sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Chefes


Chefes
Não sei se conhecem a história. Ela é velhinha como eu, mas vou contá-la outra vez, mesmo que, ao fazê-lo, corra o risco de que muitos não lhe achem graça nenhuma. Mas não faz mal. Ela aí vai…
Era uma vez um homem que entrou numa loja de passarada para comprar um papagaio. Deu uma volta pelo estabelecimento, olhou os vários palradores expostos para venda e dirigiu-se ao encarregado:
- Quanto custa este pássaro aqui, ó amigo? - Esse, respondeu o interpelado, custa 500 Euros. - É caro o passaroco, respondeu o comprador. -E este aqui? - Esse custa 1.000 euros, freguês, retorquiu o vendedor. - Tanta diferença no preço – estranhou o hipotético adquirente. - É que esse tanto fala português, como francês, alemão ou inglês, explicou por sua vez o dono da passarada. - Então e aquele além? - Aquele vai prós 1.500 euros, mas além de falar várias línguas, sabe também atender o telemóvel…
- E o último lá ao fundo, à direita? - Ah! Esse é pássaro para 2.500 Euros!... Ena pá! E o que faz ele para custar assim tanto dinheiro? - Lá isso não lhe sei dizer, respondeu o vendedor. Mas logo explicou: - O que sei dizer é que aqui na loja todos os outros lhe chamam chefe…
Os que acharam graça podem continuar a ler. Os outros, deixem a leitura, mas não joguem o jornal para o chão. Ponham-no no papelão para ser reciclado.
Antigamente, os jornais, no fim de lidos, tinham vários préstimos: ou rasgavam-se em pedaços e levavam-se para a “casinha”onde serviam para aquilo que imaginam; ou guardavam-se para servir de esteira para pôr a fruta no sótão; ou as mulheres que vendiam sardinha de porta em porta serviam-se deles para embrulhar as ditas; ou os merceeiros poupavam o papel almaço e faziam cartuchos onde metiam o arroz que depois pesavam… e havia até quem os usasse para calafetar as portas e as janelas no Inverno. Vejam lá!...
Assim, o jornal, além da leitura e depois desta terminada, tinha ainda muitos outros préstimos, como atrás se exemplifica. Eram outros tempos e os jornais dessa época não traziam tantos “explosivos” escondidos nas suas páginas. Eram, se quiserem, jornais “biológicos”!
Mas voltemos à história que deu origem a este borrão de hoje. E volto aos papagaios e aos chefes, para vos dizer que somos de facto um País de chefes. Muitos chefes. Chefes como o papagaio da história que nada fazem, nada valem, mas que…por artes de berliques e berloques foram promovidos e colaram-lhe nas costas uma etiqueta de chefe. E ele há chefes por todo o lado. E são tantos que qualquer dia não há quem trabalhe, porque chefe é chefe, e chefe não trabalha. E se hoje me lembrei da história, é porque quando ouço os nossos “chefões” falar de produtividade, de profissionalismo, de competição, lembro-me sempre do papagaio do qual o vendedor nada sabia a não ser que lhe chamavam chefe!...

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