Se, por hipótese ou exercício de imaginação, dividíssemos o
português falado em dois escalões, acontecer-nos-ia termos de um lado o
«português erudito» em que é feio arrotar e do outro o português corrente em
que toda a malta se entende, mesmo quando arrota...
Isto para concluir que na nossa como em qualquer outra
sociedade coabitam, pelo menos, duas classes distintas, cada uma delas com
comportamentos diferentes.
No entanto, ao longo da História dos povos há momentos em
que esses comportamentos se devem unificar para resolver problemas que
determinam a continuidade desses mesmos povos.
Por isso, com erudição ou sem ela, quando se diz que é
preciso «apertar o cinto», é sinal de que algo vai mal. E que todos o devem
apertar - os que arrotam e os outros. Diariamente, os jornais, a rádio e a
televisão vão dando conta do agravamento da situação. Mas também mostram que
nem todos se querem convencer de que chegou de facto a hora do «aperto». E por
estranho que pareça, os que deveriam dar o exemplo, parecem cada vez mais
apostados em continuar a delapidar o pouco que já nos resta, gastando onde não devem,
e deixando que a degradação se apodere e ponha fim a sectores que constituem os
pilares da Nação.
A envergadura do mal que enfrentamos atinge tais proporções
que exige que o País se una numa comunhão consciente para fazer o que é necessário,
restaurando valores perdidos, reactivando recursos destruídos e solucionando
problemas sociais. O rol de misérias resultante do encerramento de
infra-estruturas produtivas de norte a sul do País, obriga a que os políticos
esqueçam divergências ideológicas, interesses próprios e particulares, e se
mantenham unidos com uma única e prioritária finalidade: - a recuperação do
País e a restauração da confiança perdida.
Como tenho dito ao longo dos anos, não há nos meus rabiscos
qualquer pretensão de querer endireitar
o mundo e muito menos a de fazer passar mensagens alarmistas e
catastróficas. Nada disso! O que escrevo é o que sinto. E é também muitas vezes
um grito de revolta - a revolta dos que levaram uma vida inteira a trabalhar e
que agora, quase no fim da caminhada, se vêem de mãos vazias ou obrigados a
trabalhar...e muitas vezes para os que nada fizeram, nada fazem, mas tudo têm.
Sem rigor, sem disciplina e sem trabalho não há País que
consiga sobreviver. Temos vivido em permanente festa, sem grandeza, sem honra,
sem ideais que justifiquem os encargos que a Nação suporta.
Só unidos em espírito e trabalho, poderemos continuar
Portugal. Sou, por natureza, optimista, mas a continuar neste clima de euforia,
tentando escamotear a realidade do dia-a-dia, duvido que os nossos netos se
orgulhem do futuro que lhes deixarmos como herança.
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