O senhor doutor sabe assinar?...
Hoje,
aliás como todos sabem, ideologicamente falando, as palavras esquerda, direita
e centro já não existem. E se ainda constam dos dicionários, na política, esses
vocábulos perderam completamente o seu verdadeiro significado.
Não há
diferenças entre eles. Os três passaram de antónimos a sinónimos, e juntos,
representam um conjunto de interesses, divergindo apenas nas respectivas
siglas.
O
objectivo comum dos seus usuários é o estatuto pessoal. Cada qual tenta à sua
maneira tratar da sua vidinha e a dos outros, a do povo que ainda trabalha, que
se lixe.
Infelizmente
chegámos a um ponto em que não podemos confiar em nenhum dos representantes
partidários que tomam assento nas fofas cadeiras da Assembleia da República.
Aqui há
tempos ainda podíamos apresentar excepções ou tomar fulano ou sicrano como
exemplos a seguir para conseguirmos sair deste lodaçal para onde nos
empurraram. Agora acabaram-se as excepções e os exemplos. Parece haver uma
espécie de combinação entre todos – governo e oposição – e os ataques e
insultos que vemos ou ouvimos entre eles são apenas uma espécie de fogo de
artifício para pôr a malta a olhar para o ar e esquecer o que se passa a seus
pés.
Estamos
numa época em que vale tudo, Tudo é permitido, tudo é perdoado. Mas só aos
graúdos, que o pequenito paga tudo com língua de palmo. E que bem falam, que
carinhosos são os nossos políticos quando querem adormecer o Zé!...
É vê-los
arengando a arraia miúda, arvorados em defensores dos desempregados, dos pobres,
dos velhos, dos desprotegidos da sorte, dos sem abrigo, prometendo mundos e
fundos, mas sem repartir com eles quaisquer sobras dos seus lautos banquetes!
Fala-se
muito em moralizar o Estado. Fala-se… São palavras ditas, mas sem vontade de
concretização, porque isso não interessa a nenhum dos partidos. Há que dizê-lo
sem medo, porque é a verdade.
Quando
os políticos confundem o seu papel com o dos grupos económicos e querem fazer
dos partidos empresas privadas onde podem colocar quem bem lhes apetece e
talhar os seus ordenados e fazer leis à medida da sua ganância, está visto que
não podemos esperar melhores dias.
O
recente caso da “licenciatura relâmpago” de um dos nossos ministros é um
exemplo flagrante deste folclore político e da degradação que se instalou cá no
rectângulo. Se este facilitismo continua, não é de excluir que dentro de uma
década, na tomada de posse de qualquer “filho da nação”, o senhor do protocolo,
de caneta em riste, não tenha de lhe perguntar: “O senhor doutor sabe
assinar?...
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