Estamos a viver tempos difíceis. E apesar
de os nossos fazedores de milagres, que são os políticos, continuarem a
prometer mundos e fundos e a fazer promessas em catadupa, a desconfiança - um dos
sinais de alarme que podem contribuir para a decadência de um Povo -
generalizou-se, nada pressagiando de bom.
As pessoas vivem umas com as outras, mas
parecem esconder no seu interior uma profunda desilusão. Convivem, falam,
brincam, mas sempre com um pé atrás, com disfarces invisíveis e com uma
desconfiança mútua. Suportam-se e defendem-se umas das outras com
diversificadas artimanhas – com deferências cínicas, com a exteriorização de
riqueza que a maior parte das vezes não possuem, com licenciaturas duvidosas ou
com a ostentação de uma sabedoria fictícia traduzida em chavões enferrujados
adquiridos nesses alfobres de cola cartazes.
É um tempo do salve-se quem puder. Um
tempo de indiferença e de inversão de valores com os ladrões a fingir de honestos,
os oportunistas a ocupar o lugar dos competentes e os materialistas a
escorraçarem os defensores do verdadeiro e puro idealismo.
O dinheiro corrompe as consciências,
manipula a honestidade e faz com que se atraiçoem os amigos, construindo uma sociedade
de traidores e de ladrões. O vale tudo adquiriu o estatuto de lei e funciona
como tal. A roubalheira é uma espécie de pandemia, que se alastra a todos os
sectores da vida nacional. A continuar assim, pouco faltará para que a
honestidade seja considerada crime com todos os castigos inerentes à sua
prática.
A sociedade está a abarrotar de
doutores, de tecnocratas e de especialistas analfabetos. E toda esta plêiade de
cérebros privilegiados não se cansa de apregoar a vinda de tempos e ideias
novas, mas sem conseguir explicar os benefícios de toda essa mudança!
Estamos numa sociedade dominada pela
falsidade e pelo egoísmo e em que as pessoas são cada vez mais atacadas por uma
surdez propositada. Já ninguém acredita naquilo que ouve, pois são tantas as desilusões
que o tempo de acreditar se esgotou. O que se vê com mais frequência é a
dilatação do ventre e das contas bancárias desses fazedores de milagres, que
referi no começo, e que quer chova quer faça sol, não deixam de se comportar
como vedetas, como donos do Mundo!
Entretanto, a hipocrisia vai-se
instalando paulatinamente neste lodaçal de cinismo, de bajulação e de desprezo
pelos mais elementares princípios da moral e da ética.
A luta pelo mando, pela ambição e pela influência
são as cores dominantes no cenário cinzento dos dias que passam. Entretanto e em
nome dos “brandos costumes” cresce assustadoramente a procissão de vigaristas,
que o Poder vai transformando em heróis…
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