sábado, janeiro 22, 2011

A MÁQUINA DO TEMPO


112, Lexington Avenue Bridgeport USA
Esta não é uma morada ao calha. Esta é a morada, cujo passado eu andei a investigar durante este fim-de-semana, aproveitando as maravilhas da tecnologia, confortavelmente sentado na minha cadeira e em frente ao meu computador, sem vontade para sair de casa por causa da confusão da cimeira.
Ali, há quase cem anos, a 28 ou 29 de Junho de 1917, o Ezequiel e o Custódio terão dado um abraço, um abraço apertado, umas quantas palmadas nas costas, sorrisos largos, o Custódio disse "estás com bom aspecto, primo, as gringas tratam-te bem!", e o Ezequiel retorquiu "e tu, deste-te bem lá pelas terras do Brasil?". Devem ter morto as saudades, partilhado esperanças e brindado a um futuro melhor. Não consta que tenham ressonado apesar da quantidade de bebida ingerida.
O Custódio Marques tinha chegado ao porto de Nova Iorque, no navio "Vauban" vindo do Brasil, via Buenos Aires. Às autoridades aduaneiras, disse ter 23 anos e a fortuna de 10 dólares, de ter sido ele a pagar a sua viagem e que ia para a casa do primo Ezequiel Henriques. Vinha para trabalhar mas fazia tenção de regressar para o seu país de origem. As autoridades registaram-no como física e mentalmente são, capaz de ler e escrever, sem cicatrizes ou marcas especiais, de olhos castanhos e cabelos pretos.No mesmo navio vieram, de Santa Comba, o João Almeida, com 24 anos e 32 dólares e o Augusto Leonardo, de 22 anos e com 35 dólares, mas foram para outras paragens.Em Setembro do ano seguinte, no dia 12, o Custódio foi obrigado a ir à inspecção militar. Apesar da primeira grande guerra se aproximar do fim os americanos queriam toda a gente alistada.No cartão de registo, o Custódio escreveu que tinha nascido a 25 de Agosto de 1893, que era operário na Remington Arms Co. de Bridgeport, uma empresa de fabrico de armas e munições, e assinou-o declarando que tudo aquilo era verdade. As autoridades atestaram que o meu avô não tinha perdido nenhum braço, perna, mão ou olho, não estando obviamente desqualificado para o serviço. Na história da Remington, este dia ficou marcado por uma missa em comemoração do fabrico do ultimo rifle dum grande contrato com o exército dos EUA, a que compareceram, entre importantes figuras do exército e da marinha, mais de 14,000 dos seus empregados.Diz o ditado, e é verdade, que quando vai um português vão logo dois ou três! A dada altura, naquela morada terão habitado o Custódio, o Ezequiel, o Moyses Mattos Affonso, o Júlio Reis e o José Henriques. Outros mais se juntarariam:
O Roberto Ventura, filho de Manuel M. Ventura, que chegou no dia 18 de Fevereiro de 1920 no navio "Britannia", com 22 anos e 50 dólares; com ele vieram também o Sabino de Matos e o Alberto Mattos Almeida.No dia 5 de Outubro de 1920 atracou no porto de Nova Iorque o navio "Providence". Um dos passageiros era o Joaquim Ventura, agricultor, que vinha para casa do irmão Custódio. Declarou 20 anos e 20 dólares, que não era nem polígamo, anarquista nem aprovava o uso de força para derrubar o governo americano e não sabia quanto tempo ia ficar. As autoridades consideraram-no mental e fisicamente são e sem quaisquer deformações. Com ele vieram o Joaquim Marques Matos de 28 anos e o Manuel Antunes de 38, com 30 dólares cada um.
Aos habitantes do 112 da Lexington avenue em Bridgeport, Connecticut, as autoridades americanas chamaram Tourigo Boys e, durante anos, mantiveram uma apertada vigilância.
João Ventura da Costa, in JORNAL DE TONDELA

sábado, janeiro 08, 2011

«VIVER É AFINAR UM INSTRUMENTO...»

