sábado, fevereiro 08, 2014

NA IGREJA - COMEMORAÇÃO DOS 25 ANOS DA PARÓQUIA




Embora só em 15 de Janeiro de 1989 a Paróquia do Tourigo tenha sido criada e oficializada pelo então Bispo da Diocese D. António Monteiro, sendo Pároco o Padre Bernardo Simões, já há muitos anos que a povoação do Tourigo se podia considerar uma autêntica comunidade de fé.
Os valores cristãos vêm de longe e de tal maneira ficaram enraizados que ainda hoje prevalecem.
Com a elevação do Tourigo a freguesia - uma ideia há muito ansiada pela população - a criação da Paróquia agigantou-se e teve a sua concretização na data acima enunciada.
Poderíamos ir mais longe no tempo, mas basta irmos aos princípios do século dezanove em que existiu na povoação um Colégio, dirigido pelo erudito pároco Pe. Inácio Pereira Viegas, um dos Padres mestres mais acreditados em toda a Beira Alta.
Nessa altura a par da religiosidade do povo estava já muito divulgada a instrução e quase toda a gente sabia ler.
O Tourigo pode também orgulhar-se de ter sido berço de um ilustre Bispo, D. José Manuel de Carvalho que viria a ser Bispo de Macau e Timor e depois de Angra de Heroísmo. Seu sobrinho e secretário, Cónego Maximino Pereira Viegas seguiu o caminho traçado, exercendo aqui o seu sacerdócio e mandando construir em 1943 a Igreja onde hoje nos encontramos.
Referimos também a passagem pelo Tourigo das Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição que agora se encontram em Viseu e que permaneceram no Tourigo alguns anos por vontade de D. Hermínia, irmã do Senhor Cónego Maximino.
Outras figuras se destacaram na história cristã do Tourigo como é o caso de Cândida de Matos em religião Irmã Maria de Belém, do Padre Graciano, do Cónego Benito Bragança, do Padre Armando Costa, e de um Padre que merece especial referência que foi o saudoso Padre Bernardo Simões percursor da criação da Paróquia a quem se devem quase todas as iniciativas de caracter religioso, que hoje ainda prevalecem. De referir, a esse respeito, a estruturação da Paróquia segundo as orientações do Concílio Vaticano II – com a criação do conselho pastoral, conselho económico, tudo isto com a ajuda preciosa de leigos que se têm dedicado á paróquia com grade dedicação e empenho.
Estamos a tentar desenvolver, num pequeno opúsculo, mais em pormenor a vivência cristã da nossa Paróquia.

 

 

LENDA BÚLGARA


 
Quando somos surpreendidos com o anúncio da morte de alguém que nos é querido ou de alguém a quem estamos ligados por laços de amizade, há sempre um espaço de tempo, um vazio, uma espécie de incredulidade que medeia entre o sonho e a realidade!...
E são sempre as mesmas expressões que, espontaneamente nos saem dos lábios: «Quem diria que isto ia acontecer…» «Parece um sonho!...» «De um momento para o outro somos nada!...»
Mas é assim a Morte: imprevisível, traiçoeira e inesperada!...
E a pensar em tudo isso lembrei-me de uma lenda búlgara que li há anos e que vou contar:
Diz-se que certo dia Deus mandou a Morte ao mundo buscar a alma de um pai de família. A morte pegou do seu gadanho e dispôs-se a cumprir as ordens do Senhor. Bateu à porta e logo a dona de casa que era muito benfazeja, lhe ofereceu pousada e lhe pôs a mesa para que comesse.
- Não preciso de nada! - Respondeu a desconhecida. Venho apenas buscar a alma do teu marido.                   
Seguiu-se grande pranto: - «Ai que fico desgraçada sem pão para os meus filhinhos!» - bradava a esposa. - «Ai que ficamos orfãozinhos!» - choramingavam as crianças agarrando-se à Morte e pedindo-lhe que as atendesse...
E então a morte comoveu-se e deixou-os em paz. Entrou depois no Paraíso, disfarçadamente, julgando que Deus se esqueceria do recado que dera. Mas o pai do Céu não tardou a chamá-la a contas: - «Onde está a alma que te mandei trazer?» A morte desculpou-se a tremer:
- «Ó Senhor eram tantas as lágrimas e as súplicas das criancinhas que não tive coração de deixar aquela família em tamanha tristeza e penúria. Lembrei-me que seria mais acertado tirar do mundo tantos outros que nada produzem e que não fazem falta...»
E Deus com o rosto severo mandou de novo:
- «Desce ao fundo do mar e apanha a primeira pedra que encontrares...»
A morte obedeceu e trouxe a pedra. - «Abre-a ao meio e diz-me quem criou o vermezinho que lá mora?» - «Fostes vós, Senhor!» - «Quem o alimenta?» - «Sois vós, Senhor!»      
- «Ora se eu cuidei de um vermezinho que se cria no fundo do mar, pensas que me esquecerei dos filhos dos homens?!...»
E continuou: - «Doravante serás cega para não veres se são grandes ou pequenos, casados ou solteiros os que te mandar buscar. Serás surda para não ouvires os seus lamentos e serás muda para não dizeres ao que vais...»
E desde então a morte ficou cega, surda e muda e quando chega, vem disfarçada e ninguém a conhece...
Aqui fica a história. E apesar de não passar de uma lenda, ela esconde, debaixo do seu manto de fantasia, uma realidade à qual ninguém pode ficar indiferente.

