Pontapés
Aqui há tempos um estudo feito pelo Centro Europeu de
Pesquisa de Assuntos Sociais sobre “As paixões do futebol” concluía que, na
Europa, os portugueses são mais viciados no sexo do que na bola e que quatro em
cada cinco indígenas preferem o sexo a um bom jogo de futebol!
Nunca acreditei muito nos resultados dessas consultas de
opinião e então neste caso, tenho muitas reservas e dúvidas quanto às
conclusões do referido estudo.
A euforia que se viveu aqui na minha cidade quando a nossa equipa
subiu à Liga de Honra, reforça ainda mais a minha certeza de que os
portugueses, tanto no sexo como na bola são os maiores!
Só quem não lê revistas cor-de-rosa, não vê, em cada
esquina, o entusiasmo dos namorados ou não assiste a certos programas de alguns
dos nossos canais televisivos é que pode duvidar da minha afirmação…
Mas falando agora apenas de bola, não há dúvidas de que não
há melhor narcótico para adormecer o Zé do que o futebol.
Mas vem de longe este fenómeno. Se fizermos uma digressão
através dos tempos, encontramos em todas as épocas exemplos das reacções dessas
multidões desportivas.
Desde a antiguidade, passando pela Idade-Média até aos
nossos dias, o fenómeno repete-se embora com roupagens diferentes.
O comportamento psicológico dos adeptos pouco tem variado e
a síntese do especialista brasileiro Inezil Marinho é bem elucidativa: «O
torcedor é em geral um indivíduo habitualmente morigerado, que trabalha durante
toda a semana, cumpre fielmente as suas obrigações, obedece às ordens dos seus
superiores e é incapaz de ofender ou agredir alguém (…) Mas quando na multidão,
como um dos integrantes da claque, sofre transformação radical. É capaz de
dirigir os maiores insultos ao árbitro ou aos jogadores da equipa adversária,
atirar-lhes garrafas ou pedras e é até capaz de agredi-los (…) Não raciocina
com lucidez e é vítima de grande número de erros de percepção pela paixão que o
domina, pelo partidarismo que o impede de analisar os factos como são…»
Com esta citação não quero, evidentemente, “vestir” toda
aquela gente que apoia e sofre com a nossa equipa e que alimenta até ao fim a
esperança de um final feliz. Esses são credores de toda a minha estima e
admiração e com eles partilho o mesmo sonho.
Devo afirmar, no entanto, que me alegra o facto de ver que
há cada vez mais adeptos do pontapé!
Só é pena que eles, os pontapés, se fiquem apenas pela bola,
porque e politicando um pouco, há por aí muitos a merecê-los. Bem merecidos e
num sítio que eu cá sei...
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