segunda-feira, agosto 31, 2009

P A U S A S



Como já muitas vezes aqui tenho escrito, somos um povo com uma mentalidade ímpar e com uma filosofia de vida difícil de igualar. Choramingas, trapaceiros, invejosos, fingidos, bazófias, manhosos, todos esses papéis sabemos desempenhar como nenhuma outra raça!
Dizem que somos um povo mandrião, mas isso não é verdade. Se mais não trabalhamos é porque o subsídio de desemprego e outros que tais, asseguram uma vida repimpada, sem que andemos a dar o corpo ao manifesto…Aliás, o que a malta quer é emprego, trabalho não...
Mas como já não bastasse a vida folgada de grande parte dos indígenas cá do rectângulo, acrescentou-se e legalizou-se esse tal “descanso” e pôs-se-lhe o nome de “férias”.
E há uns anos a esta parte, como de um preceito evangélico se tratasse, todos se tornaram cristãos, e adoptaram-no. Não tanto por convicção, mas porque parece ter-se convencionado que quem não fosse para fora, mesmo cá dentro, não era cidadão de corpo inteiro.
E então, mal se cumprimenta o amigo, a pergunta já está na câmara, pronta a disparar: - «Então que tal essas férias?!...»
Se o indígena responde que não, que é coisa que não faz ou que não pode fazer, logo o perguntador, armado em conselheiro, lhe explica a vantagem desses período de lazer: - «Olhe que as férias fazem bem à saúde, ao espírito; faz bem fugir de tudo isto, mudar de ambiente...»
É verdade que não só o corpo como o espírito necessitam de um repouso, de uma paragem, para retemperar forças e arejar ideias. Só que as férias de hoje, em muitos casos, em vez de descontraírem, aumentam ainda mais a tensão do dia-a-dia.
Salvo raras excepções, muitos regressam de férias mais fatigados do que quando foram... Mas como é moda e não se pode ficar atrás do vizinho, haja o que houver, fique o que ficar, haja ou não posses para o fazer, há que "fugir", fazer a trouxa e ir até qualquer parte. De preferência até à praia. As filas, o calor, nada disso conta, pois que férias são férias e é até de bom-tom e confere uma certa importância ir de férias. Há ainda quem goste de "emoldurar o estatuto"e atravesse mares, e rume a lugares paradisíacos e exóticos onde gastam pipas de massa e ingurgitam, toda a espécie de mixórdias, gabando-se depois de terem gozado à farta e de terem comido manjares divinais!...
Apesar de toda esta “má-língua” já devem ter percebido que eu não sou uma excepção à regra e que também vou de férias!
Quando Algarve se escrevia só com um L, costumava ir para a “Praia dos Tomates”, que na altura estava na moda, e era frequentada quase só pelos graúdos. Agora como já tem nome estrangeiro, fico-me pela “Praia dos Nabos”. É mais genuína, mais portuguesa… e mais barata.
Até ao meu regresso «façam o favor de serem felizes», como dizia o nosso saudoso e inesquecível Raul Solnado, que Deus haja…

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