 

 

 

 

 

 

OS PREPOTENTES E INFALÍVEIS


 

Tive sempre muita dificuldade em conviver ou trabalhar com pessoas prepotentes. Infelizmente, pese embora as penosas circunstâncias em que vivemos, o que mais se vê por aí são esses exemplares presunçosos, egoístas e geralmente mal formados.
O principal problema da prepotência é que ela parte de um princípio absolutamente improvável.
O prepotente julga-se sempre o mais apto, o melhor, o mais capacitado, o mais conhecedor seja qual for a área em que exerce a sua influência. Muitos deles conseguem até pensar que são “mais” e “melhores” em várias áreas simultaneamente!
Os prepotentes são pessoas de difícil trato, conseguem afastar os outros de si mesmo, estabelecendo uma certa distância em relação aos demais. Não são sociáveis, mas não percebem por que não o conseguem.
Os prepotentes têm complexos de inferioridade e por isso espezinham os outros, porque não conseguem suportar o seu sentimento interno de pequenez.
Um dos postulados mais básicos da filosofia já diz que, quanto mais se sabe, mais se sabe que não se sabe nada ou, dito de outra maneira, quanto mais conhecimento se adquire, mais se tem a noção de que ainda se tem muito que aprender.
Há ainda uma outra característica, talvez ainda mais perigosa, que é a infalibilidade. Os prepotentes acreditam que são infalíveis.
Eles nunca erram. Ou, se erram, não admitem que a culpa possa vir deles próprios. A culpa é sempre e só dos outros.
Como a prepotência anda sempre de braço dado com a arrogância - ambas filhas do mesmo complexo de inferioridade - o prepotente defende-se, passando certificados de ignorância e de incapacidade a tudo e a todos, sem nunca assumir que alguma vez se possa ter enganado.
Talvez eu tenha sido educado de forma errada mas, para mim, errar faz parte do processo de aprender. Para o prepotente, porém, a palavra “errar” não existe.
Nenhuma criança começa a caminhar quando completa nove meses de idade. Tudo, na Natureza, é feito por etapas, tudo faz parte de um processo: a criança começa por gatinhar, por dar quedas, por se levantar, manter-se uns instantes de pé e só depois de algum tempo consegue manter o equilíbrio e, finalmente atingir o modo normal da locomoção.
Durante a minha já longa caminhada tenho notado que aqueles que querem correr mais depressa subestimando a marcha do companheiro do lado, geralmente acabam, de facto, por chegar primeiro, mas enchem-se de tanta sapiência balofa que, terminam o “percurso” sozinhos, sem amigos que os aplaudam. Aprender a ser um cidadão de corpo inteiro é um processo crescimento contínuo.  E esse crescimento deve ser acompanhado de muita compreensão, de muito respeito pelos outros e sobretudo de muita humildade. Infelizmente vivemos numa sociedade onde o poder se confunde com prepotência. Não há vergonha, não há integridade. O nosso quotidiano é fértil nesses episódios.

 

 

 

 

 

 

 

 

TRABALHAR?!...


 
Apesar de esta história ser antiga e de se ter passado há muitos séculos, ainda continuamos todos a sofrer as suas consequências. Mas vamos a ela: era uma vez um senhor chamado Adão…

