domingo, março 30, 2014

HOMENS ILUSTRES DO TOURIGO

 
Padre Inácio Ferreira Viegas
 “ (…) De 1900 a 1910 instituíram-se escolas masculinas em Botulho, Muna, Ermida, Tondela, Sangemil; escolas femininas em Mouraz, Parada, Sangemil, Janardo, Vilar, Muna, Guardão, Múceres e Tondela, e escolas mistas em Tourigo, Muna, Alvarim, Póvoa de Rodrigo Alves, Ribeira, Várzea de Lobão e Fial22.
Para além do ensino público, ensinava-se, também, em casas e escolas particulares – no Barreiro, pelo Padre Inácio Ferreira Viegas; em Tondela, no Externato Tondelense, pelos professores José Lopes Coelho, José Gonçalves da Cruz e João Martins de Almeida23 e, mais tarde, na casa da professora Maria da Encarnação Ramos, onde se ministrava não só o ensino primário como, em alguns casos, a preparação para a admissão aos liceus e ao magistério. (…)”
In “O Ensino das Primeiras Letras no concelho de Tondela, 1772-1910 – António Manuel Matoso Martinho
 
O Padre Inácio Ferreira Viegas, o Padre Mestre, como era conhecido, esteve à frente de um Colégio aqui no Tourigo – o Colégio do Padre Mestre - que funcionou na casa do Cónego Maximino, casa que ainda existe embora tenha sido sujeita a algumas modificações arquitectónicas. Inácio Pereira Viegas era “um dos Padres-Mestres mais eruditos e mais acreditados em toda a Beira junto do qual fizeram os seus estudos preparatórios jovens estudantes que mais tarde se notabilizaram.
Nessa casa estiveram também, em 1970, as religiosas da Ordem da Imaculada Conceição – Irmãs Concepcionistas.  

HOMENS ILUSTRES DO TOURIGO


HOMENS ILUSTRES DO TOURIGO

 
Dr. Maximino de Matos Carvalho
 Para enriquecimento da História do Tourigo, recordamos aqui um outro ilustre touriguense, doutorado, que na segunda metade do século dezanove também se distinguiu e deu aulas de Medicina na Universidade de Coimbra.
Referimo-nos ao médico Maximino de Matos Carvalho, que foi Lente nessa Instituição de Ensino Superior como reza a lista de “Lentes” dessa época. O termo “Lente” já era usado na altura da fundação da Universidade em Portugal e é sinónimo de Professor Catedrático, correspondendo ao topo da carreira docente universitária.
Maximino de Matos Carvalho era irmão de D. José Manuel Carvalho que foi Bispo de Macau, Timor e Angra do Heroísmo e também natural da nossa aldeia de Tourigo.
 

HOMENS ILUSTRES DO TOURIGO

 
 

Bispo D. José Manuel de Carvalho: 1844-1904

 

D. José Manuel de Carvalho (1844-1904), foi o 18º Bispo de Macau (1897 a 1902). Nasceu no então lugar de Tourigo (Tondela), concluiu o curso do Seminário em Viseu e foi ordenado sacerdote em 1867. Na Universidade de Coimbra formou-se em Direito no ano de 1871 sendo depois professor do Liceu e no Seminário daquela cidade.
Por iniciativa do conselheiro Jacinto Cândido da Silva, então Ministro da Marinha e Ultramar e antigo colega universitário, foi apresentado a 4 de Fevereiro de 1897 para o lugar de bispo de Macau. Foi confirmado para o lugar por breve do papa Leão XIII datado de 19 de Abril de 1897. Foi sagrado a 29 de Agosto daquele ano, embarcando seguidamente para Macau. Durante o seu bispado, dividiu Timor Português, naquela altura dependente da Diocese de Macau, em dois missões centrais ou vicariatos gerais (Lahane e Soibada), em 1900. Nesse mesmo ano, consagrou a diocese ao Sagrado Coração de Jesus. Apoiou as actividades religiosas, educacionais e assistenciais oferecidas à diocese pelas Filhas Canossianas da Caridade, que se expandiram para Hainão em 1901. Abriu uma nova missão portuguesa em Heung-shan. Tanto Hainão como Heung-shan, que eram territórios chineses livres da ocupação portuguesa, estavam sob jurisdição eclesiástica da Diocese de Macau. Regressou a Lisboa por motivos de saúde, onde chegou a 8 de Abril de 1901, seguindo depois para os Açores. Morreu em 1904.

