase esqueceram as suas raízes.
Mas só quem vive em meios rurais pode avaliar o papel desses homens que estão à frente das Freguesias rurais, que lidam diariamente com as aspirações e os problemas dos habitantes e que muitas vezes lhes exigem soluções que ultrapassam a esfera das suas competências e atribuições. Eles são, de facto, uns verdadeiros «heróis da democracia»!
Mal pagos, por vezes mal interpretados, e quase sempre «bodes expiatórios» do não cumprimento de promessas de outros, são eles que à frente destes pequenos espaços geográficos dão o verdadeiro exemplo de abnegação e solidariedade, servindo, a troco de nada, o povo que os elegeu.
Agora que se fala muito na extinção ou fusão de Freguesias é de suma importância que essas decisões, a consumarem-se, sejam analisadas caso a caso e freguesia por freguesia. É urgente fixar as populações do interior, diminuindo as assimetrias entre a cidade e o campo. É urgente revitalizar o mundo rural, pois a ruralidade representa ainda a consciência da nossa verdadeira identidade cultural, com os seus valores, as suas tradições e as suas maneiras de viver, mais humanas, mais fraternas e mais solidárias. Não podem por isso os políticos voltar as costas ao país real e abandonar esses homens e mulheres que trabalham e cultivam os campos. É com essa gente humilde e simples, essa gente que se conforma com as alterações do clima que por vezes lhes destrói numa hora, o trabalho de dias e meses, que devemos aprender a lição da Fé e da esperança.
Uma lição que nos torna mais humanos, mais fraternos e nos aproxima mais de Deus. É esse o mundo dos que habitam os meios rurais. Um mundo de gente pacífica e, talvez por isso, quase sempre mais desfavorecida e ignorada.