quarta-feira, abril 29, 2009

Eternos ingénuos!...




A corrupção e a violação dos mais elementares princípios da ética estão a perturbar cada vez mais aqueles que são obrigados a trabalhar honestamente para garantir a sua subsistência.
São tantos os atropelos à moral, ao bom senso e à honestidade que muita boa gente se interroga se realmente vale a pena continuar a respeitar e a pôr em prática os valores morais que em pequeno lhe ensinaram.
Muitas vezes, – em assomos de raiva e revolta por tantos abusos – pergunto a mim mesmo se onde todos roubam, não será anti-ético não roubar!...
Se todos os dias a maior parte daqueles que deveriam dar o exemplo exercendo o seu cargo com isenção e lisura nos mostram o contrário, prevaricando a torto e a direito, como resistir à tentação de não proceder da mesma maneira?
Se para eles é correcto servirem-se do que não lhes pertence para auferir lucros e terem direito a um lugar vitalício nas primeiras filas deste circo, por que motivo não haveremos nós de tentar também sonhar e lutar por iguais benesses?
Será porque fomos condenados a usar eternamente esta fatiota de autênticos palhaços andrajosos, subservientes e choramingas?
E assim é. Somos palhaços acoitados sob esta tenda de circo esburacada, segura por cordas que nos foram cedidas por Bruxelas mediante acordos nos quais predominou a super-facturação em nome de todos, mas cujo dinheiro reverteu só em benefício de alguns.
Palhaços, porque pagamos aquilo que nunca recebemos. Somos palhaços de um circo decadente, exposto às intempéries e à cobiça das aves de rapina vindas de outras paragens; somos palhaços de um circo onde não falta comida para os leões, mas que escasseia nos sectores onde vive a bicharada mais pequena, numa promiscuidade indecente.
É um circo falido, mas onde nada falta aos donos e senhores que zombam dos necessitados que se atropelam à procura de comida. Os palhaços mais velhos, teimosos, desafiam a vida comprando a saúde em troca da mísera reforma que recebem, e que deixam na totalidade na farmácia da aldeia!
Um circo que mais se assemelha a um cemitério onde foram impiamente enterrados em vala comum todos os valores que diferenciam o homem dos bichos: a honra, o respeito, a vergonha, a educação e até o patriotismo!
Entretanto assistimos ao aparecimento de riquezas misteriosas e à divulgação de lucros escandalosos de Bancos e de Empresas públicas, à atribuição de indemnizações faraónicas a senhores que deixam um lugar para ocupar outro cuja remuneração e mordomias são ainda maiores!
Alguém já viu algum desses nababos abrir a sua carteira para ajudar a minimizar a fome e a miséria que por aí vai? Esses donos de fortunas incalculáveis conseguidas através de artes e manhas pouco recomendáveis falam muito em solidariedade e ajuda, mas tudo isso não passa de simples figuras de retórica e de enfeites linguísticos para branquear uma conduta pouco digna e honesta.
O circo está falido, mas haverá sempre comida para os mais fortes, para os leões... E sob a lona esburacada, os serviçais e os arrumadores – essa nova espécie de escravos - continuam a olhar o céu através dos buracos, acreditando ainda num milagre…Não no milagre das rosas, mas num outro milagre – o dos papelinhos, que nos actos eleitorais que se aproximam, irá transformar o rectângulo, finalmente, numa terra da fraternidade, de bem-estar e de igualdade entre todos. Santa ingenuidade!...

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