in Boletim Diocesano de Vizeu, Agosto de 1897 (reproduzido no jornal Eco Macaense 27.02.1898)

 

sexta-feira, março 21, 2014

À GUISA DE PARÁBOLA


 
Era grande a confusão que se vivia em todo o País e numa reunião de emergência com o Monarca e os seus conselheiros, Apístolas, que era o mais velho e o mais sábio, levantou-se e disse:
«- Majestade! Vós que tendes o poder, porque não dissolveis o Palratório dos “Duzentos e Trinta”?
Porque não punis os seus membros por terem traído os sermões que fizeram? Não foram eles que transformaram o Reino numa espécie de Jardim Zoológico?
Então, em vez de homens, por que não escolheis dentre essa bicharada, três deles? Por exemplo, um macaco, um papagaio e um burro?
O macaco emite sons incompreensíveis, sem nexo gesticulando continuamente; o papagaio repetirá as suas parvoíces e o burro limitar-se-á a abanar as orelhas e a acenar com a cabeça numa imitação flagrante dos vossos contribuintes…»
E perante a perplexidade do auditório, Apístolos continuou:
«- Indo as coisas do Império tão mal, a situação não piorará com a nomeação de um símio, de um psítaco e de um solípede. Se os homens políticos nada valem, nada fazem, mas são vingativos, por que não os substituir por outras criaturas sem valor, mas inofensivas?
Vede como os homens escolhidos pelo povo para defender os seus direitos traíram a sua confiança, desbarataram enormes somas de dinheiro e agora à míngua de reservas, escravizam esse mesmo povo, tirando-lhe o pouco que ainda lhe restava. Vede como o nosso património está a ser vendido ou hipotecado em troca de mais dinheiro para que essa tribo de homens sem profissão continue a viver sem trabalhar, a comer à tripa forra, a gastar sem limites, sujeitando o povo às mais desumanas e miseráveis condições de vida. A agricultura e as indústrias, essas fontes sólidas de riqueza, chegaram à última decadência. O povo mais jovem emigra, mas o mais velho, porque não pode, sobrevive, afrontando dificuldades sem fim. Os embaraços do tesouro aumentam, avolumando-se a dívida pública. Os efeitos morais de toda essa situação não foram nada benéficos e o ócio, o luxo e a corrupção instalaram-se em todo o território. 
Por tudo isso, Majestade, pensai na alegria do vosso Povo se tomardes essa decisão. Os vossos bons e leais súbditos abençoar-vos-ão por os terdes livrado dessa praga que quase ensandeceu o Reino…»
E então, a multidão, surpreendida pela ousadia de Apístolas grudou os olhos na boca do “todo-poderoso” esperando a reacção àqueles sábias palavras… Entretanto, a porta abriu-se e três homens vestidos de negro, pertencentes à “TRÍADE”, entraram no areópago, prenderam Apístolas e condenaram-no às galés... E assim, o medo calou o povo!
Com tudo isso, diz ainda o cronista, os vícios constitucionais amoleceram a têmpera das antigas virtudes e até o patriotismo acabou por se estiolar, levando os súbditos a admitir, sem qualquer relutância, a perspectiva de uma submissão a outro qualquer país estrangeiro. 
 
 
 

