Esquerda, volver!...
Há muitos, muitos anos, e embora já se não note por fora
por causa da ferrugem acumulada nas dobradiças, também assentei praça.
Bons tempos, esses, os do curso de milicianos, no antigo
“Lanceiros 2” na Calçada da Ajuda, em Lisboa.
Na altura havia ainda poucos esquadrões motorizados e o de Lanceiros 2, o Esquadrão a cavalo, era uma “tropa a sério”. Quer chovesse quer fizesse sol lá íamos para Monsanto. Os exercícios eram bastante violentos, os instrutores não brincavam em serviço, e não eram nada meigos.
A malta do Quartel de Infantaria do outro lado da Calçada chamava-nos “quebrados impróprios”, porque, como diziam, quando em cima dos burros, era maior o “numerador” do que o “denominador”!
Lembrei-me da frase do título, dessa “voz de comando”, a propósito da nomeação de hoje, do novo Governo, que é uma reviravolta, uma «esquerda, volver...» com tanta força e sonoridade como aquela que um dos cornetins espalhava pela “parada”, e que até fazia estremecer os vidros das velhas janelas do Quartel...
É de facto uma «esquerda, volver...» histórica, esta que começa hoje, dia 24 de Novembro de 2015!
É uma espécie de “terramoto” cujas réplicas vão ainda sentir-se por muito tempo e com intensidades muito variáveis, pois segundo as notícias, são muitas as desafinações entre o “quarteto”, o que vai dificultar a afinação da orquestra no seu conjunto. É a vida, como dizia o outro. Há mudanças de cadeiras, derrubam-se uns e entronizam-se outros!
Mas que se desiludam aqueles que julgam ou alimentam ainda a esperança de que a “coisa” vai mudar para melhor!
Como todos sabem, quem vai governar é forte na arte de distribuir e fraco na de produzir. E para distribuir é preciso haver. E não há. Sobretudo dinheiro...
Portanto, há que trabalhar, produzir, economizar e não esbanjar. Mas será que os homens que vão governar-nos terão a noção de que o factor principal para pôr o País nos carris é o trabalho? E que para que isso aconteça, serão necessários, nos comandos, homens competentes, capazes e conhecedores da realidade? Homens íntegros, resistentes a pressões, isentos, que sirvam e não se sirvam, e cujo passado seja exemplar?
Não irão os novos governantes seguir esse maldito e já enraizado hábito político de fazer uma “varredela” a eito, uma espécie de vingança cega, e esquecer o povo, esses cidadãos anónimos que após uma vida de sacrifícios e canseiras merecem agora, no fim da caminhada, que alguém se lembre deles? E como a esperança é a última a morrer, como vaticinou Bandarra, o sapateiro: «Augurai, gentes vindouras / Que o Rei que daqui há-de-vir / Vos há-de tornar a vir / Passadas trinta tesouras / Dará fruto em tudo santo / Ninguém ousará negá-lo / O choro será regalo; / E será gostoso o pranto.»
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