quinta-feira, junho 11, 2015


VII CONVÍVIO DOS ANTIGOS ALUNOS DO COLÉGIO TOMAZ RIBEIRO

 
          Como anunciado, realizou-se no passado dia 30 de Maio de 2015, o sétimo convívio dos antigos alunos do Colégio Tomaz Ribeiro de Tondela. O encontro teve lugar no Solar de Vilar de Besteiros, uma jóia arquitectónica concelhia que data de 1745, classificada como monumento de interesse público.

         Cerca das 10h30 da manhã começaram a chegar os participantes e os veículos foram-se alinhando no interior do Solar no belo parque destinado ao estacionamento dos mesmos.

         O número de participantes tem vindo a diminuir de ano para ano, pois é assim a lei da Vida – uns porque já nos deixaram, outros porque o seu estado de saúde já não lhes permite estarem presentes fisicamente. Mesmo assim, e porque as recordações de outrora e a amizade não se apagam facilmente da memória, alguns resistentes ainda fizeram questão de estar presentes, embora na companhia da “amiga” e tradicional bengala!

         O encontro começou com uma celebração religiosa na capela do Solar, gentilmente cedida pela anfitriã, Dr.ª Maria Parreira do Amaral que, aliás, foi, durante a estada naquele aprazível espaço de uma gentileza ímpar.

         Presidiu a essa cerimónia o diácono Felisberto Figueiredo a quem agradecemos a disponibilidade e que com as suas palavras trouxe ao encontro um verdadeiro espírito fraternal.

         Seguiu-se depois uma visita pelo interior do Solar conduzida pela anfitriã que foi dando explicações à mistura com referências históricas alusivas às várias salas e objectos nelas expostos. 

          Terminada a visita e como introdução ao almoço, foram servidos ao ar livre, no espaço interior, fronteiriço ao Solar, variados acepipes de confecção instantânea, quentinhos, que abriram ainda mais o apetite para a refeição que foi servida numa das salas do Solar.

         O almoço bem confeccionado e servido com requinte contribuiu ainda mais para reforçar a boa disposição e alegria vivida entre velhos amigos, onde as recordações foram o tema dominante e em que se esqueceram, ainda que por momentos, as maleitas e as “cicatrizes” deixadas pela relha do arado do tempo.

         António Faria Gomes, um dos dinamizadores destes encontros usou da palavra para agradecer à anfitriã a sua afabilidade e gentil maneira de receber, e depois a todos os colegas presentes, sem esquecer de evocar aqueles que já partiram. Falou também dos laços que o ligam a Tondela sem esquecer a história dos “carrinhos de rolamentos” na qual teve a ajuda do Pai de um colega presente, o Sanches, que serviu para relembrar coisas do passado. Foi, enfim, um mais um dia que ficará na história dos “resistentes” do “Tomaz Ribeiro”.

          O próximo convívio ficou marcado para o dia 04 de Junho de 2016.

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ESTE TEMPO EM QUE VIVEMOS


 
Estamos a viver tempos difíceis. E apesar de os nossos fazedores de milagres, que são os políticos, continuarem a prometer mundos e fundos e a fazer promessas em catadupa, a desconfiança - um dos sinais de alarme que podem contribuir para a decadência de um Povo - generalizou-se, nada pressagiando de bom.

As pessoas vivem umas com as outras, mas parecem esconder no seu interior uma profunda desilusão. Convivem, falam, brincam, mas sempre com um pé atrás, com disfarces invisíveis e com uma desconfiança mútua. Suportam-se e defendem-se umas das outras com diversificadas artimanhas – com deferências cínicas, com a exteriorização de riqueza que a maior parte das vezes não possuem, com licenciaturas duvidosas ou com a ostentação de uma sabedoria fictícia traduzida em chavões enferrujados adquiridos nesses alfobres de cola cartazes.

É um tempo do salve-se quem puder. Um tempo de indiferença e de inversão de valores com os ladrões a fingir de honestos, os oportunistas a ocupar o lugar dos competentes e os materialistas a escorraçarem os defensores do verdadeiro e puro idealismo.

O dinheiro corrompe as consciências, manipula a honestidade e faz com que se atraiçoem os amigos, construindo uma sociedade de traidores e de ladrões. O vale tudo adquiriu o estatuto de lei e funciona como tal. A roubalheira é uma espécie de pandemia, que se alastra a todos os sectores da vida nacional. A continuar assim, pouco faltará para que a honestidade seja considerada crime com todos os castigos inerentes à sua prática.

