segunda-feira, setembro 12, 2016

VIVER A VIDA QUE A MORTE É CERTA


Fui e continuo a ser um apaixonado pelos escritores franceses. E isso porque durante três décadas da minha vida, - entre os 24 e os 55 anos - foram os seus livros que me serviram de companhia. De um deles, “Un Art de Vivre” de André Maurois, retive uma frase que tento adoptar, não como antídoto eficaz contra a velhice, mas como uma espécie de retardador da sua chegada.
A certa altura do livro escreveu o autor que «o verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, mas a indiferença da alma».
Acredito que esta pequena frase seja motivo de troça por parte de muita gente, mas no meu caso pessoal, como crente que sou e pelas experiências vividas, penso que nela está o segredo que me leva a gostar cada vez mais da vida.
Sou, como sabem todos aqueles que me conhecem, um homem que transporta um pesado bornal de Invernos e a maior parte vividos sem guarda-chuva.
Já passei por muitas situações - boas e más. Mas nessas minhas andanças pela vida nunca ocupei um lugar de destaque, nunca fiz um grande gesto pela humanidade, nunca me evidenciei por qualquer feito ou causa e também nada fiz para que me transformasse num herói. E o meu maior orgulho é poder dizer alto e bom som que nunca comi com talheres do Estado...
No entanto penso que tenho o direito de, pelo menos, “sonhar” com mais uns anitos, porque gosto da vida e de tudo o que ela me tem proporcionado até hoje. Não quero adormecer para sempre. Não quero deixar os que me são queridos, as árvores e as flores do meu quintal.
Quem disse que já estou a mais e que não faria falta a ninguém? E mesmo que não fizesse, onde está escrito que isso é motivo para deixar a vida? Quem pensa assim? Os meus herdeiros? Não, porque já lhes dei tudo o que tinha e eles sabem. Os meus inimigos? Esses também não, porque como diz o ditado “ vozes de burro...”    
Também segundo a opinião do meu médico a “coisa” não está assim tão má que não possa durar mais uns anitos. Portanto...
É curioso! Quando cheguei aos sessenta, disse cá pra comigo: até aos setenta ainda faltam dez. Depois aos setenta, baixinho, pedi para chegar aos oitenta. Agora, que já cheguei aos noventa, esta minha vontade de viver continua cada vez mais forte.
E como é bela esta caminhada! Como é maravilhosa a Vida quando a lapidamos com o cinzel da humildade, a polimos com fraternidade e a vivemos com amor, rodeados pela família e amigos verdadeiros, sem ganância, sem ódios, nem invejas!...
E como julgo também ter esse direito...vou arejar os neurónios. Até breve!



CHAMAR OS BOIS PELOS NOMES


Com esta praga nacional de larápios, de golpistas, de corruptos e de oportunistas espalhados de norte a sul do rectângulo, admira-me que não tenha surgido ainda um Organismo próprio para eternizar os seus nomes em ruas ou em estátuas!
Eles são tantos e tão "importantes" que mereciam ser distinguidos quanto mais não fosse para que as gerações vindouras tivessem em quem descarregar a sua revolta quando soubessem quem lhes estragou a vidinha e o futuro!
Fazem-se sondagens e elaboram-se estatísticas quase diariamente, mas como é impossível fazê-las para apresentar números e dar a conhecer ao povo a percentagem de homens honestos que ainda existem no país, cá vamos vivendo nesta promiscuidade democrática, assistindo à subida fulgurante de uns e à derrocada estrondosa de outros.
Quem mais surripia, quem mais infringe, quem mais corrompe, quem mais ganha e menos faz em maior herói se transforma. 
Num país em que a prodigalidade na atribuição de condecorações e honrarias faz parte integrante do folclore nacional, não distinguir esses heróis é falsear a história. 
Não é preciso ter qualquer canudo, seja em que área for, para se perceber que a galopante degradação da sociedade, nomeadamente no capítulo da honestidade, não pressagia nada de bom para o futuro.
O materialismo reinante e o abuso do poder fazem com que sejam cada vez mais os desmandos, e que a competência, a responsabilidade e a seriedade sejam cada vez menos exigidas para o desempenho de qualquer missão.
O indígena que hoje é capa de jornal por ter sido acusado do desvio de uns milhões, de procedimento menos civilizado, de falcatruas ou de recebimento de dinheiros indevidos, amanhã aparece nos mesmos jornais, nomeado para outro cargo, algumas vezes até de maior relevo do que aquele que ocupava anteriormente! 
Perdeu-se a noção da realidade das coisas – a noção do que está bem, do que está mal, a diferença entre a desonestidade e a honradez, a destrinça entre o homem honesto e o criminoso.
Agir assim é o mesmo que conceder à impunidade uma espécie de desígnio nacional.