RAIZES

 
Hoje lembrei-me de meus Avós maternos: de minha Avó Umbelina e de meu Avô Ezequiel. Não me perguntem porquê. Não sei explicar….
E recreei aquele quadro que tantas vezes vi: os dois sentados na cozinha onde, na lareira, três panelas de ferro, daquelas antigas, com três pés, ferviam. De uma delas escorria, pelo seu bojo, uma espécie de baba, que apagava as brasas quando chegava à pedra da lareira.
Minha Avó, tenaz em punho, apanhava-as e metias num pote de barro preto que estava junto a uma arca onde se guardava a lenha. Terminada a recolha de todas as brasas, minha Avó punha o testo na panela e, como é evidente, elas apagavam-se e ficavam de reserva para, no dia seguinte, serem novamente utilizadas juntamente com outra lenha. No poupar é que vai o ganho…
Num canto, uma trempe que servia para suportar a frigideira quando havia qualquer coisa a fritar e uma vasilha em barro preto, a chocolateira, como lhe chamavam, para fazer o café. Café que era uma mistura onde predominava a cevada. Era interessante como a Avó preparava a beberagem: enchia o recipiente de água, punha ao lume e quando estava prestes a ferver, deitava duas colheres da mistura, metia uma brasa incandescente dentro, tirava, esperava que a borra assentasse no fundo e estava o café pronto a ser bebido!    
Meu Avô cofiava as suas compridas barbas brancas e parecia absorto na contemplação das espirais de fumo que subiam, rodopiavam e desapareciam depois pela velha chaminé. A seus pés, a Cartuxa, a gata já velhinha, dormia tranquilamente.
Numa saleta contígua à cozinha havia uma enorme mesa antiga com uma grande gaveta onde se guardava a broa e, por vezes, num prato, um pedaço de entremeada de porco, com muita gordura e que era um dos manjares de meu Avô. E com que satisfação ele saboreava o petisco. Chegava do quintal, dirigia-se à saleta, cortava uma fatia de broa e um naco de carne com o seu canivete que sempre o acompanhava, sentava-se no escabelo já todo picado do caruncho e dava gosto, então, vê-lo deliciar-se com o manjar, regado com uma caneca de vinho da sua lavra!
Levantava-se depois, cofiava as longas barbas sacudindo ao mesmo tempo as migalhas que pudessem ter ficado da bucha e começava então outro ritual – a feitura do cigarro.
Uma onça de tabaco holandês, um livrinho de mortalhas, e eis o Avô a enrolar o tabaco no papelinho. Duas voltas entre o polegar e o indicador, uma passagem com a língua à guisa de cola pela dobra… e cigarro na boca.
Duas pancadas na rodinha de metal que roçava a pederneira e pronto… cigarro a arder normalmente.
Meu Avô Ezequiel era um homem corpulento, que com a sua estatura, longas barbas brancas e o nariz adunco, fazia lembrar um rabino!
Voltarei brevemente com outras recordações do meu Avô das barbas…
 
 

NUM MUNDO DE FICÇÃO


 

 
Neste mundo andamos todos com o tempo controlado. Mais dia, menos dia e, às vezes, sem tempo de fazer a mala, lá vai o indígena de viagem… E tanto pode levar uma carta de recomendação para S. Pedro, como uma carrada de processos arquivados para alimentar as fornalhas do Inferno!
Vem isto a propósito dos cuidados que devemos ter com a alimentação que fazemos. Como se não bastassem já as terríveis doenças que não têm cura, os "cientistas" de serviço ameaçam-nos agora com os venenos que diariamente ingerimos.
Dizem eles que desde a carne de vaca e do mercúrio dos peixes do mar, passando pelos pesticidas dos legumes, pelos metais pesados escondidos na água que bebemos, pelos nitritos da carne de porco, pelas gorduras saturadas dos fritos,  pelo colesterol da manteiga, pelas hormonas dos galináceos, andamos a meter cá para dentro coisas tão perigosas que é inevitável a explosão!...
Em face de todos esses perigos, e não só porque foi sempre meu desejo morrer velho e são, mas também porque quero adiar o mais possível a tal "viagem", decidi adoptar, como medida de precaução, as regras adequadas. Portanto, nada de carne de vaca... Apenas a de boi; peixe do mar, nem vê-lo... Apenas o enlatado; água, só para tomar banho... Para o resto, vinho; carne de porco, não entra na salgadeira... Somente a de porca; gorduras saturadas, nem pensar, porque fritos só com azeite virgem; manteiga, só ao pequeno-almoço e carne de aves só a de patos bravos que é o que mais abunda por aí...
No capítulo das sobremesas e por questões orçamentais, substituímos muitas delas pelo queijo. E perguntar-me-ão vossências: - "Mas por quê o queijo?” A que eu responderei: - Porque além de ser rico em cálcio e fortalecer os ossos, diz um ditado antigo que, quem comer muito, torna-se esquecido... E, meus senhores, nos tempos que correm, o esquecimento é o melhor e mais barato antídoto contra a loucura que nos rodeia!
Quanto ao ambiente, tomámos também as nossas precauções. Nada de cuspir para o ar... Antes fazê-lo para o chão. Contra a poluição, contra cheiros e gases, e no intuito de contribuir para uma atmosfera mais pura, erradicámos da alimentação os farináceos e, mais especificamente, o feijão. No jardim, e para adubar as roseiras, em vez de esterco, estamos a praticar a adubação virtual, espalhando, sobre a terra, mãos-cheias de promessas - um processo que além de estar na moda é muito mais barato... Podem estas medidas de nada servirem para adiar a partida para a outra banda. No entanto, porque vivemos num país fictício, há que alimentar sempre a esperança de que a ficção se converta em realidade!... 
 