A sociedade está a abarrotar de doutores, de tecnocratas e de especialistas analfabetos. E toda esta plêiade de cérebros privilegiados não se cansa de apregoar a vinda de tempos e ideias novas, mas sem conseguir explicar os benefícios de toda essa mudança!

Estamos numa sociedade dominada pela falsidade e pelo egoísmo e em que as pessoas são cada vez mais atacadas por uma surdez propositada. Já ninguém acredita naquilo que ouve, pois são tantas as desilusões que o tempo de acreditar se esgotou. O que se vê com mais frequência é a dilatação do ventre e das contas bancárias desses fazedores de milagres, que referi no começo, e que quer chova quer faça sol, não deixam de se comportar como vedetas, como donos do Mundo!

Entretanto, a hipocrisia vai-se instalando paulatinamente neste lodaçal de cinismo, de bajulação e de desprezo pelos mais elementares princípios da moral e da ética.

A luta pelo mando, pela ambição e pela influência são as cores dominantes no cenário cinzento dos dias que passam. Entretanto e em nome dos “brandos costumes” cresce assustadoramente a procissão de vigaristas, que o Poder vai transformando em heróis…

 

 

 

 

 

 

 

UM CRIME NA SERRA


 
Isolado bem no alto da serra, lá ia sobrevivendo sem quaisquer ajudas do Estado. Mas também não havia dinheiro que pudesse pagar a tranquilidade e a paz de espírito de que desfrutavam naquele ermo. No seu mundo rural tudo tinha mudado e quase tudo era proibido. A tal “ASAE” & Associados tinham dado o golpe final...

Desconfiado de todas as modernices, entretinha-se a cultivar a terra ingrata, mas que lhe dava o sustento para a mulher e dois filhos e ainda para a criação de galinhas, porcos, patos, um chibo e duas cabras que lhe davam o leite para os miúdos. Na semana passada a sogra viera viver com eles e era mais uma boca a sustentar. Vida ingrata! De cada vez que ouvia notícias acerca dos ordenados e da vida despreocupada de certos “senhores” e afins, tinha ganas de lhes apertar os gasganetes!..

A última novidade trazida por um sobrinho informando-os de que nem animais da própria criação se podiam abater sem ser num matadouro, foi a gota de água: «Vão pró raio que os parta!...» E cada vez se agigantava mais a ideia que o perseguia há algum tempo. Estava decidido. Ia fazê-lo. A mulher sempre temente às leis e a Deus, tentava dissuadi-lo: «-Ó Francisco, tu já pensaste no que vais fazer?» «-É evidente que sim, mas diz lá como vamos fazer para dar de comer a todos?» - «- Não sei, mas matar assim…E se descobrirem?...»

- Se descobrirem que se lixem! Está tudo preparado e já não se pode recuar. O compadre Barnabé vai ajudar-me e vais ver que tudo há-de correr bem. Lembra-te que é para bem dos nossos filhos e até da tua mãe. Ninguém vai descobrir.

Bateram à porta. A mulher espreitou pela janela. Era a carrinha do compadre Barnabé. O Francisco deu um pulo na cadeira, pegou na enorme faca que tinha afiado há pouco, e saiu porta fora.

De manhã os filhos notaram a falta do pai. «Foi trabalhar e só vem noite dentro», disse-lhes a mãe. E era já alta noite quando a porta se abriu de mansinho. Era o regresso. Entrou o Francisco seguido do compadre Barnabé, sorridentes, camisas ensanguentadas e cada um com seu saco às costas. O saco do Francisco estava roto e pelo rasgão saia uma perna da vítima…

A mãe, aflita, perguntou: «Têm a certeza de que ninguém vos viu?!...» Foi Barnabé, já habituado, pois já não era o primeiro que liquidava, que respondeu: - «-Calma! Não esteja nervosa. O servicinho foi feito como manda a praxe. Mas que belo bicho, comadre. Criado com batatas e hortaliça cá destas nossas courelas, que belos presuntos vamos ter, sem corantes nem conservantes - o tradicional e genuíno produto que ainda se encontra nos lugares mais recônditos do nosso Portugal. Nem os do Alentejo, criados com bolota, têm o mesmo gosto!...»