Sem medidas urgentes e perante tanta injustiça, qual a reacção, a médio prazo, do honrado cidadão desfavorecido e carenciado em relação a esse bando de ladrões e parasitas que vive na opulência e se passeia impunemente pelas nossas ruas?

LÁGRIMAS


O escritor francês Baudelaire, referindo-se à Morte, disse um dia, mais palavra, menos palavra “que em cada minuto que passa, essa ideia, essa sensação do fim, está sempre presente, esmagando e absorvendo o nosso pensamento…”
Esbarrei, por acaso, contra as palavras do autor de Flores do Mal, dias depois de ter sido confrontado com a “partida” abrupta de um menino…
Embora tal facto, na minha idade, não seja já uma obsessão, (é antes uma submissão resignada perante os desígnios de Deus) tais palavras, no entanto, levaram-me a uma reflexão sobre a Vida.
É que, como ninguém pode parar o tempo, também ninguém consegue parar o pensamento.
O tempo, inexoravelmente, vai seguindo sempre em frente deixando marcas, delimitando épocas, gravando datas e enterrando recordações; o pensamento, num vaivém constante, vai-se ocupando a fazer visitas e a perpetuar esses lugares de culto.
E nesses momentos gosto de estar sozinho. E escrevo. Escrevo, porque escrevendo, falo sem que ninguém me interrompa…
 E aqui estou eu debruçado na janela do tempo, folheando o livro de recordações – folhas amarelecidas pelo rodar dos anos, momentos de alegria, tristezas, sonhos, pesadelos, risos de crianças…
Todos morremos, mas poucos estão preparados para a coisa mais certa da vida. E é assistindo a essa "dança" que arrasta homens e mulheres de todas as idades e condições que vem ao de cima essa verdade incontestável de que um dia chegará também a nossa vez.
E como uma espécie de vingança - mas numa luta inglória - a vontade de viver sobrepõe-se a essa lei implacável, e é cada vez maior o desejo de aproveitar, de sorver todos os momentos.
A Morte ao interromper os sonhos da vida de quem parte deixa uma sofrida saudade naqueles que ficam.
«Devem chorar-se os homens à nascença e não quando morrem», escreveu alguém. Mas, muitas vezes, é difícil conter as lágrimas, mesmo sabendo que nada remedeiam, nada alteram.
Elas são, nesses instantes, além de um desabafo, uma espécie de lenitivo, um bálsamo que suaviza essa dor pungente que rasga a alma, e que só o tempo faz desaparecer. Lágrimas – gotas de água que tantos significados podem ter!
E lágrimas de Mãe, não são iguais a outras lágrimas. Lágrimas de mãe são saudades que transbordam do coração e escorrem pelos olhos…
A propósito, estou a lembrar-me daquela versão do conto popular, da criança morta que voltou à Terra para pedir à mãe que não chorasse mais para que a sua mortalha pudesse secar.





