segunda-feira, novembro 08, 2010

UMA VERDADE COM 2065 ANOS!...


Se fosse eu que mandasse cá neste jardim zoológico, mandava afixar na Assembleia da República este texto de Marcus Tullius Cicero com a última frase em letras gordas:
"AS PESSOAS DEVEM NOVAMENTE APRENDER A TRABALHAR, EM VEZ DE VIVER POR CONTA PÚBLICA."
Dos 230 deputados, quantos já fizeram alguma coisa na vida? Cambada de mandriões e de incompetentes!...

domingo, novembro 07, 2010

E V O C A Ç Ã O


Embora seja vertiginosa a marcha com que se desloca a carruagem da nossa existência, nem por isso ela foge às Leis previamente estabelecidas.
Assim, em cada paragem, ela se detém, a porta abre-se, e algum dos passageiros tem de abandonar a composição...
Uma velha desdentada, rosto macilento, olhos esbugalhados, garras aduncas, gadanha em punho, desenrola o pergaminho da lista fatal e, indiferente ao que se passa à sua volta, faz a chamada: "Manuel, ou António, ou Maria, ou Francisco, desce, porque é aqui o fim da tua viagem!..."
E não há desculpa ou pretexto que valha! É assim a Morte – imprevisível, tirânica e inexorável. Ninguém escapa ao seu chamamento. No palácio do Rei ou na choupana do pobre, ela está presente, e no dia marcado ela bate à porta e, mesmo sem permissão, ela entra.
Já os Egípcios, quando ofereciam grandes banquetes, costumavam expor à vista dos seus convidados um esqueleto de madeira com a seguinte legenda: "Comei, bebei, e diverti-vos, mas não esqueçais que um dia sereis igual a ele..."
Interpretação diferente lhe davam os primeiros cristãos que consideravam o dia da morte o dies natalis – o dia do nascimento. Morre-se para os homens, mas nasce-se para a Eternidade!
Foi tudo isso que me perpassou pela mente no Dia de Finados quando contemplava aquela lájea musgosa e silenciosa, onde depus quatro crisântemos com as pétalas ainda molhadas pela orvalhada da noite.
Uma lágrima teimosa desceu pela cara tisnada e rugosa e quedou-se por instantes nos lábios trementes, lembrando alguém que não conheci.
Como é doloroso evocar alguém que não conhecemos em vida, mas cuja lembrança constantemente nos acompanha!...
É uma mistura de saudade tão pungente e de tristeza tão dorida, que não se consegue explicar. Sente-se e connosco vive.
Flores, velas, orações e lágrimas! Lágrimas... de saudade umas, de remorsos outras. Mas para nós, cristãos, não será hipocrisia chorar pelos mortos?
Não serão as lágrimas mais apropriadas para aqueles que estão como que amortalhados na frieza, na indiferença, no abandono, sofrendo carências de toda a ordem e por isso antecipadamente sepultados no coração dos vivos?
É que, nestes dias em que os cemitérios se enchem, há, entre essas multidões, e à mistura com testemunhos de sincera saudade, uma grande quota parte de hipocrisia, de vaidade e de ostentação, com que se pretende esconder aos que ainda estão em vida, aquilo que não se deu aos que já morreram.
Como disse Santo Agostinho: "Flores e lágrimas são alívio dos vivos, mas não refrigério dos mortos..."
Reflexão em dia de romagem ao Cemitério –02-11-2010)





sexta-feira, novembro 05, 2010

CAPA E VERSO DO EP DO RICARDO



Isto é a capa e o verso do EP que o menino que ouviram cantar - Ricardo Ventura da Costa que adoptou o nome artístico de Richie Campbell - acabou de lançar. Podem comprar em qualquer espaço FNAC.
Boa sorte, Ricardo!

segunda-feira, novembro 01, 2010

É TÃO BONITA A VIDA!...


A Vida, no seu mais simples e real significado, é uma história que encerra muitas outras histórias. E a vida de cada um de nós tem as suas.
E, como num livro, os capítulos sucedem-se e a acção desenrola-se aguçando a nossa curiosidade, mas escondendo sempre, de forma ardilosa, o desfecho final!
E felizmente que assim é!...
Alegrias, tristezas, esperanças, fracassos, enganos, desenganos, vaidades e desânimos, são pedaços de romance que desfilam e ladeiam a nossa existência sem, contudo, forneceram qualquer indício quanto ao seu epílogo.
E assim, – uns guiados por essa luz da esperança que é a Fé, outros pelo fascínio do desconhecido que os atrai – lá vamos todos, e cada qual à sua maneira, folheando o livro, página após página, sem nunca sabermos como, nem quando chegamos ao fim...
Os que lêem as minhas crónicas devem admirar-se desta minha insistência neste tema que é a Vida – a passagem por este mundo. Acredito até que muitos possam crer que tal facto se deve à decrepitude, a uma senilidade galopante. Pouco importa. Mas a vida fascina-me apesar de todos os encantos, desencantos, rasteiras e trambolhões, que tive de transpor. E isso talvez por só agora começar a gozá-la em toda a sua plenitude e sem paixões – nas cores, nos odores, nos olhares, nas pessoas, nas coisas e em tudo o que me rodeia!
Como um apaixonado, sofregamente, eu “respiro-a” e tento conservar dentro de mim, por tempo infinito, essa lufada de esperança que me enche a alma.
É sempre difícil, quando fazemos da escrita uma confissão, escondermos o que vai dentro de nós. Ser sensível é uma outra maneira de compartilhar da tristeza dos outros. Fazer o papel da esfinge de pedra que não ri, que não chora, que não se emociona é, em certos momentos, uma outra forma de hipocrisia.
O sentimento é a música do nosso mundo interior que faz parte integrante do nosso eu. Quando exteriorizado com dignidade, sem vergonha e sem fingimentos, ele é, conjuntamente com o pensamento, a expressão da nossa verdade.
E é por isso que eu canto a vida, todas as manhãs, cedo, quando abro a janela do meu quarto e assisto ao espreguiçar do dia. É mais um, murmuro baixinho...
Todos nós dizemos saber que temos de morrer um dia. Mas se dizer que sabemos, é tarefa fácil, convencermo-nos disso e aceitá-lo sem temor e sem reservas... isso é que é mais difícil!
Entretanto e como nada pode parar os ponteiros do relógio da vida, aproveitemo-la da melhor maneira.
E para aqueles que acreditam que há Vida para além da morte, uma das condições essenciais para ter direito a essa dádiva divina, é tentar seguir o caminho certo, que é, como disse o poeta, "abrindo aos outros o nosso jardim: oferecer aos outros as flores das nossas capacidades e valores..."