quarta-feira, setembro 23, 2009

RECORDAÇÕES DE ÁFRICA -Ligações aéreas


O inesquecível DC 3

As viagens mais importantes e mais urgentes entre Leopoldville e as cidades do resto do País fazem-se de avião.
Em todas as cidades do interior e até em locais onde existem grandes aglomerados e é mais difícil o acesso rodoviário, há uma pista para a aterragem de aeronaves.
Estes aeródromos são em terra batida, bordejados, por vezes, de altas ervas.
Uma casa, a maior parte das vezes coberta com folhas zincadas, serve de terminal.
Não há biruta nem qualquer aparelho que indique a velocidade do vento ou outras condições climatéricas. Apenas o fumo que se eleva de uma fogueira que arde no fim da pista indica ao piloto a melhor orientação que deve tomar para aterrar. E sempre em segurança!
Os pilotos, de origem belga e com muita experiência, guiam-se nos seus percursos pelos rios. Não há voos que cheguem ao interior de noite. O contrário, isto é, voos que cheguem a Leolpoldville ao lusco-fusco, são frequentes.
A única vez que um avião aterrou em Boende de noite foi em 1960 aquando da rebelião após a independência. O avião trazia a bordo o Comandante das Forças Armadas Congolesas na altura, General Mobutu e vinha expressamente para libertar os europeus que se encontrava prisioneiros no Quartel da cidade onde me encontrava com um irmão meu e outros europeus, Belgas, Holandeses, Ingleses e outras nacionalidades.
Para aterrar foi necessário colocar ao fundo da pista vários automóveis com os faróis acessos para sinalizar a pista de aterragem. Mas será um episodia que contarei mais adiante.
Durante os trinta anos que passei no Congo nunca houve, felizmente, um acidente de avião. Houve, é certo, sustos, mas não passaram disso. Descolagens abortadas ou aterragens só com um motor eram factos que quase não constituíam notícia. Várias vezes aterrámos com uma hélice em bandeira, mas nunca houve problemas.
No começo a tripulação dos aviões era constituída pelo piloto e um mecânico. Dancei muitas vezes dentro deles e sempre que passávamos sobre Coquilhatville, hoje Mbandaka, a turbulência era de tal forma contínua que mesmo os não crentes faziam as pazes com Deus. Os “poços de ar”, por vezes, faziam com que descêssemos uns vinte metros! Grandes aviões, esses!... Quando apanhávamos uma tempestade mais forte, a chuva chegava a entrar no avião pelas frinchas das portas! Eram uns autênticos heróis do ar esses DC3!...
Fabricado pela Douglas Aircraft Company, o DC3, serviu inicialmente para o transporte de tropas durante a 2.ª Grande Guerra. Nessa altura foram fabricados cerca de 11.000 unidades. Terminada a guerra milhares desses aviões foram adaptados para o transporte de passageiros e vendidos a vários países.
Era um avião com dois motores Pratt & Whitney, com 4,50 m de altura, 8 de largura, 19,7 de comprimentos, uma envergadura de 29 m, velocidade de cruzeiro 270/298, capacidade 28 passageiros e 4 tripulantes e uma autonomia de voo de cerca de 1.900 km.
Quase setenta anos depois do voo inaugural, o DC3 continua ainda, em alguns países, a voar. Era um avião excepcional: seguro, rápido (para a época) confiável que colocou a Douglas no primeiro lugar entre os fabricantes de aeronaves.
Ainda guardo nos ouvidos o inigualável ronronar dos Pratt & Whitney, os motores do DC3, um dos mais importantes aviões comerciais jamais construídos.

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