quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Provérbios



Enganam-se todos aqueles que pensam que tento, através dos meus rabiscos, dar lições de moral ou ministrar a catequese a quem quer que seja. Nada disso. Soube sempre, durante a vida, assumir com humildade a minha ignorância e tento sempre não pisar o risco do círculo que delimita o meu saber. Muitas vezes tropeço em assuntos que mereceriam ser "arejados", mas porque ultrapassam os meus conhecimentos, retiro-os com jeito do caminho, e passo à frente.
Serve, por isso, este preâmbulo, para pôr as coisas no seu devido lugar informando alguns leitores de que os meus escritos não passam de simples e despretensiosos desabafos. Diz o ditado que "quem não deve não teme" e, por tal facto, penso poder expressar o que sinto cá dentro.
Também não escrevo por vaidade ou em busca de protagonismo, pois como diz também outro ditado "se queres viver tranquilo não acendas muitas luzes no teu caminho"... E é o que faço. E como os tempos já não permitem que se use o pau de marmeleiro, remédio antigo, mas eficaz, resigno-me, e aconchego-me bem sossegado no meu cantinho e, de vez em quando, no silêncio da noite, sem incomodar ninguém, entretenho-me a deitar, borda fora, todo este meu inconformismo acumulado. E escrevo. E confio ao papel o que me vai na alma…
Hoje, por exemplo, ao ouvir as reacções dos vários partidos políticos às palavras proferidas pelo Bastonário da Ordem dos Advogados acerca da corrupção, – esse espécie de sarna que grassa pelo País – mais uma vez tive a confirmação, com bastante tristeza, de que caminhamos a largos passos para a decadência total. De uma forma ou de outra todos sacodem a água do capote. Reina a hipocrisia no reino da Papagália. Todos palram, todos se esquivam, e ninguém tem culpas no cartório, embora o "assunto" tenha sido ventilado vezes sem conta. Mas... todos unidos, todos inocentes. Uns santinhos…
Os nossos valores que assentavam nos princípios da Fé Cristã, do Patriotismo e da Família, pouco a pouco, vão desaparecendo. É o preço que temos de pagar pelo progresso, dizem os entendidos. É assim a Democracia, arengam os outros – aqueles que dela se servem para enriquecer sem esforço, servindo-se dos "buracos" nas leis, alguns deixados propositadamente para eventuais "fugas".
E já repararam que esta maneira de governar só defende os interesses do grande capital e vai retirando aos mais pequenos, não só o produto do seu próprio trabalho como também os direitos e regalias conquistados ao longo de séculos? O que será preciso acontecer para que os burocratas do Terreiro do Paço, abandonem os seus gabinetes climatizados onde se fecham para decretar medidas teóricas, e venham conhecer o verdadeiro País?
E por que não vêm?!... Não de fugida, como é hábito, para inaugurar ou reinaugurar uns quilómetros de betão, mas para ficar algum tempo e poderem inteirar-se das reais necessidades de quem vive longe de tudo...
Mas voltando às palavras do Bastonário da Ordem dos Advogados que motivaram este desabafo de hoje, estou certo de que à semelhança do que tem vindo a acontecer há anos com as inúmeras denúncias sobre o mesmo caso, tudo não passará de simples "fumaça", pois os lobos não se comem uns aos outros. E isso durará enquanto houver "caça" miúda que se apanha com facilidade. E já agora, para terminar, permitam-me que cite mais um provérbio, o da semana passada: «É preciso tirar o dinheiro aos pobres. Eles têm pouco, mas são muitos..."

domingo, fevereiro 17, 2008

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Chefes


Chefes
Não sei se conhecem a história. Ela é velhinha como eu, mas vou contá-la outra vez, mesmo que, ao fazê-lo, corra o risco de que muitos não lhe achem graça nenhuma. Mas não faz mal. Ela aí vai…
Era uma vez um homem que entrou numa loja de passarada para comprar um papagaio. Deu uma volta pelo estabelecimento, olhou os vários palradores expostos para venda e dirigiu-se ao encarregado:
- Quanto custa este pássaro aqui, ó amigo? - Esse, respondeu o interpelado, custa 500 Euros. - É caro o passaroco, respondeu o comprador. -E este aqui? - Esse custa 1.000 euros, freguês, retorquiu o vendedor. - Tanta diferença no preço – estranhou o hipotético adquirente. - É que esse tanto fala português, como francês, alemão ou inglês, explicou por sua vez o dono da passarada. - Então e aquele além? - Aquele vai prós 1.500 euros, mas além de falar várias línguas, sabe também atender o telemóvel…
- E o último lá ao fundo, à direita? - Ah! Esse é pássaro para 2.500 Euros!... Ena pá! E o que faz ele para custar assim tanto dinheiro? - Lá isso não lhe sei dizer, respondeu o vendedor. Mas logo explicou: - O que sei dizer é que aqui na loja todos os outros lhe chamam chefe…
Os que acharam graça podem continuar a ler. Os outros, deixem a leitura, mas não joguem o jornal para o chão. Ponham-no no papelão para ser reciclado.
Antigamente, os jornais, no fim de lidos, tinham vários préstimos: ou rasgavam-se em pedaços e levavam-se para a “casinha”onde serviam para aquilo que imaginam; ou guardavam-se para servir de esteira para pôr a fruta no sótão; ou as mulheres que vendiam sardinha de porta em porta serviam-se deles para embrulhar as ditas; ou os merceeiros poupavam o papel almaço e faziam cartuchos onde metiam o arroz que depois pesavam… e havia até quem os usasse para calafetar as portas e as janelas no Inverno. Vejam lá!...
Assim, o jornal, além da leitura e depois desta terminada, tinha ainda muitos outros préstimos, como atrás se exemplifica. Eram outros tempos e os jornais dessa época não traziam tantos “explosivos” escondidos nas suas páginas. Eram, se quiserem, jornais “biológicos”!
Mas voltemos à história que deu origem a este borrão de hoje. E volto aos papagaios e aos chefes, para vos dizer que somos de facto um País de chefes. Muitos chefes. Chefes como o papagaio da história que nada fazem, nada valem, mas que…por artes de berliques e berloques foram promovidos e colaram-lhe nas costas uma etiqueta de chefe. E ele há chefes por todo o lado. E são tantos que qualquer dia não há quem trabalhe, porque chefe é chefe, e chefe não trabalha. E se hoje me lembrei da história, é porque quando ouço os nossos “chefões” falar de produtividade, de profissionalismo, de competição, lembro-me sempre do papagaio do qual o vendedor nada sabia a não ser que lhe chamavam chefe!...