Apesar de ter tido bons mestres, se me pedissem
para escolher aquele que mais e melhor me ensinou, eu responderia sem hesitação
que foi na escola da vida que mais aprendi.
E foi nos seus bancos, espalhados um pouco por
toda a parte – em casa, no campo, longe da Pátria, trabalhando, desesperando,
esperançado, desiludido, mas sempre confiante, que compilei a sebenta com as mais importantes lições
que me têm ajudado a passar de ano. E com boa média!...
E durante essas aulas, quase sem me aperceber, e
à medida que o tempo se ia escoando ora sob um céu pardacento, ora sob um céu
azul sem nuvens, as folhas foram-se enchendo, e o livro da minha existência
foi-se avolumando.
Hoje, as suas páginas constituem este aglomerado
de factos que sou, repartido em três volumes já escritos- Primavera, Verão e
Outono.
O outro, o Inverno, já vai muito adiantado, mas
continuo a trabalhar nele afincadamente, tentando superar com paciência e
optimismo o que já me vai faltando em talento!
E, dia-a-dia, linha por linha, sozinho, neste
cubículo, nesta espécie de cafarnaum, cá vou passando o tempo rabiscando,
amontoando emoções, sentimentos, a maior parte para escárnio de novos e consumo
de velhos.
Mas não esmoreço, nem me dou por vencido. Nesse
aspecto sigo as palavras de um escritor francês cujo nome não me ocorre agora,
mas que já mencionei noutros textos. Disse ele que “escrever é falar sem ser
interrompido.” E é a adopção dessa espécie de lema que me dá ânimo, que me dá
força para extravasar, através do papel, o que me vai na alma.
Quando se chega a uma certa idade começam a
escassear as pessoas com as quais poderíamos trocar impressões ou simplesmente
cavaquear. Não é recente tal facto, mas nos tempos que correm e em que a
tecnologia tenta por todas as maneiras possíveis e inimagináveis apossar-se do homem
e até escravizá-lo, primeiro dá-se atenção à máquina e só depois ao homem!..
E então quando se trata de velhos, essa falta de
tempo ou de paciência atira-nos para as prateleiras, onde, se não estivermos
atentos, depressa e só o pó se encarrega de nos visitar.
E é muitas vezes por isso, para não me deixar transformar
em mera relíquia ou objecto de estimação visitado apenas por qualquer espanador ocasional, que estabeleço este
monólogo com o papel…ou melhor, com a máquina!
Quando quero livrar-me dos ecos deste palavroso
e nauseabundo lixo político que me fere
os tímpanos, desligo e entretenho-me a rabiscar.
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