sexta-feira, abril 01, 2016

DÍVIDAs


 
Somos uns queixinhas incorrigíveis! Queixamo-nos de tudo… E da chuva, porque chove; e do sol, porque faz calor; e do frio, porque caiu geada; e das costas por causa do vento suão; e dos ossos por causa da humidade; e dos bicos-de-papagaio, das artroses, do preço dos combustíveis, da carestia da vida …enfim, é como que num rosário, em que, de tanto queixume, as contas estão tão puídas, que os dedos mal se apercebem do seu deslizar!
Quanto a queixarmo-nos dos políticos que nos saíram na rifa, aí a coisa fia mais fino. Vejam os nossos irmãos brasileiros como estão na iminência de uma indigestão por causa de uma caldeirada dos ditos, perdão, de lulas!
Mas voltando cá ao nosso querido rincão e às queixinhas, sobretudo no capítulo da política, é bom saber que foi sempre assim, foram sempre os mais desfavorecidos a pagar a conta. Nada do que acontece agora, é novo.
Ainda há liberdade de barafustar, de lhes chamar nomes feios, mas não mudamos nada. Já assim era há 146 anos!...
Vejam as semelhanças lendo o texto inserido no Jornal “A Lanterna” de 17 de Dezembro de 1870: “O governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo. Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo: Empréstimos e Impostos.
Por um lado, o governo mandou para as cortes uma carregação de propostas tendentes todas a aumentar de tributos; por outro lado, o governo vai negociar um empréstimo no estrangeiro; é dinheiro emprestado e dinheiro espoliado. Pede-se primeiro aos agiotas para pagar às camarilhas; depois tira-se ao povo para pagar aos agiotas!
E ao passo que se trata de um empréstimo em Londres, negoceia-se outro empréstimo com os bancos nacionais. Este tem cara de dívida flutuante interna e é para pagamento de dívida consolidada externa! Este empréstimo que nos está às costas para pagamento no fim de três meses sai na razão de 13,2%! E no fim não é dinheiro aplicado em nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida!
É a dívida a endividar-nos cada vez mais! É a dívida a crescer para pagar as sinecuras do estado! É a dívida a multiplicar-se para não faltarem à corte banquetes, festas, caçadas, folias!
Esta situação é terrível e tanto mais que ela exige para se não agravar, de sacrifícios com que o país não pode e que de mais não deve fazer, quando eles são apenas destinados às extravagâncias da corte e ao devorismo do poder, no qual se inscreve agora o novo subsídio aos pais da pátria!”
Como leram, podemos continuar a queixar-nos do tempo, da dor nas costas, dos bicos de papagaio, da crise, mas dos políticos, de nada vale. É tempo perdido. É sina nossa. Desde que Egas Moniz, o Aio; teve a triste ideia de usar a corda como gravata e ir ali ao lado, a Espanha, pagar uma dívida que não fez, ficámos condenados a seguir o seu exemplo…Paga Zé, e não bufes!

 

 

 

 

 

 

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