Apesar de o passado ser construído por uma cadeia de
acontecimentos, nem todos os seus elos são iguais. Nem todos eles desempenharam
igual papel, nem todos “prenderam”
da mesma maneira – enquanto uns deram poesia às coisas, outros ensarilharam-se
e, muitas vezes, emperraram a continuidade do trajecto.
Mas é dos primeiros, daqueles que me prenderam à vida com
ternura, que me fizeram sonhar, que depois me acordaram para enfrentar a
realidade e a seguir me colocaram no caminho da responsabilidade, são esses
elos, esses momentos, que mais gosto de recordar. Ao lembrá-los, é quase como
que ingerir uma poção mágica que me dá ânimo e traz de volta quimeras e sonhos.
É uma espécie de pausa, uma interrupção no percurso e um repouso tranquilo
rodeado da utopia que ainda me resta…
Mas, às vezes, a desilusão é mais forte, e há dias ou
momentos em que sinto necessidade de me isolar, de fugir deste baile de
interesses, deste materialismo galopante, desta falta de ética no comportamento
das pessoas. Cansa-me este jogo do quotidiano feito de competições e de
indiferenças, de hipocrisias e de cinismos, de subtilezas e de astúcias, de
vigaristas transformados em heróis…
Pouco falta para que até a esperança pague imposto!
Num mundo construído sob o signo do dinheiro e em que tanto
se fala em solidariedade, entristece-me que ela não seja aplicada na prática. O
ter é mais importante que o ser…
Falta mais alma, mais responsabilidade, mais altruísmo,
mais espiritualidade pois só assim poderá ser vencida esta crescente
desumanização a que, passivos e indiferentes, assistimos todos os dias.
É preciso acreditar, persistir e não ter medo de expor a
nossa Fé. É necessário proclamar e exibir os valores que herdámos dos nossos pais que selavam um compromisso com uma palavra de
honra ou um aperto de mão.
Às vezes, perante tanta injustiça, tanta falta de valores,
tanto desrespeito pelos pobres, apetece-me gritar e acusar tudo e todos…
A angústia, a dor, o grito, a poesia, tudo isso é uma
espécie de religiosidade e mistério que faz parte da minha já longa caminhada.
De vez em quando é a emoção que me invade… E foi isso que aconteceu há dias ao
ver-me rodeado pela família e por amigos a comemorar mais um aniversário.
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