EDUCAÇÃO


É certo e sabido que há uma crise na Educação e que ela começa, justamente, em casa e na escola. Ninguém o pode negar. Negá-lo-ão talvez aqueles a quem os pais já não souberam ou não quiseram transmitir os princípios fundamentais da moral que caracterizam a família tradicional.
Negá-lo-ão também aqueles que fazem da escola, em vez de sacerdócio, uma forma de passatempo, em que o fim do mês é o único objectivo a alcançar.
De qualquer forma, a escola com a importância que lhe é própria, tem de aparecer como o prolongamento, o subsídio e a ajuda à família. Pais e professores devem considerar-se e ser considerados como uma só e única equipa ao serviço dos jovens em crescimento.
E assim, a escola deve ser considerada uma segunda casa de família. Todas as filosofias políticas que desprezam a família ou mesmo as que, simplesmente, descuidam o seu destino conduzem à ruína das sociedades.
Estamos numa encruzilhada da História. Torna-se por isso necessário definir metas e escolher o caminho a seguir. E é começando pela educação dos jovens que temos de pensar no futuro que, embora imprevisível, carece de uma formação alicerçada em valores sólidos e duradoiros. E para que essa pretensão se transforme em realidade, há que construir sobre três pilares – a Família, a Escola e a Igreja.
E para que tal aconteça, urge que os pais modernos deixem de "comprar" os filhos, e em vez de coisas, lhes ofereçam carinho, educação e ensinamentos.
Será depois a vez da Escola, ministrando a instrução sem descurar a educação. A Igreja constituirá, por fim, o ponto de aglutinação de todos esses ingredientes que mais tarde serão necessários à formação completa do indivíduo.
Li um dia que a Família é a "Igreja doméstica". Nessa perspectiva, e sendo as famílias bem formadas, a grande esperança de um mundo novo, de um mundo melhor, de um mundo feliz, cabe aos seus chefes o dever e a missão de prepararem os seus membros para a concretização de tão nobre e tão sublime anseio.
Tenho a certeza de que muitos dos que me lêem não vêem as coisas pelo mesmo prisma, nomeadamente quando considero a Igreja como um complemento da formação do indivíduo.
Pouco importa, pois cada um de nós é livre de pensar e de escolher a melhor maneira de viver. Quanto a mim, sempre que ocorre um revés na minha vida são as lembranças santificadas dos tempos de infância que me ajudam a ultrapassá-lo.



A ESCOLHA É SEMPRE NOSSA

A escolha é sempre nossa
Toda a nossa vida é feita de preferências, de opções, de escolhas. Por mais que queiramos negá-lo, logo pela manhã elas começam - ou nos levantamos ou continuamos de papo pró ar. Se nos levantamos temos de escolher – ou damos os bons-dias a sorrir ou resmungamos quaisquer palavras imperceptíveis, esguichando mau humor à nossa volta.
E as opções ou escolhas continuam - ou fazemos uma caminhada só ou com amigos ou optamos por nos sentar, por fazer de conta que não é nada connosco e ficar ali indiferentes a tudo e a todos.  
Mas não tenhamos dúvidas - somos sempre nós que escolhemos como queremos viver o dia-a-dia. Ou o vivemos juntamente com todos, conversando, sorrindo, irradiando alegria ou escolhemos por companheira a amargura, inventando e trazendo à mente tudo o que há de negativo. A escolha é sempre nossa...
E a propósito de escolhas, aqui vai uma história que me contaram há dias e que gostava de partilhar convosco.
Dois amigos aqui das redondezas resolveram dar um passeio pela Serra e depois de bastante caminhar, ora subindo, ora descendo, enfrentado todos os desníveis do terreno, a hora do almoço começou a fazer-se lembrada.
E como tal “bichinho” não deixa de nos importunar até que lhe seja feita a vontade, os dois lá continuaram a caminhada, mas agora só com o objectivo de encontrar qualquer espécie de local para lhe fazer a vontade, através de qualquer vitualha que pudessem ingurgitar, como é evidente.
Cansados e cada vez mais debilitados, eis que avistam um pequeno povoado. Numa casa em granito tosco com as paredes revestidas de musgo de várias cores uma tabuleta de madeira exibia um letreiro, com uns gatafunhos onde conseguiram ler - “Cumida a isculher”.
Eis a salvação! - Pensaram de imediato. Olharam-se com aquela cumplicidade de todos os esfomeados e sem darem grande importância às leis da ortografia, o objectivo era aconchegar os estômagos. Entraram, saudaram uma senhora que presumiram ser a proprietária e pediram a lista:
- Qual lista? Não tenho lista. Tenho frango frito.
- E que mais? – Perguntou o mais afoito.
-Só frango frito. – Respondeu de novo a senhora.
- Mas a tabuleta que tem ali na parede diz “comida a escolher...”
- É verdade! O senhor escolhe se quer comer o frango frito ou se não o quer comer... a escolha é sua!
E tinha razão a estalajadeira. É tudo uma questão de opção, de escolha!...
Assim acontece na vida de todos nós. A escolha é sempre nossa. Ou tentamos viver felizes com o que temos ou optamos por ser infelizes, sempre obcecados, cobiçando a vida dos outros que pensamos ser melhor do que a nossa. O que, quase sempre, não é verdade.   










