Sermões
Aí por
volta do ano de 1654, também em tempos azarados, dizia o Padre António Vieira,
em S. Luíz do Maranhão no célebre sermão de Santo António aos Peixes:
“Vós,
diz Cristo Senhor Nosso, falando com os pregadores: sois o Sal da Terra: e
chama-lhes o sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O
efeito do sal é impedir a corrupção; mas, quando a terra se vê tão corrupta
como está a nossa, havendo nela tantos que têm o ofício de sal, qual será ou qual
pode ser a causa de tanta corrupção?
Ou é
porque o sal não salga ou porque a terra não se deixa salgar. Ou porque o sal
não salga e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque a terra
não se deixa salgar e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que
fazer o que eles dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se
preparam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os
ouvintes, em vez de servir a Cristo servem a seus apetites. Não é tudo isto
verdade?...”
Embora
tenham passado séculos, se meditarmos atentamente nas palavras de Vieira não
poderíamos nós aplicá-las a estes tempos que estamos a viver e em que os mesmos
males estão a corroer a nossa sociedade?
Quando
ouvimos os nossos pregadores actuais fazer o contrário daquilo que apregoam,
não estarão eles em vez de servirem o Povo, a servirem-se a eles próprios, como
diz o sermão de Vieira?
E será o
sal que não salga ou a terra que não se deixa salgar? Serão os pregadores que
não cumprem o que dizem, satisfazendo apenas os seus apetites ou o próprio Povo
que não reage, porque impotente e conformado?!
O certo
é que um desacerto entre o que se disse, o que se ouviu e o que verdadeiramente
se fez nos conduziu a esta situação perigosa em que nos encontramos.
E sem
quaisquer complexos cabe a todos nós, como parte integrante da sociedade
assumir a nossa quota-parte nesse descalabro. Uns porque mentiram e tiveram
apenas em vista os seus próprios interesses e outros porque pensaram que nuns
pais pequeno e pobre com os seus recursos ainda mais diminuídos pela «exemplar
descolonização», seria possível vivermos, fazendo de todos os dias uma espécie
de “sábado à noite”. Mas não vale a pena referirmo-nos a um quotidiano que
todos conhecemos, nem a dar importância a alguns que, embora descrentes de Deus,
querem que os tomemos como autores de um futuro, que só existe nas suas ocas
cabecinhas!...
Comecei
por transcrever o começo do sermão do Padre António Viera aos Peixes apenas
para uma pequena reflexão, porque bem precisamos de a fazer.
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