Na
semana passada, quando assistia a uma sessão no Parlamento em que os nossos
“eleitos” se insultavam mutuamente, lembrei-me de um livro que li há muitos
anos e que, salvo erro, foi escrito por um filólogo japonês.
Segundo
ele, na origem da maioria dos conflitos ideológicos, estão a incerteza e a
diversidade dos conceitos atribuídos por uns e por outros às palavras com que
se exprimem.
Muitas
vezes basta substituir uma palavra por outra, até por um sinónimo menos débil
ou mais forte, para que os efeitos produzidos sejam diferentes e até mesmo
opostos.
A
propósito lembrei-me de dois pacatos e discretos substantivos que entraram no
vocabulário de várias línguas com a humilde função de designar uma posição
genericamente relativa a espaço: esquerda
e direita.
No
começo, situar-se à esquerda ou à direita não implicava qualquer significado
especial, salvo num contexto de deferência em que ficar à direita da pessoa que
recebe era prova de maior consideração. O que ainda é válido.
Mas
veio depois a deturpação. E segundo consta, ela data de finais do século XVIII,
das sessões da Convenção francesa em que na Sala da Pela, os Jacobinos (mais
refilões) se sentavam à esquerda dos
Girondinos (mais moderados) que se sentavam à direita. Daí parece ter surgido o significado político de direita e de esquerda. E foi a deturpação. Ou pior – a politização!
E
como neste Mundo tudo gira à volta de convenções, lá se convencionou que na “esquerda” estavam os patifes e na “direita”
os bonzinhos. A princípio a coisa parece ter resultado, mas com o rolar dos
anos tudo mudou e apesar de a esquerda
continuar a ser a mais caceteira e arrogante a direita, muitas vezes não lhe fica atrás.
A
máxima “todos diferentes, mas todos
iguais” funciona a todo gás nas lides políticas e no Parlamento é
indigna e desonesta a maneira como os nossos “eleitos” se engalfinham uns nos
outros.
Foi
o caso da sessão a que assisti e que motivou estes meus rabiscos de hoje.
Confesso que me senti envergonhado e triste por ser tão baixo o nível dos que
representam o País.
Numa
altura em que tanto precisamos de bons exemplos para elevar a nossa escala de
valores e fazer subir a nossa auto-estima, o que presenciamos é uma luta
encarniçada entre gente irresponsável, mais preocupada em aumentar as suas
contas bancárias do que, propriamente, em tentar resolver os graves problemas
do País.
Politicamente
falando, e radicalismos à parte, esquerda
e direita são palavras sinónimas. Não há diferença entre elas. Ou entre eles
– os que dizem ser de um ou do outro lado. Salvo raríssimas excepções, ambos
defendem apenas e só os seus interesses pessoais. Desafio os leitores a provar
o contrário…
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