VEM AÍ O IMPOSTO METEOROLÓGICO

Vem aí o Imposto Meteorológico!
Já dizia Napoleão que “em política, o absurdo não é um obstáculo”. E a prova disso é, quanto a mim, a recente lei que prevê o aumento do IMI para casas cuja localização seja considerada privilegiada sob o ponto de vista da incidência do Sol ou da paisagem que delas se desfruta. E a coisa não fica por aqui…
Segundo um infiltrado que há anos mantenho no circuito político, os prestidigitadores da governança cá do rectângulo, preparam-se, para lançar mais um novo imposto. E agora calem-se os que andam por aí a dizer que os nossos políticos não têm ideias. Ai que não têm!... Quando se trata de encontrar “fontes” de rendimento, são tantas as que fervilham naqueles iluminados crânios, que nem lava a sair de cratera de vulcão!
É verdade. Baseando-se no nosso clima que é um dos melhores desta velhinha e decrépita Europa, os tosquiadores deste rebanho à beira mar tresmalhado, preparam-se para criar um novo imposto, a que será dado o nome de Imposto Meteorológico!
E vejam a astúcia dos pegureiros: calcularam uma temperatura média de base, e por cada grau acima, cada um dos habitantes da região onde se verifique uma subida pagará uma taxa de 1 Euro equivalente ao “excesso calórico”. Nas áreas que não atingem a média estabelecida, por cada “grau abaixo”, pagará o indígena uma taxa da mesma importância, equivalente ao «desequilíbrio térmico».
Mesmo processo para os dias de chuva: cálculo da humidade média e taxa de higrometria aplicada aos «mais» e aos «menos» na mesma proporção.
No Inverno, o diploma refere-se também ao dispêndio com o aquecimento, surgindo neste capítulo a mesma desigualdade entre cidadãos do mesmo País. Com efeito o preço do gasóleo, do gás e da electricidade será mais elevado no Sul e mais baixo no Centro e no Norte. Em Beja, por exemplo, o litro, o quilo ou o quilovátio, respectivamente, serão mais caros do que em Viseu, na Guarda ou em Vila Real, pois os habitantes da cidade alentejana terão muito menos necessidade de aquecimento do que os indígenas das faldas do Caramulo, da Estrela ou do Marão!...
E esse imposto só ainda não foi anunciado, porque, logo que dele teve conhecimento, o Instituto de Meteorologia e Geofísica, que detém o monopólio das condições climatéricas para Portugal e Ilhas Adjacentes, ter-se ia oposto veementemente classificando-o de «um acto absolutamente inconcebível, porque a maioria terráquea, não significa, de maneira alguma, maioria absoluta no que diz respeito aos Astros!»



