Recordo-me de que há cerca de quase três décadas quando regressei ao país depois de uma ausência de trinta anos, – não como exilado político ou por outro qualquer motivo próprio da época – era de bom-tom e podia trazer grandes compensações, dizer-se de esquerda ou então afirmar ter sido perseguido pela ditadura.
Pelo contrário, qualquer indígena que se dissesse de direita, era logo conotado com o “antigamente”, com esse passado tenebroso, mas cujo ouro “ajudou” muito libertador a encher os bolsos… Já nesse tempo o dinheiro não tinha cheiro!
Hoje, quando se fala de política, a discussão à volta de esquerda/direita está completamente ultrapassada. Não há diferenças. Não há esquerdas, não há direitas. Há, isso sim, um conjunto de interesses cuja conquista se exerce de maneiras diferentes, consoante o modus operandi de cada um dos intervenientes na contenda.
As ideologias que faziam essa destrinça deixaram de existir e cederam o lugar a uma luta feroz em que os objectivos que estão em causa são apenas os interesses pessoais.
Hoje vale tudo: é-se de esquerda e governa-se à direita ou é-se de direita e governa-se à esquerda. Salvo raríssimas e honrosas excepções, são todos iguais. Não há que escolher. O que interessa são os lucros no fim do mês ou no fim do ano depois de se terem somado todos os proventos relativos aos “tachos”.
Há, no entanto, que salvar as aparências. Mas só para português ouvir…E ei-los arengando a arraia miúda, arvorados em defensores dos pobres, dos velhos, dos desprotegidos da sorte, dos sem abrigo, prometendo mundos e fundos, mas sem repartir com eles quaisquer sobras dos seus lautos banquetes!
Fala-se muito em moralizar o Estado. Fala-se… São palavras ditas, mas sem vontade de concretização, porque isso não interessa a nenhum dos partidos. Há que dizê-lo sem medo, porque é a verdade.
Quando os políticos confundem o seu papel com o dos grupos económicos e querem fazer dos partidos empresas privadas onde podem colocar quem bem lhes apetece e talhar os seus ordenados à medida da sua ganância, está visto que não podemos esperar melhores dias.
Num pequeno céu como é o nosso, não há lugar para tantos abutres! Com esta doutrina do dinheiro e com tantos e tão devotados praticantes, não há “água benta” que chegue. A injustiça e a impunidade passeiam ostensivamente perante a pobreza que vai aumentando assustadoramente. Há crianças que passam fome e idosos que deixam de comer para comprar medicamentos!
Porém, essas carências não existem no mundo daqueles que têm mais almoços que barriga. E nesse mundo há de tudo: Esquerda, direita, centro …
Depois das próximas eleições para o Parlamento Europeu e segundo o Novo Estatuto dos Deputados, os seus salários vão ser aumentados de 3.815 euros para 7.665 euros por mês! Será possível esta imoralidade em tempo de crise?
A ser verdade, não terão razão aqueles que dizem que o Estado rouba aos pobres nos impostos e nos serviços para criar novos-ricos? É verdade que os pobres têm pouco, mas são muitos…
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