Chegou-me pelo correio uma carta sem
remetente e sem qualquer outra indicação. Em reforço, um telefonema anónimo
indicando que uma cópia tinha sido enviada para a Redacção. Dentro do
sobrescrito, apenas uns versos. Sem autor e sem data. Tenho por hábito e
princípio dar um único destino às cartas anónimas – o cesto dos papéis.
No entanto, hoje, vou abrir uma
excepção, e vou publicar o seu conteúdo. Por dois motivos. O primeiro
relaciona-se com o facto de, ao publicá-lo, levar o seu autor a reivindicar a
posse; o segundo tem a ver com uma
questão de identificação: se eu fosse poeta diria exactamente a mesma coisa. É
o que penso e o que sinto. Sou eu a falar. É o meu pensamento vestido de
letras…
«Não! Eu nunca serei um velho.
Por tudo aquilo que sinto,
E quando me vejo ao espelho,
Ele me diz que não minto.
Podem dizer: Que vaidoso!
Natural, a idade avança,
Acontece, quando o idoso
Se torna outra vez criança…
Não, não é gabarolice,
É forte disposição,
Pois não pode haver velhice,
Quando há paz no coração.
Vou saboreando este gosto,
Serenamente, com calma,
Conservando no meu rosto,
Esta paz que me vai na alma.
Quando a vida estiver finda,
Já dentro do meu caixão,
Eu direi sempre, sempre e ainda,
Morto, sim, mas velho, NÃO!...»
O título desta minha crónica de hoje foi
roubado. Não o fiz deliberadamente e estou pronto a devolvê-lo a quem o
escreveu. Mas por tão bem e por tão fielmente ter traduzido os meus
sentimentos, e apesar de anónimo, para o autor, o meu bem-haja!
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