PAPAGAIOS E POKÉMONS


Realizou-se há pouco, numa das ilhas do Arquipélago das Canoras, um Congresso Internacional de Ornitologia, cujo tema versava sobre “A importância dos papagaios na Sociedade virtual dos Pokémons.”
Causou grande surpresa no auditório a intervenção do conhecido e controverso ornitólogo português Jerry Ngonza, ao apresentar uma variedade de psitácidas pouco conhecida e à qual deu o nome de “Lissabonae Papagaius”.
Perante uma assistência que o escutava de boca aberta o orador discorreu horas a fio sobre as características ímpares da ave portuguesa.
Segundo o enviado especial da RTP (Radio Transmission of Parrots) foi tão convincente a intervenção do delegado lusitano, que os expoentes máximos da Ornitologia Internacional mostraram de imediato vontade de visitar o nosso País para presenciarem «in loco», a coabitação penosa, mas palradora, dos diversos bandos no hemiciclo do Palratório Nacional.
Ao apresentar a ave trepadora portuguesa, Ngonza atribui-lhe predicados jamais encontrados noutras famílias de psítacos, acrescenta o relato do enviado especial português: “Sem necessidade de um «habitat» específico, podendo manter-se em liberdade quase ilimitada, aclimatando-se a diferentes e variadas matizes, a nova espécie distingue-se ainda das suas congéneres pela sua invulgar capacidade de imitação da voz humana.
Tais características contribuem para que num futuro próximo o «Papagaio de Lisboa» suplante todos os seus semelhantes, desde o «Amazona Palmarum», passando pelo “Erythecus” africano e acabando no “Golias” da Índia…”
Enquanto alguns congressistas reconheciam ser o nosso País aquele que alberga os melhores e mais exímios exemplares da arte de papaguear, outros viram no «Lissabonae Papagaius” apesar da sua aparência exterior e da sua bela plumagem, uma espécie condenada à extinção, vítima da sua exagerada bazófia e da sua cansativa verborreia.
Em qualquer dos casos, e apesar das divergências e pontos de vista discordantes da parte de alguns congressistas, uma sondagem final do repórter reforça a ideia inicial de que serão muitos os turistas que no mês de Agosto visitarão Portugal. Mais do que qualquer promoção turística, a curiosidade dos congressistas e acompanhantes fará com que a afluência de visitantes registe números jamais alcançados!
De facto, acompanhar presencialmente a convivência entre as diferentes espécies de aves que, de cristas eriçadas, quase se “depenam”,  tem outro “sabor” do que vê-las, via TV, no respectivo Canal.
Além disso, o Palratório Nacional, parece ser o local ideal para apanhar Pokémons. E como sabemos, cá no rectângulo, agora, «o que é virtual, é que é bom.» 
















Papagaios e Pokémons
Realizou-se há pouco, numa das ilhas do Arquipélago das Canoras, um Congresso Internacional de Ornitologia, cujo tema versava sobre “A importância dos papagaios na Sociedade virtual dos Pokémons.”
Causou grande surpresa no auditório a intervenção do conhecido e controverso ornitólogo português Jerry Ngonza, ao apresentar uma variedade de psitácidas pouco conhecida e à qual deu o nome de “Lissabonae Papagaius”.
Perante uma assistência que o escutava de boca aberta o orador discorreu horas a fio sobre as características ímpares da ave portuguesa.
Segundo o enviado especial da RTP (Radio Transmission of Parrots) foi tão convincente a intervenção do delegado lusitano, que os expoentes máximos da Ornitologia Internacional mostraram de imediato vontade de visitar o nosso País para presenciarem «in loco», a coabitação penosa, mas palradora, dos diversos bandos no hemiciclo do Palratório Nacional.
Ao apresentar a ave trepadora portuguesa, Ngonza atribui-lhe predicados jamais encontrados noutras famílias de psítacos, acrescenta o relato do enviado especial português: “Sem necessidade de um «habitat» específico, podendo manter-se em liberdade quase ilimitada, aclimatando-se a diferentes e variadas matizes, a nova espécie distingue-se ainda das suas congéneres pela sua invulgar capacidade de imitação da voz humana.
Tais características contribuem para que num futuro próximo o «Papagaio de Lisboa» suplante todos os seus semelhantes, desde o «Amazona Palmarum», passando pelo “Erythecus” africano e acabando no “Golias” da Índia…”
Enquanto alguns congressistas reconheciam ser o nosso País aquele que alberga os melhores e mais exímios exemplares da arte de papaguear, outros viram no «Lissabonae Papagaius” apesar da sua aparência exterior e da sua bela plumagem, uma espécie condenada à extinção, vítima da sua exagerada bazófia e da sua cansativa verborreia.
Em qualquer dos casos, e apesar das divergências e pontos de vista discordantes da parte de alguns congressistas, uma sondagem final do repórter reforça a ideia inicial de que serão muitos os turistas que no mês de Agosto visitarão Portugal. Mais do que qualquer promoção turística, a curiosidade dos congressistas e acompanhantes fará com que a afluência de visitantes registe números jamais alcançados!
De facto, acompanhar presencialmente a convivência entre as diferentes espécies de aves que, de cristas eriçadas, quase se “depenam”,  tem outro “sabor” do que vê-las, via TV, no respectivo Canal.
Além disso, o Palratório Nacional, parece ser o local ideal para apanhar Pokémons. E como sabemos, cá no rectângulo, agora, «o que é virtual, é que é bom.» 
















