Toda a gente sabe que o discurso
político é, provavelmente, tão antigo quanto a vida do ser humano em sociedade.
Já na Grécia antiga, o político era o cidadão da "pólis" (cidade, vida
em sociedade), que, responsável pelos negócios públicos, decidia tudo em
diálogo na "agora" (praça onde se realizavam as assembleias dos
cidadãos), mediante palavras persuasivas. Daí o aparecimento do discurso
político, baseado na retórica e na oratória, orientado para convencer o povo.
Este conceito tem vindo a esvaziar-se ao
longo dos tempos e actualmente o discurso político é, na maior parte das vezes,
um monólogo geralmente incompreendido pelo povo.
No meu tempo - no “antigamente” -
dizia-se que Salazar mantinha o povoléu na ignorância para melhor o endrominar.
Agora, que quase todos os cidadãos são doutores ou engenheiros, que todos sabem
ler, escrever e contar,(?) há que inventar um novo vocabulário de maneira a que
os “enteados” não percebam o que “os filhos da pátria” querem dizer nas suas
manhosas lengalengas.
Por enteados queiram vossências saber
que me refiro aos reformados que trabalharam uma vida inteira e agora vêem a
sua mísera pensão retalhada e aos velhos, cuja reforma quase não chega para
pagar a conta da Farmácia.
Mas voltando aos discurso, agora como
nesses longínquos tempos, há que saber seduzir o “rebanho”, prometer-lhes
verdes pastagens na ocasião apropriada, mas já com a ideia preconcebida de
mandar fazer a “tosquia” logo que haja necessidade de angariar dinheiro.
E por falar em “rebanho”, hoje como
ontem, e apesar de muito se falar em mudanças, “os carneiros”, tal os de
Panúrgio, continuam a seguir em fila rumo ao abismo…
Mas vem este intróito, já um pouco
longo, a propósito do vocabulário usado numa entrevista a uma rádio por uma
senhora que se reformou ou a reformaram aos 42 anos depois de ter estado dez
anos no Tribunal Constitucional e que agora ocupa o cargo de Presidente da
Assembleia da República, auferindo uma pensão equivalente a 19 salários
mínimos!
As palavras proferidas por Dona Assunção
durante a sua arenga mostram à saciedade e duma maneira sui generis que a sabedoria do velho provérbio que nos diz
que “com papas e bolos se enganam os tolos “ continua actual e com especial
pertinência no discurso político.
Abram alas os lexicólogos e deixem
passar estas novas sumidades que por detrás de palavras inexistentes nos
dicionários, descaracterizando a nossa língua, renegando Fernando Pessoa,
tentam dessa maneira camuflar todos os fracassos e todas as injustiças que têm
cometido ao longo da sua governança.
Ninguém deve ter percebido o que sua
excelência quis dizer na sua, mas felizmente que o “inconseguimento”
“frustracional” e o seu “soft power sagrado”, não conseguiram que o egoísmo e
sobretudo a castração se propagasse em termos colectivos…
Mais um episódio a juntar a outros, e
que nos vem mostrar que o “inconseguimento” do “ingoverno” é “frustracional” e
castrador e que toda esta “palradela” serve também para nos “indeprimir”!...
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