 
 

INTERROGAÇÕES

 
 
 
Sempre a mesma interrogação a agigantar-se… Valerá a pena continuar a expor publicamente os receios que, interiormente, me atormentam face aos acontecimentos deste nosso complicado quotidiano?
Valerá a pena apontar e denunciar os males que corroem a nossa sociedade? Valerá a pena, neste nosso pequeno mundo materialista e desumanizado, dominado pelo egoísmo, pelo dinheiro, pela política e pelo futebol, denunciar injustiças?
Valerá a pena falar de pobreza, de exclusão social, de irresponsabilidade, de prepotência, de abuso de poder, de descriminação, de incompetência e de falta de humanismo? 
Valerá a pena chamar a atenção dos que têm tudo, e convidá-los a partilhar as sobras, com os que nada têm?
Valerá a pena, ir aos livros já esfarrapados da minha Universidade, – que foi a da Vida – folheá-los, e apontar exemplos, citar experiências, transcrever capítulos inteiros de factos vividos em que o trabalho, a humildade, a perseverança, o respeito, a educação e a honra foram os elementos criadores de homens íntegros, responsáveis, cumpridores, amantes da Verdade, da Justiça e da Moral?
Conseguirei penetrar no coração empedernido dos que vivem em mansões onde nada falta, e acordá-los, convidando-os a espreitar a miséria, o frio e a fome dos milhares de homens mulheres e crianças que vivem ou que se escondem nas ruas, por vezes, debaixo de um pedaço de cartão?
Valerá a pena apontar como urgente e imperiosa a necessidade da conjugação dos esforços de todos para uma total humanização nos sectores da vida nacional, mormente na saúde, na justiça, na educação e na segurança social?
Serei capaz de convencer os que mandam, fazendo com que exerçam o seu trabalho com inteligência, humanismo, justiça e com espírito de isenção e partilha?
Valerá a pena apelar aos que ocupam os mais altos cargos, aos que detêm o poder de decisão para que saiam dos seus confortáveis gabinetes de Lisboa e venham até ao País real, – não de fugida para inaugurar um chafariz ou um quilómetro de alcatrão – mas com tempo suficiente para se inteirarem do difícil dia-a-dia de muitos dos que neles vão votaram?!...
O drama das democracias reside essencialmente na infidelidade aos valores cristãos que lhes servem de alicerce. Presentemente, o que acontece é que enquanto se valoriza o dinheiro, assiste-se à vertiginosa desvalorização da honra e da moral. Daí estas minhas interrogações e, por vezes, a minha revolta perante tanta injustiça, tanta falta de escrúpulos e, sobretudo, tanta falta de seriedade e de vergonha.
 
 

 

 

 

 

 