EM JEITO DE MEMÓRIA


Apesar de o passado ser construído por uma cadeia de acontecimentos, nem todos os seus elos são iguais. Nem todos eles desempenharam igual papel, nem todos prenderam” da mesma maneira – enquanto uns deram poesia às coisas, outros ensarilharam-se e, muitas vezes, emperraram a continuidade do trajecto.
Mas é dos primeiros, daqueles que me prenderam à vida com ternura, que me fizeram sonhar, que depois me acordaram para enfrentar a realidade e a seguir me colocaram no caminho da responsabilidade, são esses elos, esses momentos, que mais gosto de recordar. Ao lembrá-los, é quase como que ingerir uma poção mágica que me dá ânimo e traz de volta quimeras e sonhos. É uma espécie de pausa, uma interrupção no percurso e um repouso tranquilo rodeado da utopia que ainda me resta…
Mas, às vezes, a desilusão é mais forte, e há dias ou momentos em que sinto necessidade de me isolar, de fugir deste baile de interesses, deste materialismo galopante, desta falta de ética no comportamento das pessoas. Cansa-me este jogo do quotidiano feito de competições e de indiferenças, de hipocrisias e de cinismos, de subtilezas e de astúcias, de vigaristas transformados em heróis…
Pouco falta para que até a esperança pague imposto!
Num mundo construído sob o signo do dinheiro e em que tanto se fala em solidariedade, entristece-me que ela não seja aplicada na prática. O ter é mais importante que o ser…
Falta mais alma, mais responsabilidade, mais altruísmo, mais espiritualidade pois só assim poderá ser vencida esta crescente desumanização a que, passivos e indiferentes, assistimos todos os dias.
É preciso acreditar, persistir e não ter medo de expor a nossa Fé. É necessário proclamar e exibir os valores que herdámos dos nossos pais  que selavam um compromisso com uma palavra de honra ou um aperto de mão.   
Às vezes, perante tanta injustiça, tanta falta de valores, tanto desrespeito pelos pobres, apetece-me gritar e acusar tudo e todos… 
A angústia, a dor, o grito, a poesia, tudo isso é uma espécie de religiosidade e mistério que faz parte da minha já longa caminhada. De vez em quando é a emoção que me invade… E foi isso que aconteceu há dias ao ver-me rodeado pela família e por amigos a comemorar mais um aniversário. 















