A
propósito da minha crónica da semana passada telefonou-me pessoa amiga dizendo-me
que deveria ser mais “meigo” quando me refiro à nossa classe política. É que –
dizia ele – nada ganhas e só angarias inimizades.
Agradeci,
mas logo informei que era coisa que não poderia prometer e isso por várias
razões. A primeira, porque tudo o que escrevo acerca da classe, é verdade, ressalvando, claro, algumas excepções. Depois,
porque, (Soares dixit) toda a gente tem direito à indignação. E a terceira é
porque nunca pactuei com a hipocrisia e não gosto de bater palmas na rua e,
janelas fechadas, criticar ou maldizer quem quer que seja. Fui, sou e
continuarei a ser frontal. Sem papas na língua. Quando alguém se sentir atingido
pelos meus desabafos nada mais tem a fazer do que responder. Eu cá estarei para
me defender.
O que
não posso é calar o que me vai na alma. E uma parte – ainda que pequena – da
situação a que chegámos é também filha da acomodação de muitos. Como todos
sabemos grande parte dos cidadãos deste país acoberta-se temerosamente num
silêncio cúmplice e vergonhoso. Os membros dessa ‘irmandade’ têm “rabos-de-palha”
e por isso evitam provocar faíscas, não vá o diabo tecê-las. E calam-se!...
Não é
preciso nenhum diploma universitário nem mesmo daqueles que
se obtêm
ao Domingo ou por inerência do cargo que se ocupa, para perceber a marosca,
para não lhe chamar roubalheira.
Analisem
com atenção uma factura da água, de electricidade ou de qualquer outro serviço
público. Verifiquem o total. Vejam o que realmente gastaram e subtraiam os
impostos – a fatia que vai para o Governo. Nalguns casos é mais do dobro, que
vai servir para satisfazer a cupidez pelo poder e a ganância pelo dinheiro de
uns tantos fulanos!...
E se
falarmos noutros impostos, em Ivas em
Imis, no dos combustíveis, etc.,
etc., então a coisa ainda pia mais fino.
Que
paguemos o que gastamos e mais uma percentagem normal para remediar a despesas
próprias dos serviços, entende-se. É normal e justo. Agora pagar o que não
gastámos nem desviámos e alimentar uma classe parasitária a maior parte sem
prática de vida sem experiência, sem uma pequena amostra de solidariedade para
os que menos têm, isso não!
Podemos
dizer, sintetizando, que temos tido uma política que assenta num diabólico
binómio – prejuízos públicos, lucros privados. Será que alguém me desmente?
Para
terminar, gostaria de transcrever as palavras de Adriano Moreira – uma
referência a todos os níveis – proferidas há dias na Universidade de Verão do PSD:
“Há um limite, que é a fadiga tributária, e nós não podemos atingir
esse ponto. Qualquer responsável tem de estar muito atento a isso porque a
prova de civismo da população tem sido enorme. Há manifestações sempre com uma
ordem que, com o que tem acontecido na Europa, é exemplar, mas tem de se pensar
neste ponto. A fadiga tributária é um facto que não pode ser ultrapassado…”
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