Adão e a companheira viviam regaladamente num local chamado Paraíso sem quaisquer preocupações, sem pagar renda de casa, isentos de IRS ou outros quaisquer impostos, sem presidentes, sem ministros, sem oposição, sem deputados, sem televisão, sem internet, sem telemóveis, sem poluição, alumiados apenas pela luz das estrelas!
Um dia, porém, Adão deixou-se levar pela conversa da consorte e desobedeceu a ordens superiores…
Vestiu fato de apurado corte, pôs gravata, arvorou-se naquilo a que hoje poderemos chamar de líder, encheu o peito de ar, queixou-se da falta de víveres frescos e trincou a maçã!...
E Deus não gostou! E indignou-se! E pô-los fora de casa tirando-lhes todas as regalias.
E à guisa de condenação deu-lhes como castigo – extensivo a todas as gerações vindouras - o cumprimento de uma tarefa humilhante e pesada a que deu o nome de Trabalho!
E aqui tendes caros leitores a verdadeira causa de todas as desgraças que atingem o Mundo e em particular o nosso rectângulo – O TRABALHO!
Não é por acaso que todos fogem dele. Aliás, com alguma razão, penso eu, pois tendo ele nascido de uma condenação divina, não deveriam, os crentes, excomungá-lo e evitar até qualquer privacidade com ele?
Seguindo esse critério e salvo opiniões em contrário dos especialistas na matéria, obrigar alguém a trabalhar não será um pecado? Não será incorrer na negação daquilo que nos ensinaram sobre a existência do tal Paraíso? 
Há quem condene os grevistas que fogem do trabalho como o diabo da cruz, mas bem vistas as coisas, algumas razões lhes assistem…
Aliás, se não houvesse trabalho, já repararam nos males que deixariam de nos afligir?
Não haveria impostos, não haveria sindicatos, não haveria greves, não haveria falências, não haveria ladrões por que não havia dinheiro; não haveria partidos políticos, porque não havia quem os subsidiasse; enfim, não havia tantas outras coisas más e tanta pouca vergonha...
Mas há ainda aqueles que defendem o trabalho e que não cessam de lhe atribuir predicados: “que o trabalho dá saúde, que sem trabalho não há pão, que o trabalho enobrece…”
E são, sobretudo, os “feitores” e os capatazes cá da quinta, que lançam esses boatos hipócrita e disfarçadamente, pois na verdade são os que menos fazem, mas que mais proveitos têm. Sem trabalhar…
Dir-me-ão que o que escrevi é uma forma jocosa de encarar um facto sério… É verdade. Mas também não é verdade que hoje tudo o que é sério é encarado com leviandade?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PERGUNTA SEM RESPOSTA


Como é possível que um ser capaz de pensar, sentir e de se cultivar tenha tido, ao que tudo indica, como primeiro antecedente, essa enorme família que é a dos grandes macacos?
Como e em que circunstância pode ele tornar-se nesta criatura elegante capaz de andar, de raciocinar, e graças à sua determinação e à tecnologia que criou, chegar ao ponto de dominar o Mundo?
Os “prés-homens” de há um milhão de anos caçavam, cultivavam plantas e viviam, devendo a sua subsistência ao respeito que nutriam pelo mundo que os rodeava. Nós, “homo sapiens-sapiens”, fazemos guerras, exploramos sistematicamente as reservas limitadas do meio em que vivemos, acreditamos na sua duração eterna e tapamos propositadamente os olhos para não vermos as injustiças, as guerras e a miséria!
Dizem alguns sábios que é devido a essa origem comum com o reino animal que herdámos um instinto agressivo que necessita de ser extravasado.
E invocam para o justificar o facto de num determinado momento da nossa evolução, termos deixado de ser vegetarianos e começarmos a matar, não só a caça, mas também o nosso semelhante…
Teoria talvez um pouco controversa, mas cuja discussão, no contexto dos tempos que estamos a atravessar, mereceria uma análise mais profunda, pois a evidência de certos factos e a explosão de alguns instintos bárbaros, são factores por de mais importantes para serem ignorados. Ainda que isso seja da exclusiva competência dos paleoantropólogos, ninguém, no entanto, me pode proibir de ter sobre o assunto a minha opinião. O simples facto de assistir, por vezes, a comportamentos tão primitivos quanto cruéis, leva-me a concluir que a evolução do ser humano atingiu o topo da escala e fiel às origens ele começa a inverter a marcha e não tardará muito que ele não vista de novo a pele do falecido pai, o famoso “Ramapithecos”!
E então será o seu regresso ao estatuto inicial de simples humanóide, sem qualquer diferença que o distinga dos membros da sua longínqua família.
No entanto não deixa de ser angustiante ver o homem, com um poder quase ilimitado, tornar-se incapaz de se controlar, contribuindo, ele próprio, para a sua destruição.
Sem pessimismos exagerados, mas olhando a dura realidade do dia-a-dia, não restam dúvidas que o Mundo se está a transformar numa grande floresta de anões indefesos…
Anões indefessos enfrentando gigantes tirânicos, que acompanhados pelo palrar dos papagaios e pelas momices bem orquestradas dos detentores do poder, depois de banquetes pantagruélicos e à guisa de eructações animalescas, vomitam leis em alívio próprio e desgraça alheia – é assim a versão moderna do primitivismo. E é por isso que, por vezes, eu pergunto a mim mesmo como será o homem do futuro….

Será um deus que caiu da abóboda etérea e ainda se lembra de onde veio ou um simples humanóide que emergiu da lama e a ela quer regressar?