AS TRÊS IDADES


Todos nós temos três idades: a idade que está no do B. I. ou no cartão de cidadão, a idade que aparentamos e a idade com que nos sentimos.
Esta última é, sem dúvida, a mais verdadeira, aquela de que devemos servir-nos para continuar a caminhada. Seguindo esse raciocínio, são necessários três números para nos definir. Por exemplo, quanto a mim, considero-me um 90-80-70!
Descodificando: do primeiro número, atribuo metade a cada perna; o segundo, – que é geralmente o número com que os meus amigos me presenteiam de vez em quando – penduro-o no espelho só para me divertir com o outro “senhor” careca e de cara enrugada, que a lâmina de vidro polida reflecte; o último número, o setenta, é o que se sobrepõe aos outros dois. É o “combatente” aquele que, sempre vigilante, tenta impedir que o primeiro, o mais gordo, – o 90 – me esmague sob o seu peso!
E é assim com esta espécie de triângulo numérico às costas, que continuo a fazer o meu dia-a-dia. Evidentemente que para pôr em prática esta “filosofia” é necessária a ajuda de vários factores: saúde, tolerância, paz interior, humildade, boa disposição e, sobretudo muita Fé!
Li há dias num texto de um escritor italiano que a velhice seria o calvário da vida. Concordei em parte, pois chegar a velho sem saúde, sem ninguém que olhe por nós e entregue apenas à solidão, deve ser, de facto, um enorme e triste calvário!
Pelo contrário, ter a sorte de envelhecer com saúde, com uma boa família por perto e os amigos em redor, é uma bênção de Deus.
É certo que quando olho os lugares vazios dos familiares ou dos amigos que partiram, há sempre uma dor pungente que me invade. O coração bate mais forte, mas apenas por uns momentos. Depois, estranhamente, tranquiliza-se e parece conformar-se perante a inexorável lei da vida.
À dor que me invade nesses instantes ora se sucedem recordações e saudade, ora me agitam sonhos de esperança que me transportam para longe – uma viagem em que o mistério do tempo tanto me acusa como me reconcilia com Deus.
E então é a Ele que me entrego. É a Ele que peço perdão pelos momentos em que a revolta me dominou e me fez esquecer a Sua infinita bondade.
E é a Ele que agradeço tudo aquilo que me tem dado até hoje: alegrias, tristezas, sofrimentos e sobretudo o dom da fé – essa força invencível que ‘faz cantar os mártires na morte…’
Todas as coisas boas ou ruins que passei na vida foram lições que aprendi. As ruins guardo-as na memória e as boas, guardo-as no coração...
Divaguei, e fugi do assunto. Mas vou parar por aqui, porque os dois últimos conjuntos de algarismos começam já a discutir e podem zangar-se, abalar, e deixar o 90 a falar sozinho….



















As três idades
Todos nós temos três idades: a idade que está no do B. I. ou no cartão de cidadão, a idade que aparentamos e a idade com que nos sentimos.
Esta última é, sem dúvida, a mais verdadeira, aquela de que devemos servir-nos para continuar a caminhada. Seguindo esse raciocínio, são necessários três números para nos definir. Por exemplo, quanto a mim, considero-me um 90-80-70!
Descodificando: do primeiro número, atribuo metade a cada perna; o segundo, – que é geralmente o número com que os meus amigos me presenteiam de vez em quando – penduro-o no espelho só para me divertir com o outro “senhor” careca e de cara enrugada, que a lâmina de vidro polida reflecte; o último número, o setenta, é o que se sobrepõe aos outros dois. É o “combatente” aquele que, sempre vigilante, tenta impedir que o primeiro, o mais gordo, – o 90 – me esmague sob o seu peso!
E é assim com esta espécie de triângulo numérico às costas, que continuo a fazer o meu dia-a-dia. Evidentemente que para pôr em prática esta “filosofia” é necessária a ajuda de vários factores: saúde, tolerância, paz interior, humildade, boa disposição e, sobretudo muita Fé!
Li há dias num texto de um escritor italiano que a velhice seria o calvário da vida. Concordei em parte, pois chegar a velho sem saúde, sem ninguém que olhe por nós e entregue apenas à solidão, deve ser, de facto, um enorme e triste calvário!
Pelo contrário, ter a sorte de envelhecer com saúde, com uma boa família por perto e os amigos em redor, é uma bênção de Deus.
É certo que quando olho os lugares vazios dos familiares ou dos amigos que partiram, há sempre uma dor pungente que me invade. O coração bate mais forte, mas apenas por uns momentos. Depois, estranhamente, tranquiliza-se e parece conformar-se perante a inexorável lei da vida.
À dor que me invade nesses instantes ora se sucedem recordações e saudade, ora me agitam sonhos de esperança que me transportam para longe – uma viagem em que o mistério do tempo tanto me acusa como me reconcilia com Deus.
E então é a Ele que me entrego. É a Ele que peço perdão pelos momentos em que a revolta me dominou e me fez esquecer a Sua infinita bondade.
E é a Ele que agradeço tudo aquilo que me tem dado até hoje: alegrias, tristezas, sofrimentos e sobretudo o dom da fé – essa força invencível que ‘faz cantar os mártires na morte…’
Todas as coisas boas ou ruins que passei na vida foram lições que aprendi. As ruins guardo-as na memória e as boas, guardo-as no coração...
Divaguei, e fugi do assunto. Mas vou parar por aqui, porque os dois últimos conjuntos de algarismos começam já a discutir e podem zangar-se, abalar, e deixar o 90 a falar sozinho….



















