sexta-feira, agosto 30, 2013

INCÊNDIO NA SERRA DO CARAMULO


Há alguns dias que desde o nascer do sol até às 20 horas, a minha casa é sobrevoada por aviões “Canadair” e helicópteros que fazem o vaivém entre a barragem da Aguieira, onde se abastecem de água, que depois vão despejar na Serra do Caramulo onde um incêndio lavra, matando, queimando e destruindo tudo o que encontra pela frente.
Centenas de Bombeiros e várias Corporações vindas de todo o País encontram-se no local. Há, infelizmente, até agora três mortos no combate ao incêndio: uma bombeira de Alcabideche, um bombeiro do Estoril e uma  da Corporação de Carregal do Sal, todos jovens.
Há também dois bombeiros hospitalizados com prognóstico reservado.
São 20 horas do dia 30 de Agosto de 2013 e, segundo informações da Protecção Civil, o fogo estaria dominado.   
O fumo tem sido intenso e às 19 horas parece ser já de noite. O cheiro a queimado entra pelas janelas e as faúlhas caem por todo o lado.
Esperamos que seja verdade e que não haja reacendimentos…  

domingo, agosto 25, 2013

SANGUE NA ESTRADA


Apoiada numa “aranha” a velhinha estava junto à passadeira. Olhar suplicante esperava que algum automóvel abrandasse para que pudesse atravessar a estrada. Quando chegou a minha vez, parei, e fiz sinal à anciã para passar. Entretanto, alguém buzinou atrás de mim. Olhei pelo retrovisor e fiquei estupefacto: uma senhora gesticulava e pelos movimentos da boca percebi que me dirigia “elogios” por ter parado! Voltei a olhar. E então, vendo que a olhava, levou o dedo à testa naquele gesto que todos conhecem… Incrível como uma jovem tem atitudes destas!...
Tentei decorar a matrícula ou seguir o carro, mas infelizmente não consegui uma coisa nem outra. É que gostaria de lembrar àquela jovem senhora que, um dia, talvez ela poderá ter também necessidade que alguém pare para ela atravessar a estrada….
Não sei se já se aperceberam, mas o automóvel modifica de tal maneira o comportamento de certos indivíduos, que ficamos por vezes perplexos vendo a transformação que se opera neles quando por vezes nos ultrapassam a grande velocidade e nos olham com desdém, como se fossem verdadeiros donos e senhores da estrada, e nós uns empecilhos ou uns atrasados mentais. E é tão evidente essa transformação que chego a convencer-me que esses kamikazes do volante confundem carta de condução com uma autorização legal que lhes confere o direito de a transformarem numa “ licença para matar!“
Muitos dos indivíduos que vemos por detrás daquela rodinha que dá pelo nome de volante, não conduzem: - são suicidas disfarçados, desconhecedores das mais elementares regras do Código da Estrada. Consciente ou inconscientemente eles distraem-se brincando não só com a própria vida, como também com a dos que cumprem e respeitam rigorosamente as normas da condução.
Era comum ouvir-se, aqui há anos, que a culpa era das estradas, porque estreitas e de piso irregular. Para outros, a acusação recaía sobre os veículos, pois o nosso parque automóvel era dos mais velhos do Mundo e, assim, as máquinas que circulavam nas nossas rodovias eram velhos calhambeques ou caranguejolas multicores, que gingando e fumegando, lá iam atroando os ares com as suas estridentes buzinas, semeando o pânico e a morte.
Hoje tudo isso foi ultrapassado e tanto o estado das estradas como as características dos veículos mudaram completamente. No entanto e apesar de tudo isso a taxa de sinistralidade em Portugal continua a ser uma das mais elevadas de Europa. Aumentam-se as multas, triplicam-se os efectivos das Brigadas de Trânsito, adquirem-se novos equipamentos de fiscalização, mas os resultados são nulos e cada vez se morre mais nas estradas portuguesas. A semana passada ilustra de forma inequívoca essa realidade.
E a sinistralidade continuará enquanto não se adoptar uma pedagogia adequada para acabar de vez com a falta de educação e civismo dos condutores portugueses. Não vai ser fácil. Mas é urgente que se pense nisso. Nenhuma outra solução resultará.
































