sábado, janeiro 02, 2016

TODOS IGUAIS


Todos iguais
Quando se atinge uma certa idade, acontece com frequência lembrarmo-nos de factos passados há muitos anos e esquecermo-nos de episódios da véspera. A ciência tem uma explicação para isso, mas como não tenho espaço, nem conhecimentos para entrar em detalhes, vou directo ao assunto...
Quando há dias, por intermédio do meu pequeno ecrã, assistia à reposição da conhecida comédia " As Traquinices da Democracia", lembrei-me de um livro que li há muitos anos e que foi escrito, salvo erro, por um filólogo japonês. Segundo ele, na origem da maioria dos conflitos ideológicos, estão a incerteza e a diversidade dos conceitos atribuídos por uns e por outros às palavras com que se exprimem. É verdade... Muitas vezes basta substituir uma palavra por outra, até por um sinónimo, menos débil ou mais forte, para que os efeitos produzidos sejam diferentes e até mesmo opostos.
O caso mais flagrante é o de dois pacatos e discretos substantivos que entraram no vocabulário de várias línguas com a humilde função de designar uma posição apenas de espaço em relação a outra coisa. São eles, esquerda e direita. Situar-se "à esquerda" ou "à direita", não implicava, no começo, qualquer significado especial, salvo no caso cerimonial em que ficar à direita da pessoa que recebe, era prova de maior consideração do que ficar à esquerda. Mas veio depois a deturpação. E de longe... Parece que de finais do século XVIII, das sessões da Convenção francesa, em que, na Sala da Pela, os Jacobinos (de ideias mais avançadas) se sentavam à esquerda dos Girondinos, (mais moderados) que se sentavam à direita. Daí teria surgido o significado político de "direita" e de "esquerda".    
De então para cá o verdadeiro significado das duas palavras foi adulterado, politizado, o que nos leva hoje a poder afirmar que se trata de um verdadeiro fenómeno de propaganda política. Fenómeno, porque, por mais que tentemos, não conseguimos determinar com exactidão, e na prática, nem onde acaba a esquerda nem onde começa a direita. Uma confusão levada da breca!...
E como tudo na terra gira à volta de convenções, lá se convencionou que os da "esquerda" eram uns patifes, uns salafrários, enquanto os da "direita" eram uns "gajos porreiros", bonacheirões, conservadores e amantes de tudo o que é bom! Intelectuais... só na esquerda! Na direita apenas "atrasados mentais," saudosistas bolorentos, cheirando a naftalina...
A princípio, a coisa resultou. Mas depois... Depois, a velha máxima, "todos diferentes, todos iguais", tornou-se uma realidade. E tantos os patifes e salafrários da esquerda como os bonacheirões e bolorentos da direita, começaram todos a afinar pelo mesmo diapasão, e a lutar pela mesma causa... Uma causa em que, por enquanto, a bandeira ainda ostenta, no meio, um símbolo dourado do  EURO…
Costuma dizer-se que a política é a segunda mais velha profissão do mundo. Mas não acham que é muito parecida com aquela que dizem ter sido a primeira?

 

  

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