REFLEXÃO


Aceitar com confiança e resignação os percalços e os momentos difíceis com que, por vezes, somos confrontados, são a maneira mais eficaz para minorar a nossa ansiedade e simplificar o nosso dia-a-dia.  
É certo que por vezes a vida nos põe perante situações angustiantes e de extrema complexidade que quase nos roubam a nossa capacidade de raciocinar. Mas é precisamente nessas alturas que é posta à prova a nossa força interior, aquela mola invisível que muitas vezes deixamos enferrujar por falta de uso.
Quando tudo nos corre de feição, esquecemo-la, não nos servimos dela diminuindo assim a sua elasticidade e subestimando a sua amplitude. Ao proceder dessa maneira, mais difícil se torna despertá-la para a distender e nos servirmos dela nos momentos de amargura. Por isso é necessário mantê-la sempre em bom estado de conservação, e isso só se consegue se acreditarmos em nós próprios e confiarmos nos dons com que Deus mos dotou para fazer face às adversidades.
Há também quem desconheça essa força interior e em vez de fazer uso dela procure ajuda exterior. No entanto, a maior parte dos nossos problemas reside na arte de saber acordar essa força que dorme no interior de nós mesmos. E a maneira mais eficaz para esse despertar consiste em estimular os nossos sentimentos…
Fui há dias visitar um amigo que se encontra no hospital. Ao percorrer os corredores, e numa espreitadela furtiva pelas camas alinhadas nas enfermarias, olhando os doentes, (alguns bastante mal) espontaneamente, uma prece silenciosa, rompeu a atmosfera de dor e sofrimento que me envolvia e subiu até Deus num agradecimento mudo, mas sincero.
Não há melhor bênção do que a saúde! Mas, distraídos que andamos, só nesses lugares é que lhe damos o real valor. Porquê tanto egoísmo, tanto ódio, tanta inveja e tanta revolta?
 Com tudo isto queria eu dizer que se na vida de cada um de nós há situações verdadeiramente inevitáveis, outras há – a que poderíamos até chamar de facultativas – às quais podemos muito bem fugir ou evitar…
Todos sabemos que a vida é uma teia urdida com as mais variadas dificuldades. Mas para melhor a suportar, para melhor vivermos, para termos paz, tranquilidade, e um pouco de bem-estar, por que não procurar combater as nossas angústias, os nossos medos e as nossas contrariedades recorrendo a esse legado espiritual, esse dom que Deus nos concedeu?
Não é a Fé um incomensurável poder que alimenta a vida? Ter Fé e procurar nela a humildade a tolerância e o perdão, é como que renovar a vontade de viver em paz com nós próprios, reforçar a nossa auto-estima e, implicitamente, partilhar o nosso bem-estar com os que nos rodeiam.