INSTRUIR E EDUCAR

A boa educação, a delicadeza e as boas maneiras, caldeadas num cadinho com um tudo-nada de cultura, traçavam, outrora, o perfil do mais comum dos Cidadãos.
Havia depois os outros que, numa escala com números mais altos, constituíam a nata da sociedade, onde se perfilavam as mais variadas profissões -juízes, médicos, advogados, políticos e professores, faziam parte desse leque de indivíduos que, na sua generalidade, inspiravam uma certa confiança e ditavam os padrões de valores a seguir.
Sem menosprezo para qualquer um dos citados, vou hoje falar-vos do Professor. E isso porque, nesta Sociedade de hoje em que todos parecem apostados numa ânsia desvairada de obtenção de prazeres e de lucros fáceis, continua a descurar-se, completamente, a formação das gerações vindouras.
Se é verdade que existem algumas excepções, e há ainda famílias em que os pais sabem ensinar os filhos e incutir-lhes os valores da boa educação, do sentido da responsabilidade, da disciplina e do respeito pelos mais velhos, a maior parte dos nossos jovens desconhece, por completo, as mais rudimentares regras desses padrões.
Não vou aqui entrar em pormenores, nem tão pouco arvorar-me em moralista. Nada disso. Já transpus muita barreira, já cai muitas vezes, levantei-me outras tantas e não é agora, com o Sol quase no ocaso, que vou invadir terrenos alheios e, quixotescamente, lutar contra essa fortaleza inexpugnável que é a Nova Escola.
O que pretendo com este desabafo de hoje, é prestar uma sincera homenagem de agradecimento e gratidão, ainda que póstuma (e bem póstuma!...), à minha Professora da instrução primária, que fazia da sua profissão uma arte e um sacerdócio. Instruir e educar, era a sua divisa. A Escola era o complemento do lar, e o que não se trazia de casa era ensinado na sala de aulas. Era assim que era construído o travejamento social do mundo de amanhã.
"O magistério deve ser uma profissão vocacional; não há pior mestre que o animado por simples fins lucrativos, nem pior pedagogia do que a aquela que é praticada sem amor..." 
Nesta citação está a resposta para muitas das situações que se vivem actualmente nas nossas Escolas.
Academicamente, posso não ser a pessoa abalizada para tal conclusão. No entanto, o meu CV – o “Certificado de Velhice” – um diploma que a velhice me conferiu e que foi obtido não em aulas teóricas, mas em aulas práticas e vividas, autoriza-me a fazê-lo.







