quinta-feira, junho 10, 2010

DIA 10 DE JUNHO DE 2010


Comemora-se hoje mais um 10 de Junho – Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Foi a partir de 1933 que o dia 10 de Junho começou a ser festejado a nível nacional como dia de Camões.
E foi a partir da inauguração do Estádio Nacional do Jamor, em 1944, que Salazar acrescentou ao Dia de Camões e de Portugal, o Dia da Raça, tornando-se este epíteto, a partir de 1963, uma homenagem às Forças Armadas Portuguesas numa exaltação da guerra e do poder colonial.
Em 1978, a Terceira República, converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Fora com a Raça!...
Há 30 anos, em 10 de Junho de 1980, fui escolhido pela Embaixada Portuguesa de Kinshasa para representar a Comunidade Portuguesa do Zaire nas cerimónias que se realizaram, nesse ano, em Leiria.
Era Presidente da Republica o General Ramalho Eanes e Chefe do Protocolo, António Monteiro que começou a sua carreira diplomática na nossa embaixada em Kinshasa. Saímos no dia 8, Domingo, para Fátima onde estivemos alojados num hotel durante os dias em que decorreram as cerimónias que, como acima disse, se realizaram em Leiria.
Recordo-me que o tempo estava invernoso e frio, tal como acontece hoje. As festividades foram simples, sem a pompa e todo o aparato que hoje têm. Uma sessão solene no teatro da cidade seguida de uma tarde de variedades, em que “As Doces” esse conjunto que faria sucesso, fez uma exibição que mereceu uma calorosa e prolongada ovação de todos os presentes. Houve também a inauguração de uma estátua de Camões num dos jardins de Leiria a que foi dado o nome de Jardim de Camões. A estátua tem a particularidade de ser feita em betão.
Folheando o meu Diário desse ano encontro escrito que no dia do regresso, dia 11, me encontrei com o empreiteiro para fazermos a marcação da casa onde hoje habito!...
Mas voltando ao 10 de Junho, e à questão da amputação da “Raça”não resisto a fazer uma transcrição das “Farpas”:
‘(…) A raça portuguesa, por mais decaída que a consideremos pelo abastardamento dos elementos que a formaram, é ainda hoje consideravelmente menos absorvível do que absorvente. (…) O Português constitui um tipo inteiramente especial no grupo indo-europeu. Ele é sentimentalista, idealista, galã, dado a aventuras e a viagens como Preste João, como Fernão Mendes, como o Infante D. Pedro, como Camões. É sóbrio e é rijo. Tem o dom sociável e fecundo de amar e se fazer amado, e é singular a sua facilidade de adaptação a todos os meios biológicos e sociais, bem como a sua enorme força de resistência à fadiga, à fome, a todas as privações da vida e a todas as hostilidades da Natureza. De resto, propenso à rebeldia, leviano, gastador, volúvel e inconstante. Durante o século XVII, depois de célebre pelos seus grandes feitos de guerra, de navegação e de conquista, era proverbial em Espanha a sua melosidad y derretimiento em amores. Quevedo dizia que de portugueses não ficariam torresmos no fogo do Inferno, porque havendo lá mulheres, os Portugueses derreteriam completamente, não deixando como vestígio mais que uma simples nódoa no chão. (…) “
Talvez motivado pelas varações do tempo (chove e está frio) deve ter ocorrido qualquer incidente a nível dos meus neurónios, que me impede de continuar a raciocinar convenientemente.
Paro por aqui prestando uma homenagem ao nosso Camões, que com um só olho via mais do que muitos com dois. Que morreu pobre, mas que todos agora enchem a boca com o seu nome!
Lembram-se dos tempos em que ele foi banido dos livros escolares? O passado de um Povo é coisa que não se apaga quer pela imposição de ideologias, quer por meio de leis. Como Camões outros há. Mas só com o tempo os seus nomes tomarão o devido lugar nas páginas da nossa História…