O escritor francês Baudelaire, referindo-se à Morte, disse
um dia, mais palavra, menos palavra “que em cada minuto que passa, essa ideia,
essa sensação do fim, está sempre presente, esmagando e absorvendo o nosso
pensamento…”
Esbarrei, por acaso, contra as palavras do autor de Flores do Mal, dias depois de ter
sido confrontado com a “partida” abrupta de um menino…
Embora tal facto, na minha idade, não seja já uma obsessão,
(é antes uma submissão resignada perante os desígnios de Deus) tais palavras,
no entanto, levaram-me a uma reflexão sobre a Vida.
É que, como ninguém pode parar o tempo, também ninguém
consegue parar o pensamento.
O tempo, inexoravelmente, vai seguindo sempre em frente
deixando marcas, delimitando épocas, gravando datas e enterrando recordações; o
pensamento, num vaivém constante, vai-se ocupando a fazer visitas e a perpetuar
esses lugares de culto.
E nesses momentos gosto de estar sozinho. E escrevo.
Escrevo, porque escrevendo, falo sem que ninguém me interrompa…
E aqui estou eu
debruçado na janela do tempo, folheando o livro de recordações – folhas
amarelecidas pelo rodar dos anos, momentos de alegria, tristezas, sonhos,
pesadelos, risos de crianças…
Todos morremos, mas poucos estão preparados para a coisa
mais certa da vida. E é assistindo a essa "dança" que arrasta homens
e mulheres de todas as idades e condições que vem ao de cima essa verdade
incontestável de que um dia chegará também a nossa vez.
E como uma espécie de vingança - mas numa luta inglória - a
vontade de viver sobrepõe-se a essa lei implacável, e é cada vez maior o desejo
de aproveitar, de sorver todos os momentos.
A Morte ao interromper os sonhos da vida de quem parte
deixa uma sofrida saudade naqueles que ficam.
«Devem chorar-se os homens à nascença e não quando morrem»,
escreveu alguém. Mas, muitas vezes, é difícil conter as lágrimas, mesmo sabendo
que nada remedeiam, nada alteram.
Elas são, nesses instantes, além de um desabafo, uma
espécie de lenitivo, um bálsamo que suaviza essa dor pungente que rasga a alma,
e que só o tempo faz desaparecer. Lágrimas – gotas de água que tantos
significados podem ter!
E lágrimas de Mãe, não são iguais a outras lágrimas. Lágrimas
de mãe são saudades que transbordam do coração e escorrem pelos olhos…
A propósito, estou a lembrar-me daquela versão do conto
popular, da criança morta que voltou à Terra para pedir à mãe que não chorasse
mais para que a sua mortalha pudesse secar.
Sem comentários:
Enviar um comentário