Todos
iguais
Quando se atinge uma
certa idade, acontece com frequência lembrarmo-nos de factos passados há muitos
anos e esquecermo-nos de episódios da véspera. A ciência tem uma explicação
para isso, mas como não tenho espaço, nem conhecimentos para entrar em
detalhes, vou directo ao assunto...Quando há dias, por intermédio do meu pequeno ecrã, assistia à reposição da conhecida comédia " As Traquinices da Democracia", lembrei-me de um livro que li há muitos anos e que foi escrito, salvo erro, por um filólogo japonês. Segundo ele, na origem da maioria dos conflitos ideológicos, estão a incerteza e a diversidade dos conceitos atribuídos por uns e por outros às palavras com que se exprimem. É verdade... Muitas vezes basta substituir uma palavra por outra, até por um sinónimo, menos débil ou mais forte, para que os efeitos produzidos sejam diferentes e até mesmo opostos.
O caso mais flagrante é o de dois pacatos e discretos substantivos que entraram no vocabulário de várias línguas com a humilde função de designar uma posição apenas de espaço em relação a outra coisa. São eles, esquerda e direita. Situar-se "à esquerda" ou "à direita", não implicava, no começo, qualquer significado especial, salvo no caso cerimonial em que ficar à direita da pessoa que recebe, era prova de maior consideração do que ficar à esquerda. Mas veio depois a deturpação. E de longe... Parece que de finais do século XVIII, das sessões da Convenção francesa, em que, na Sala da Pela, os Jacobinos (de ideias mais avançadas) se sentavam à esquerda dos Girondinos, (mais moderados) que se sentavam à direita. Daí teria surgido o significado político de "direita" e de "esquerda".
De então para cá o verdadeiro significado das duas palavras foi adulterado, politizado, o que nos leva hoje a poder afirmar que se trata de um verdadeiro fenómeno de propaganda política. Fenómeno, porque, por mais que tentemos, não conseguimos determinar com exactidão, e na prática, nem onde acaba a esquerda nem onde começa a direita. Uma confusão levada da breca!...
E como tudo na terra gira à volta de convenções, lá se convencionou que os da "esquerda" eram uns patifes, uns salafrários, enquanto os da "direita" eram uns "gajos porreiros", bonacheirões, conservadores e amantes de tudo o que é bom! Intelectuais... só na esquerda! Na direita apenas "atrasados mentais," saudosistas bolorentos, cheirando a naftalina...
A princípio, a coisa resultou. Mas depois... Depois, a velha máxima, "todos diferentes, todos iguais", tornou-se uma realidade. E tantos os patifes e salafrários da esquerda como os bonacheirões e bolorentos da direita, começaram todos a afinar pelo mesmo diapasão, e a lutar pela mesma causa... Uma causa em que, por enquanto, a bandeira ainda ostenta, no meio, um símbolo dourado do EURO…
Costuma dizer-se que a política é a segunda mais velha profissão do mundo. Mas não acham que é muito parecida com aquela que dizem ter sido a primeira?
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