sexta-feira, maio 11, 2012

RABISCANDO...


Apesar de ter tido bons mestres, se me pedissem para escolher aquele que mais e melhor me ensinou, eu responderia sem hesitação que foi na escola da vida que mais aprendi.

E foi nos seus bancos, espalhados um pouco por toda a parte – em casa, no campo, longe da Pátria, trabalhando, desesperando, esperançado, desiludido, mas sempre confiante, que compilei a sebenta com as mais importantes lições que me têm ajudado a passar de ano. E com boa média!...
E durante essas aulas, quase sem me aperceber, e à medida que o tempo se ia escoando ora sob um céu pardacento, ora sob um céu azul sem nuvens, as folhas foram-se enchendo, e o livro da minha existência foi-se avolumando.
Hoje, as suas páginas constituem este aglomerado de factos que sou, repartido em três volumes já escritos- Primavera, Verão e Outono.
O outro, o Inverno, já vai muito adiantado, mas continuo a trabalhar nele afincadamente, tentando superar com paciência e optimismo o que já me vai faltando em talento!
E, dia-a-dia, linha por linha, sozinho, neste cubículo, nesta espécie de cafarnaum, cá vou passando o tempo rabiscando, amontoando emoções, sentimentos, a maior parte para escárnio de novos e consumo de velhos.
Mas não esmoreço, nem me dou por vencido. Nesse aspecto sigo as palavras de um escritor francês cujo nome não me ocorre agora, mas que já mencionei noutros textos. Disse ele que “escrever é falar sem ser interrompido.” E é a adopção dessa espécie de lema que me dá ânimo, que me dá força para extravasar, através do papel, o que me vai na alma.  
Quando se chega a uma certa idade começam a escassear as pessoas com as quais poderíamos trocar impressões ou simplesmente cavaquear. Não é recente tal facto, mas nos tempos que correm e em que a tecnologia tenta por todas as maneiras possíveis e inimagináveis apossar-se do homem e até escravizá-lo, primeiro dá-se atenção à máquina e só depois ao homem!..
E então quando se trata de velhos, essa falta de tempo ou de paciência atira-nos para as prateleiras, onde, se não estivermos atentos, depressa e só o pó se encarrega de nos visitar.
E é muitas vezes por isso, para não me deixar transformar em mera relíquia ou objecto de estimação visitado apenas por qualquer espanador ocasional, que estabeleço este monólogo com o papel…ou melhor, com a máquina!
Quando quero livrar-me dos ecos deste palavroso e nauseabundo lixo político que me fere os tímpanos, desligo e entretenho-me a rabiscar.









Sem comentários: