segunda-feira, setembro 17, 2007

Os mamões

Mamã eu quero…
Já há alguns anos e neste mesmo espaço, me referi ao assunto. No entanto e porque cada vez há mais gente a mamar a repetição nunca é descabida.
Em 1900, na revista "A Paródia", e querendo estabelecer uma comparação entre a prática da política e a condição porcina, o nosso grande caricaturista Bordalo Pinheiro desenhou uma porca deitada com uma dúzia de leitões agarrados às suas tetas.
Em 1923, aparecia na mesma Revista, um desenho com uma porca já de pé, com os porquinhos mais crescidos a comerem do mesmo gamelão. Tanto num caso como noutro, os contribuintes perceberam. Mas ao compararem as duas caricaturas, ficaram pensativos: é que, enquanto na primeira, os bacorinhos estavam deitados e chupavam na teta, na segunda, já todos estavam de pé a comer com voracidade...
Nos anos cinquenta, G. Orwell, com o "Triunfo dos Porcos", actualizou o tema, colocando um "porco-líder" a dominar os seus súbditos com o autoritarismo próprio de todo o mandante que se preza.
Foi depois a vez da série televisiva "Os Simpsons" apresentar os políticos na figuração de porcos, mostrando senadores surpreendidos, no Senado, a comer hamburgers com recheio de dólares temperados com lobies, limpando depois as trombas à bandeira estrelada, como de um simples guardanapo se tratasse.
Esta lengalenga para vos dizer que apesar da caricatura inicial ter evoluído ao longo dos tempos, – passando de livro a filme e de filme, a desenho animado – a mensagem não se diluiu. Pelo contrário. Não só se manteve, como também se agigantou. E como se pode verificar, nunca foram tantos os "mamões", apesar de todas as artimanhas e camuflagens dos políticos que, com o auxílio da tecnologia moderna, tudo têm feito para esconder a porca e camuflar as tetas.
A modernização das instalações, (o luxo dos gabinetes) o constante apuramento da raça (a selecção de boys) e a galopante automatização das tetas (a criação de comissões e afins), tornaram a mama ainda mais apetecida. E os leitõezinhos continuam a engordar, não só com o líquido do úbere materno, (os nossos impostos) mas agora também com rações vindas directamente da estranja, etiquetadas pomposamente sob o nome de fundos e subsídios... É uma vergonha o que se passa por aí fora: a corrupção, o compadrio, as injustiças, os branqueamentos, os desperdícios, a incompetência, a ociosidade, tudo isso alastrou e transformou o País num lamaçal pestilento, onde proliferam os parasitas, os vermes rastejantes e os oportunistas. Cada vez são mais os que mamam e menos os que trabalham. A «epidemia» propagou-se a todas as forças partidárias. E é por isso que não há uma oposição válida. Enquanto a porca tiver leite, mesmo que as tetas não cheguem para todos, eles mamam por turnos. E lambuzados e contentes, ei-los cantando em coro:mamã eu quero, mamã eu quero mamar…