sábado, agosto 10, 2013

O CASAMENTO DE DONA VÍRGULA


Não é muito numerosa a família, mas os membros que formam a copa da sua árvore genealógica são indispensáveis, sobretudo no campo das Letras e até das Leis…
Um dia, um dos seus membros, DONA VÍRGULA, tomou-se de amores pelo ACENTO CIRCUNFLEXO e apesar da opinião desfavorável do PONTO DE INTERROGAÇÃO, que punha no enlace algumas RETICÊNCIAS, o casamento foi marcado, tendo ficado combinado que a cerimónia se realizaria num grande espaço pertencente à matriarca, que dava pelo nome de PONTUAÇÃO.
Porém, na véspera do casamento, aconteceu o inesperado: Uma alcoviteira, cujo nome não foi revelado, veio noite dentro, informar DONA VÍRGULA de que o seu amado se tinha enamorado de outra mulher de duvidosa fama, conhecida no meio, pelo estranho nome de CEDILHA!
Não podendo conter a raiva, DONA VÍRGULA, mandou chamar o traidor a fim de lhe pedir explicações, pois não era fêmea que se deixasse enxovalhar aos olhos de toda a sua tribo. Logo que ele entrou no salão, DONA VÍRGULA, esguichando ódio por todos os poros, virou-se para as aias e gritou-lhes: abram ASPAS!...
E com as janelas abertas, talvez motivada pelos cheiros das flores vindos do quintal, DONA VÍRGULA ficou mais calma, mandou fechar ASPAS e ficou só com o ACENTO CIRCUNFLEXO.
E começou então a conversa entre os dois:
- Não imaginas como estava contente por entrar, finalmente, no teu PARÊNTESIS, - começou DONA VÍRGULA.
- DONA VÍRGULA, Senhora minha- interrompeu o ACENTO CIRCUNFLEXO… Mas a traída não o deixou continuar:
- Cala-te, traidor! Não negues. Eu sei tudo, até o seu nome. Chama-se CEDILHA e não sei como é que tu me trocaste por esse apêndice do C, que, por vezes, dá lugar a equívocos malcheirosos, transformando a caça em caca…
De repente ouviu-se um grande tropel e entraram na sala de rompante o ACENTO AGUDO, o ACENTO GRAVE e logo atrás o PONTO DE INTERROGAÇÃO, que com as RETICÊNCIAS tentaram pôr água na fervura, que é como quem diz, acalmar DONA VÍRGULA e livrar o ACENTO CIRCUNFLEXO daquela situação complicada. 
Este último, usando os seus dotes de para chuva, ainda tentou alertar os recém- chegados para o facto de DONA VIRGULA estar a ser intransigente e não querer ouvi-lo. Tudo em vão. MADAME VÍRGULA, pôs  ACENTO GRAVE  e rompeu o casamento…
Anos depois, o TRAÇO DE UNIÃO levou DONA VÍRGULA ao altar onde a esperava o PONTO…. E, nesse dia, consomou-se a união do PONTO e VIRGULA pondo um PONTO FINAL em toda a confusão que se tinha gerado na unida família da PONTUAÇÃO…    









OS AVÓS


Assinalou-se no passado dia 26 de Julho o Dia dos Avós. À parte algumas iniciativas levadas a cabo pela Igreja Católica, não houve, por parte do Governo, qualquer gesto ou cerimónia para assinalar a efeméride.
Quanto a nós seria legítimo que tivesse havido da parte de quem manda, no mínimo, uma comemoração simbólica que chamasse a atenção para o valor do enorme potencial dos idosos e para o  reconhecimento e apoio que necessitam e merecem da Sociedade e do Estado.
No Antigo Testamento o idoso era apontado como o exemplo para os mais novos – era uma espécie de correia de transmissão da sabedoria que vinha de Deus e da experiência que a vida lhe tinha ensinado.
Com efeito, ao longo dos anos, – quando os seus alicerces estão bem assentes na rocha firme da moral – o homem vai acumulando saberes, conhecimentos e valores que, reunidos, constituem um valioso património.
Com o andar do tempo e à medida que os sonhos se esfumam, que as paixões se esvaziam, e que à euforia de outrora sucede a crua realidade da vida, o idoso é um inesgotável manancial de ensinamentos. Nele foram desaguando, pouco a pouco, a experiência dos anos e a naturalidade das virtudes.
É esse conjunto de regras e preceitos, esses valores morais, afectivos e religiosos,  os pilares da família que deveriam servir de argamassa para tentar colmatar os rombos existentes nesta sociedade computadorizada e consumista, desumanizada pelo automatismo, pela informática e pela cibernética. Seria esse o fermento que contribuiria para a formação de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais experiente e mais humanizada.
Infelizmente não é isso o que acontece...
O homem sábio, do bom conselho, embora ainda exista, é posto de parte. Na sociedade actual não há lugar nem paciência para velhos. Os valores económicos aniquilaram os valores espirituais e culturais. 
Como de peças velhas se tratasse – muito embora o seu trabalho tivesse contribuído para a edificação daquilo a que se chama civilização moderna,  os idosos são marginalizados e lançados para o ferro velho, sem escrúpulos, sem respeito e sem dignidade!
Todo aquele que trabalhou honestamente e adquiriu saber não só na área profissional como também em termos de cultura, de bom senso, de prudência e de lucidez, é um livro cheio de conselhos e ensinamentos que merece ser folheado.
Celebrar o Dia dos Avós é comemorar a experiência de vida, maturidade e a sabedoria dos que são considerados segundos pais. E em qualquer parte há sempre uns Avós nos quais os netos têm, muitas vezes, a única referência de estabilidade, de afecto e de carinho.