«Portugal, hoje és nevoeiro...»
«Nem rei nem lei,
nem paz nem guerra,Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe
que coisa quer.
Ninguém
conhece que alma tem,Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto
e derradeiro.
Tudo é
disperso, nada é inteiro.Portugal, hoje, és nevoeiro...
É a hora!»
Fernando
Pessoa escreveu sob o título "Nevoeiro" o poema que acabais de ler.
Li-o pela primeira vez, longe da Pátria, por altura do 25 de Abril de 1974, num
livro enviado por um amigo que o sublinhou com tinta verde...
Reencontrei-o
agora e voltei a lê-lo. E, coisa curiosa: talvez por obra do tempo... da tinta
- verde que era - apenas uma mancha baça enquadra os versos!Parece que é sina nossa. De tempos a tempos acreditamos ainda que D. Sebastião vai chegar rodeado por uma auréola de justiça.
Porém, os tempos mudaram! Os santos também fazem greve, acabaram-se os milagres, e Portugal continua a entristecer e...
«Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.»
Portugal é um país de resistentes e estas cogitações vêm-me à memória quando penso no país que nos querem impor... O povo sente-se desprotegido face a um Estado que tudo lhe exige e nada lhe dá
«Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Portugal, hoje és nevoeiro ...»
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