Lembro-me de que no tempo em que me
começava a crescer a barba, portanto naquele tempo da dita dura (agora ela é mole!...) fazia parte, no começo da
caça ao voto, a organização de grandes comezainas ou manifestações de homenagem
onde se pedia aos Zés a recandidatura de venerandas figuras que, aliás, já
estavam escolhidas.
Manda a verdade que vos diga que numa
dessas acções preparatórias,
fui também convidado e presenteado com uma viagem à cidade invicta onde um dos
putativos candidatos fazia a sua campanha. Assisti a parte da arenga e tenho
ainda presente a tónica dominante dos discursos inflamados que pediam esse “sacrifício
“aos futuros eleitos de cujos serviços a Pátria não prescindia!
Muitas palmas, vivas a isto e àquilo e,
por fim, os eternos candidatos lá aceitavam o “sacrifício” em nome dos
superiores interesses da Nação e da vontade expressa por toda aquela gente que,
espontaneamente viera de perto
e de longe esperançada em melhores escolhas...
Nesta altura o estralejar das palmas era
mais forte e prolongado, os “vivas” eram mais roucos, mais profundos, e os
elogios andavam de boca em boca, qual deles o mais hipócrita.
Mas, como disse no começo, se tais
práticas se passavam quando era ainda imberbe, hoje grande parte dos putativos candidatos
não consegue libertar-se desses rituais…
Reparem só como se repetem as mesmas
manhas, as mesmas promessas, os mesmos cenários e como usam a barriga como chamariz
para angariar votos e depois de toda essa fantochada, como eles aceitam esse
“sacrifício” em nome do povo, da terra ou até da Pátria!
A diferença com o “antigamente” está nas
benesses que auferem, desde o carro do Estado, passando pelo ordenado, pela
reforma no fim de alguns mandatos, nos prémios de reintegração e nas somas
astronómicas que gastam, e etc., etc.
Nas campanhas são milhares de euros na
promoção da sua imagem, percorrem milhares de quilómetros nos seus carros topo
de gama, organizam festas, contratam bandas, tudo isso embrulhado em promessas
que jamais cumprem!
Na minha maneira de pensar classifico os
políticos em três categorias: o político por ideal, o político por amor à terra
e o político por interesse. Ainda segundo a minha avaliação, o político por
ideal, escafedeu-se; o político por amor à terra está em vias de extinção e o
político por interesse ou dinheiro, é o que mais abunda e prolifera cá no
rectângulo.
Vem este meu escrito de hoje a propósito
de um cartaz de 1949, data da viagem a que acima me refiro, que encontrei na
minha velha arca, e que tem escrito em letra grande “ A República precisa de
ti”.
Mais de meio século depois a República
continua a precisar de alguém…Mas de alguém que a sirva e não se sirva
dela.
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