Estou a escrevinhar estas linhas no começo da noite do terceiro dia deste novo ano de 2011, por coincidência, uma segunda-feira, um dia nada recomendável para que se peça aos neurónios ajuda para alinhavar qualquer coisa de jeito.
Além disso não tenho já muito tempo, pois tenho de entregar o papel amanhã de manhã. É sempre assim. Nunca tenho tempo quando não quero ter tempo, quando quero arranjar uma desculpa…
E então começo a recriminar-me e a falar com os meus botões: - ontem podia ter escrito qualquer coisa. Mas ontem já passou. Esvaiu-se… O tempo não volta para trás. Não pára. O futuro de ontem é hoje o presente. E hoje está quase a ir embora, é quase meia noite…
Mas escrever sobre o quê?!...
Tenho à minha frente a crónica da semana passada em que dizia que enquanto não houvesse alguém capaz de dar um murro na mesa e de pôr fim ao baile, a coisa não ia ao sítio.
Mas estou agora a ver que me esqueci de dizer que o baile a que me referia, era este baile de máscaras a que assistimos todos os dias. Máscaras, mais máscaras - um país de mascarados!
As estatísticas que nos chegaram no final de 2010 e que nos põem no topo das coisas más e no sopé das boas, são a prova evidente de que temos de mudar. Mudar de vez. É tempo de aprender, de evitar o que deveríamos ter evitado ontem. De ver o mal que fizemos. E desse balanço, dessa reflexão é que devemos arranjar material para construir o tempo de hoje e preparar o tempo de amanhã – o futuro. Que poderá ou não ser nosso, mas que será com certeza dos nossos filhos, dos nossos netos.
Enganam-se aqueles que me rotulam de pessimista. Aliás disse-o na semana passada. Sou, por natureza, optimista. Sou um defensor acérrimo do conceito «Não beba champanhe só nas vitórias, beba também nas derrotas. O sabor é o mesmo e é nas derrotas que você mais precisa...»
E foi o que aconteceu no final do ano, depois de conferir os meus palpites do Euromilhões, do Totoloto e da Lotaria. Afoguei as mágoas E toca a afogar as mágoas!
Fim de ano. Trezentos e sessenta e cinco dias que foram morrendo, enlutados apenas pelo negro de outras tantas noites.
Um ano de angústias e de promessas não cumpridas. De mentiras e de piruetas desses pinóquios da democracia, desses vendedores de banha de cobre, que são os políticos. De injustiças e de hipocrisias mal disfarçadas, cometidas, sobretudo, por quem deveria dar o exemplo…
É assim a vida – vive-se, briga-se, esquece-se, lê-se, escreve-se, perdoa-se e sobrevive-se!
É assim a vida. Como um romance que se escreve à noite, e se lê de manhã. E todos os dias se vira uma página…
Como diz a canção: «Viver é afinar um instrumento / de dentro pra fora / de fora pra dentro / a toda a hora / a todo o momento / de dentro pra fora / de fora pra dentro…»



























quarta-feira, janeiro 05, 2011

MÃOS AO AR...2011 VEM ARMADO!...

Meus caros Amigos e pacientes leitores:
Confesso-vos com toda a franqueza que não sei como começar esta crónica de hoje.
E a minha maior dificuldade reside no facto de não querer usar aquelas frases feitas, aquela lengalenga rançosa e hipócrita de votos dum Novo Ano cheio de prosperidades, com muita saúde, etc. e tal.
E não queria, porque, se sou sincero ao desejar-vos boa saúde, como posso eu garantir-vos uma coisa tão abstracta e tão difícil de encontrar nos tempos que correm, como é a prosperidade?
Todos sabem como quero bem aos meus leitores e que só desejo que todos os seus sonhos se realizem. Mas em vez desses lugares-comuns eu queria, sem rodriguinhos, dizer-lhes o que me vai na alma…
Dizer-lhes, por exemplo, que o ano que agora começa, por muito que isso nos custe, vai ser ainda pior do que o que agora findou; que por mais que nos martelem o bichinho do ouvido com promessas de melhoria, tudo isso não passa de conversa da treta e que as eleições que aí vêm, nada mais mudarão do que o inquilino de Belém.
E dizer também que enquanto todos nós não nos convencermos de que é preciso trabalhar, produzindo e poupando, continuaremos cada vez a afastar-nos mais dos nossos outros parceiros europeus.
Já repararam que nos seus discursos, os nossos políticos, só dão palpites e que a palavra “trabalho” raramente é pronunciada?!
Portanto de nada vale andarmos a desejar prosperidades, a fazer votos de um bom novo ano e coisa e tal, porque tudo isso não passa de conversa fiada que só serve para nos enganarmos a nós mesmos e arrastar os outros para esse estado eufórico e fictício em que vivemos.
Financeiramente falando, já se deram ao cuidado de verificar a situação de qualquer dos políticos que passou pelo Governo depois do 25 de Abril?!
Já ouviram ou leram que algum deles tivesse prescindido de qualquer das suas benesses em favor dos que mais precisam? De todos os casos em que foram julgados, algum foi parar à cadeia? Do nosso dinheiro que por eles foi desbaratado, a algum foram pedidas contas? Algum foi responsabilizado por má gestão? E pelos inúmeros desvios que têm havido?!...
Portanto, meus amigos, enquanto não houver alguém que dê um murro na mesa e mande parar o baile, continuaremos a afastar-nos dos parceiros europeus e a aproximarmo-nos cada vez mais dos países do Terceiro Mundo onde há milhares de ricos muito ricos e milhões de pobres...muito, muito pobres.
Sou, por natureza, optimista… A tal ponto que até continuo a sonhar com um Portugal mais humano, mais solidário e mais justo. O que não vejo – nem sonhando!..., – é alguém que transforme esse sonho em realidade.
Portanto, meus amigos preparem-se, porque 2011 vem de lança em riste. E pronto a levar-nos couro e cabelo…