sexta-feira, março 21, 2014

À GUISA DE PARÁBOLA


 
Era grande a confusão que se vivia em todo o País e numa reunião de emergência com o Monarca e os seus conselheiros, Apístolas, que era o mais velho e o mais sábio, levantou-se e disse:
«- Majestade! Vós que tendes o poder, porque não dissolveis o Palratório dos “Duzentos e Trinta”?
Porque não punis os seus membros por terem traído os sermões que fizeram? Não foram eles que transformaram o Reino numa espécie de Jardim Zoológico?
Então, em vez de homens, por que não escolheis dentre essa bicharada, três deles? Por exemplo, um macaco, um papagaio e um burro?
O macaco emite sons incompreensíveis, sem nexo gesticulando continuamente; o papagaio repetirá as suas parvoíces e o burro limitar-se-á a abanar as orelhas e a acenar com a cabeça numa imitação flagrante dos vossos contribuintes…»
E perante a perplexidade do auditório, Apístolos continuou:
«- Indo as coisas do Império tão mal, a situação não piorará com a nomeação de um símio, de um psítaco e de um solípede. Se os homens políticos nada valem, nada fazem, mas são vingativos, por que não os substituir por outras criaturas sem valor, mas inofensivas?
Vede como os homens escolhidos pelo povo para defender os seus direitos traíram a sua confiança, desbarataram enormes somas de dinheiro e agora à míngua de reservas, escravizam esse mesmo povo, tirando-lhe o pouco que ainda lhe restava. Vede como o nosso património está a ser vendido ou hipotecado em troca de mais dinheiro para que essa tribo de homens sem profissão continue a viver sem trabalhar, a comer à tripa forra, a gastar sem limites, sujeitando o povo às mais desumanas e miseráveis condições de vida. A agricultura e as indústrias, essas fontes sólidas de riqueza, chegaram à última decadência. O povo mais jovem emigra, mas o mais velho, porque não pode, sobrevive, afrontando dificuldades sem fim. Os embaraços do tesouro aumentam, avolumando-se a dívida pública. Os efeitos morais de toda essa situação não foram nada benéficos e o ócio, o luxo e a corrupção instalaram-se em todo o território. 
Por tudo isso, Majestade, pensai na alegria do vosso Povo se tomardes essa decisão. Os vossos bons e leais súbditos abençoar-vos-ão por os terdes livrado dessa praga que quase ensandeceu o Reino…»
E então, a multidão, surpreendida pela ousadia de Apístolas grudou os olhos na boca do “todo-poderoso” esperando a reacção àqueles sábias palavras… Entretanto, a porta abriu-se e três homens vestidos de negro, pertencentes à “TRÍADE”, entraram no areópago, prenderam Apístolas e condenaram-no às galés... E assim, o medo calou o povo!
Com tudo isso, diz ainda o cronista, os vícios constitucionais amoleceram a têmpera das antigas virtudes e até o patriotismo acabou por se estiolar, levando os súbditos a admitir, sem qualquer relutância, a perspectiva de uma submissão a outro qualquer país estrangeiro. 
 
 
 

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