Era
grande a confusão que se vivia em todo o País e numa reunião de emergência com o
Monarca e os seus conselheiros, Apístolas, que era o mais velho e o mais sábio,
levantou-se e disse:
«-
Majestade! Vós que tendes o poder, porque não dissolveis o Palratório dos
“Duzentos e Trinta”?
Porque
não punis os seus membros por terem traído os sermões que fizeram? Não foram
eles que transformaram o Reino numa espécie de Jardim Zoológico?
Então,
em vez de homens, por que não escolheis dentre essa bicharada, três deles? Por
exemplo, um macaco, um papagaio e um burro?
O
macaco emite sons incompreensíveis, sem nexo gesticulando continuamente; o
papagaio repetirá as suas parvoíces e o burro limitar-se-á a abanar as orelhas
e a acenar com a cabeça numa imitação flagrante dos vossos contribuintes…»
E
perante a perplexidade do auditório, Apístolos continuou:
«-
Indo as coisas do Império tão mal, a situação não piorará com a nomeação de um
símio, de um psítaco e de um solípede. Se os homens políticos nada valem, nada
fazem, mas são vingativos, por que não os substituir por outras criaturas sem
valor, mas inofensivas?
Vede
como os homens escolhidos pelo povo para defender os seus direitos traíram a
sua confiança, desbarataram enormes somas de dinheiro e agora à míngua de
reservas, escravizam esse mesmo povo, tirando-lhe o pouco que ainda lhe restava.
Vede como o nosso património está a ser vendido ou hipotecado em troca de mais
dinheiro para que essa tribo de homens sem profissão continue a viver sem
trabalhar, a comer à tripa forra, a gastar sem limites, sujeitando o povo às
mais desumanas e miseráveis condições de vida. A agricultura e as indústrias,
essas fontes sólidas de riqueza, chegaram à última decadência. O povo mais
jovem emigra, mas o mais velho, porque não pode, sobrevive, afrontando
dificuldades sem fim. Os embaraços do tesouro aumentam, avolumando-se a dívida
pública. Os efeitos morais de toda essa situação não foram nada benéficos e o
ócio, o luxo e a corrupção instalaram-se em todo o território.
Por
tudo isso, Majestade, pensai na alegria do vosso Povo se tomardes essa decisão.
Os vossos bons e leais súbditos abençoar-vos-ão por os terdes livrado dessa
praga que quase ensandeceu o Reino…»
E
então, a multidão, surpreendida pela ousadia de Apístolas grudou os olhos na
boca do “todo-poderoso” esperando a reacção àqueles sábias palavras… Entretanto,
a porta abriu-se e três homens vestidos de negro, pertencentes à “TRÍADE”,
entraram no areópago, prenderam Apístolas e condenaram-no às galés... E assim,
o medo calou o povo!
Com
tudo isso, diz ainda o cronista, os vícios constitucionais amoleceram a têmpera
das antigas virtudes e até o patriotismo acabou por se estiolar, levando os
súbditos a admitir, sem qualquer relutância, a perspectiva de uma submissão a
outro qualquer país estrangeiro.
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