O INCONSEGUIMENTO DO GOVERNO


 
Toda a gente sabe que o discurso político é, provavelmente, tão antigo quanto a vida do ser humano em sociedade. Já na Grécia antiga, o político era o cidadão da "pólis" (cidade, vida em sociedade), que, responsável pelos negócios públicos, decidia tudo em diálogo na "agora" (praça onde se realizavam as assembleias dos cidadãos), mediante palavras persuasivas. Daí o aparecimento do discurso político, baseado na retórica e na oratória, orientado para convencer o povo.
Este conceito tem vindo a esvaziar-se ao longo dos tempos e actualmente o discurso político é, na maior parte das vezes, um monólogo geralmente incompreendido pelo povo.
No meu tempo - no “antigamente” - dizia-se que Salazar mantinha o povoléu na ignorância para melhor o endrominar. Agora, que quase todos os cidadãos são doutores ou engenheiros, que todos sabem ler, escrever e contar,(?) há que inventar um novo vocabulário de maneira a que os “enteados” não percebam o que “os filhos da pátria” querem dizer nas suas manhosas lengalengas.
Por enteados queiram vossências saber que me refiro aos reformados que trabalharam uma vida inteira e agora vêem a sua mísera pensão retalhada e aos velhos, cuja reforma quase não chega para pagar a conta da Farmácia.
Mas voltando aos discurso, agora como nesses longínquos tempos, há que saber seduzir o “rebanho”, prometer-lhes verdes pastagens na ocasião apropriada, mas já com a ideia preconcebida de mandar fazer a “tosquia” logo que haja necessidade de angariar dinheiro.
E por falar em “rebanho”, hoje como ontem, e apesar de muito se falar em mudanças, “os carneiros”, tal os de Panúrgio, continuam a seguir em fila rumo ao abismo…
Mas vem este intróito, já um pouco longo, a propósito do vocabulário usado numa entrevista a uma rádio por uma senhora que se reformou ou a reformaram aos 42 anos depois de ter estado dez anos no Tribunal Constitucional e que agora ocupa o cargo de Presidente da Assembleia da República, auferindo uma pensão equivalente a 19 salários mínimos!
As palavras proferidas por Dona Assunção durante a sua arenga mostram à saciedade e duma maneira sui generis que a sabedoria do velho provérbio que nos diz que “com papas e bolos se enganam os tolos “ continua actual e com especial pertinência no discurso político.
Abram alas os lexicólogos e deixem passar estas novas sumidades que por detrás de palavras inexistentes nos dicionários, descaracterizando a nossa língua, renegando Fernando Pessoa, tentam dessa maneira camuflar todos os fracassos e todas as injustiças que têm cometido ao longo da sua governança. 
Ninguém deve ter percebido o que sua excelência quis dizer na sua, mas felizmente que o “inconseguimento” “frustracional” e o seu “soft power sagrado”, não conseguiram que o egoísmo e sobretudo a castração se propagasse em termos colectivos…
Mais um episódio a juntar a outros, e que nos vem mostrar que o “inconseguimento” do “ingoverno” é “frustracional” e castrador e que toda esta “palradela” serve também para nos “indeprimir”!...
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

A FALTA DE TOMATES

 
Muita gente se queixa de que, nos supermercados, tudo ou quase tudo o que ali se vende vem do estrangeiro.
À medida que os dias passam menos produtos portugueses se vêem à venda. Não vou aqui explicar os motivos que estão na base dessa escassez, pois todos sabemos a que se deve tal situação. Enquanto os políticos não se virem obrigados a pegar numa enxada para granjear aquilo que comem, a nossa agricultura não passará desta cepa-torta e até com tendência a acabar de vez. Parece que até os tomates, que havia em excesso, tem os dias contados…
Mas como não gosto de dramatizar e prefiro, antes, encarar as coisas com humor, um destes dias, ainda na cama, comecei a pensar e cheguei à conclusão de que, afinal não deve haver nenhum País que se possa gabar de que tudo o que se come ou se usa é exclusivamente obra sua.
Por exemplo este pijama que tenho vestido é oriundo da China e a cama em que me deito é um modelo concebido primitivamente na Pérsia ou na Ásia Menor.
O relógio que me diz que são horas de levantar é invenção da Europa Medieval. Depois, no quarto de banho, o vidro do espelho foi inventado pelos antigos Egípcios, enquanto o emprego dos ladrilhos de cerâmica do chão, começou no próximo Oriente e a porcelana do lavabo, na China.
A banheira e demais objectos sanitários são cópias de modelos romanos. A barba é também um rito instituído pelos sacerdotes do antigo Egipto, ao passo que o sabonete foi inventado pelos antigos gauleses e a toalha com que me enxugo, é turca! 
As roupas que visto são derivadas dos vestuários de peles dos antigos nómadas das estepes asiáticas e fecham-se com botões cujos protótipos apareceram na Europa no fim da Idade da Pedra!
A tira de pano que ponho ao pescoço, que dá pelo nome de gravata, é um vestígio dos xales que usavam os croatas do século XVII.
Venho tomar o pequeno-almoço e tanto os líquidos como a comida são apresentados em recipientes que tiveram origem também na China, ao passo que o garfo é uma invenção da Itália medieval e a colher é uma cópia do modelo romano.
O café é produzido por uma planta oriunda da Abissínia, a laranja foi aclimatada na região mediterrânea e os cereais são provenientes de plantas cultivadas no Próximo Oriente.
Terminada a refeição, ao sair, ponho na cabeça um pedaço de feltro, a que chamam chapéu e que foi inventado pelos nómadas do Oriente.
Receando as fantasias do tempo, levo um guarda-chuva, inventado na India.
Posto isto, meus amigos se, como dizem, o Mundo é uma bola que rebola e em cada volta que dá, muda a face das coisas, esperemos que um dia possamos também exportar alguns dos nossos fazedores de leis e com o dinheiro adquirido possamos cultivar de novo, pelo menos, tudo o que comemos. Incluindo tomates. Que não os de estufa. Mas os naturais e genuínos…     
 
