sábado, dezembro 30, 2006

AINDA A TEMPO

COMPLEMENTO

Complemento da crónica “Em dia de aniversário”de Julho de 2006, que se destina a elucidar os leitores que, por telefone ou e-mail, manifestaram o desejo de saber quantos Verões passaram por mim. Aqui fica, pois, o número
exacto.

80 - 75 - 60
Todos nós temos três idades: a idade que está no B. I., a idade que aparentamos e a idade que sentimos. Esta última é, sem dúvida, a mais verdadeira, aquela de que devemos servir-nos para continuar a caminhada. Seguindo esse raciocínio, são necessários três números para nos definir. Por exemplo, quanto a mim, considero-me um 80-75-60!
Descodificando: do primeiro número, atribuo metade a cada perna; o setenta e cinco, – que é geralmente o número com que os meus amigos me presenteiam de vez em quando – penduro-o no espelho só para me divertir com o outro “senhor” careca e de cara enrugada, que a lâmina de vidro polida reflecte; o último número, o sessenta, é o que se sobrepõe aos outros dois. É o “combatente” aquele que, sempre vigilante tenta impedir que o primeiro, o mais gordo, – o 80 – me esmague sob o seu peso!
E é assim com esta espécie de triângulo numérico às costas que continuo a fazer o meu dia-a-dia. Evidentemente que para pôr em prática esta “filosofia” é necessária a ajuda de vários factores: saúde, tolerância, paz interior, humildade, boa disposição e, sobretudo muita Fé!
Li há dias num texto de um escritor italiano que a velhice seria o calvário da vida. Concordei em parte, pois chegar a velho sem saúde, sem ninguém que olhe por nós e entregue apenas à solidão, deve ser, de facto, um enorme e triste calvário!
Pelo contrário, ter a sorte de envelhecer com saúde, com a família por perto e os amigos em redor, é um bênção de Deus.
É certo que quando olho os lugares vazios dos familiares ou dos amigos que partiram, há sempre uma dor pungente que me invade. O coração bate mais forte, mas apenas por uns momentos.
Depois, estranhamente, tranquiliza-se e parece conformar-se perante a inexorável lei da vida. À dor que me invade nesses instantes ora se sucedem recordações e saudade, ora me agitam sonhos de esperança que me transportam para longe – uma viagem em que o mistério do tempo tanto me acusa como me reconcilia com Deus.
E então é a Ele que me entrego. É a Ele que peço perdão pelos momentos em que a revolta me dominou e me fez esquecer a Sua infinita bondade. E é a Ele que agradeço tudo aquilo que me tem dado até hoje: alegrias, tristezas, sofrimentos e sobretudo o dom da fé – essa força invencível que faz cantar os mártires na morte…
Divaguei, e fugi do assunto. Vou parar por aqui, porque os dois últimos conjuntos de algarismos começam já a discutir e podem zangar-se, abalar, e deixar o 80 a falar sozinho….



quinta-feira, dezembro 21, 2006

Recordações

La bohème

«Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue…»
Charles Aznavour

sábado, dezembro 09, 2006

Chansons de ma jeunesse

LE PORNOGRAPHE
«Autrefois, quand j'étais marmot,
J'avais la phobie des gros mots
Et si j'pensais « merde » tout bas,
Je ne le disais pas
Mais, aujourd'hui que mon gagne-pain,
C'est d'parler comme un turlupin
Je n'pense plus « merde », pardi,
Mais je le dis
J'suis l'pornographe,
Du phonographe
Le polisson,
De la chanson…»

Georges Brassens

terça-feira, dezembro 05, 2006

O sermão

Un aumônier militaire s'adresse un jour à ses ouailles et leur tient un sermon sur le Paradis :Soko è kumi le temps du Jugement Dernier, Saint-Pierre accompagné na ba trompettes thébaines, "taratatââta, taratatââta, taratatââta..." , armé de machete monènè a ko loba na bango, les anges mabè, na matata mpenza : " Attatio ! Kenda à la gauche du Père, na kati-kati na ba les enfers. Enfer, azali moto mingui, azali fange boueuse na potopoto tÎÎî...". A ko loba na ba les anges malamu, na sourire monènè : " Kenda à la droite du Père, na kati-kati na ba le Paradis. Paradi azali félicité suprême...Mwasi kitoko ! Mossala azali tè !" .Bo oki nyonso ?- Hèèè...

domingo, dezembro 03, 2006

Manhã de Domingo

Nas asas do vento

Neste dia de chuva e vento
Deixei ir o meu pensamento
Em romagem de saudade…

Voltou com um saco de lembranças
Onde havia risos de crianças
E recordações da mocidade.

Abri meu saco com jeito
E depois contra meu peito
(Esquecendo o meu destino)
Acalentei as quimeras
Doutros tempos, doutras eras
Sonhando qu’ era menino!

sábado, dezembro 02, 2006

Sábado à tarde

Um sábado de Outono. Choram as nuvens e as gotas de água caem de mansinho. Não está muito frio, mas apetece acender a lareira, olhar a chama e ouvir o crepitar inconfundível dos troncos!
O chão do quintal está atapetado de folhas de várias cores, algumas já em decomposição, escorregadias, confundindo-se com a terra. As árvores, de braços erguidos, quase nuas, sem folhas, anunciam já o Inverno próximo.
As duas serras – a do Caramulo e a da Estrela olham-se como duas rivais – a primeira com os seus variados tons verdes; a segunda mostrando o seu manto branco que a neve lhe emprestou.
Aquém e além o fumo das chaminés mistura-se com pedaços de nuvens baixas que viajam no espaço. A aldeia parece dormir e não fosse a pequenez dos dias e o “comprimento” das noites, dir-se-ia que era por causa da sesta!...
Não há flores no jardim. Só o vermelho das bagas do azevinho contrasta com o cinzento-escuro do tapete do caminho. Silêncio! Nem a passarada se mostra. Desapareceram os melros, as rolas, e só os pardais, de vez em quando, cruzam o céu.
Subo ao terraço e olho em direcção à Estrela. Um manto branco já não deixa ver a neve. Sopra uma brisa fresca. Olho o tanque, em baixo, cheio de água, e aumenta a sensação de frio. A chuva cai agora com mais intensidade… Desço, e a resolução está tomada: a lareira…

No começo do mês

Continuo a ler Jean Guiton e não resisto a traduzir, para aqueles que, eventualmente, possam vir a ler, uma passagem que julgo conter uma mensagem que nos conduz a uma profunda meditação…
«(…) Hoje, o que está mais em perigo são as amarras que antigamente faziam a ligação do espírito às coisas, do homem à Natureza, do filho à mãe, do cidadão à Pátria, dos exercícios do espírito à verdadeira existência; o País, a terra, a religião adaptada aos tempos, enfim, a incarnação sob todas as espécies e formas. E as virtudes…
Não a virtude, essa palavra oca, muitas vezes hipócrita, mas todos os esforços em que o belo, o bem e o verdadeiro se juntam criando a harmonia entre os seres e as coisas. Tudo tem tendência a desaparecer: tudo o que é refúgio, íntimo, socorro, asilo, floresta, arvoredo… Não há paz, mas excessos que se sucedem e se compensam. O respeito, o pudor, a medida, a simplicidade, estão em vias de extinção… (…) Tudo mudou. Passámos da civilização escrita à da imagem, ainda que a escrita continua a ser a expressão fundamental do pensamento… (…)»