 
 

UM MUNDO LOUCO


 

Não restam dúvidas de que o amontoar dos anos tem influência no funcionamento normal dos nossos neurónios.
E digo isso porque deve ser a ferrugem nas engrenagens dos meus que faz com que eu tenha cada vez mais dificuldades em compreender o mundo que me rodeia. É que, no meu entender, a vida actual processa-se a um a um ritmo tão desordenado, tão falho de sentido e de valores que não consigo vislumbrar uma alternativa para fugir do trilho que, fatalmente, nos conduz à loucura. Anda tudo louco!...
Quanto a mim, o mais difícil é conseguir a força mental necessária que me permita ficar indiferente ao que vejo, ao que leio e ao que ouço. Parece ter-se perdido a noção da realidade. Os problemas quer políticos quer sociais, são visto e encarados como meros combates ou simples espectáculos. Os protagonistas insultam-se, agridem-se, e nos intervalos exibem-se como palhaços de circo. É a confusão geral!... 
Há cerca de dois anos, citando uma velha máxima, escrevia eu: «onde todos mandam, ninguém manda, onde todos falam ninguém se entende e onde todos roubam não há ladrões...» Lembro-me de que na altura, um amigo me chamou a atenção para a última parte do aforismo, achando-a ousada de mais. Recordo-me ter- lhe dito que provérbios são provérbios e que não há regra sem excepção. Hoje talvez a minha resposta fosse diferente - se nas duas primeiras partes, o aforismo se mantém actual, no que se refere à parte final, infelizmente, as excepções, nesse capítulo, são cada vez menos.
É verdade que todas as sociedades têm problemas. Mas para que haja justiça e coerência na sua resolução é necessário que esses problemas sejam tratados de harmonia com o seu real valor e a sua verdadeira essência. Entre nós, faz-se o contrário e envereda-se geralmente pelo seu empolamento propositado, pela distorção, pela falta de rigor, pela falta de isenção, acabando quase sempre pela falta de respeito e de ética.
Na Assembleia da República é confrangedor e revoltante ver o procedimento de certos políticos que, refastelados nas cadeiras, esbracejam e riem, descaradamente, após a intervenção de um opositor. Os problemas mais importantes não se resolvem e passa-se o tempo em discussões estéreis, falando de tudo, menos do que interessa verdadeiramente ao País. Poucos trabalham e os que o querem fazer dificulta-se-lhes a vida… Um País sem rei nem roque! Um país virtual, pois agora até dizem que a “situação” está a melhorar!
Até as anedotas são mal contadas. E o resultado de tudo isto é a insegurança, a descrença e o mal-estar social. Não há dinheiro que chegue e nada mais fácil para o conseguir do que tosquiar o “rebanho” até o sangue jorrar. O que gera mais confusão na minha cabeça é que com todos estes actos tresloucados, haja ainda muita gente que, quando se fala em doidos, pense apenas nos manicómios!