Faz hoje, dia 8 de Maio
de 2015, setenta anos que terminou a segunda Guerra Mundial. A notícia da
assinatura da rendição correu o mundo na manhã do dia 8. Truman, nos Estados
Unidos; Churchill, no Reino Unido; e de Gaulle, na França, anunciam
oficialmente o fim da guerra às 15 horas. A partir de então, o dia 8 de Maio
tornou-se a data-símbolo da vitória sobre a Alemanha nazista. Recordo-me desses
tempos difíceis devido ao racionamento de bens e lembro-me também das
artimanhas a que tinham de recorrer os lavradores, - cuja produção era
contabilizada pela mão dos regedores - para lhes fugir e venderem os produtos
sem que a IGA (Intendência geral dos Abastecimentos) uma espécie de ASAE de
hoje, tivesse conhecimento!...
Muito havia a dizer
sobre isso, mas encontrei hoje, por acaso, uns papéis já amarelecidos nos quais
rabisquei a euforia vivida após o conflito. Nos anos 50, vivia-se a todo o gás, tentando recuperar o tempo perdido.
Com as sopas em pacote chega ao Velho Mundo a coca-cola. Começa a falar-se no
aspirador e as meias de nylon
fazem a sua aparição. Em França – de onde tinha mais notícias, através dos
jornais, embora chegados com atrasos de meses – a indústria automóvel atingia
as 190 mil unidades produzindo, entre outros, um carro que acabaria por seduzir
a Europa, a Renault 4. Em 54, – tenho anotado – no salão das "Arts
Ménagers" em Paris, podia fazer-se a barba de graça com a máquina de
barbear eléctrica, made in USA!
Era o tempo
dos três "Dês" – "Drôles de Moeurs, Drôles de Modes e Drôle d’Espoque!
Mas era também a grande festa da literatura francesa com Sartre, Mauriac,
Camus, Gide e da ousadia de Françoise Sagan com "Bonjour Tristesse".
E com Minou Drouet que publica poemas de amor aos 7 anos e Roberto Benzi que
dirige em calção as mais famosas orquestras! Era o tempo dos prodígios! E
continuo a folhear...Martine Carol, Brigitte Bardot, são duas
"bombas" que explodem e cujas ondas de choque chegam a atingir os
"States". O cinema marca pontos: Jean Marais, Eddie Constantine,
aliás, Lemy Caution, Louis Jordan, Belmondo, Charrier, Gérard Philipe,
apaixonam multidões de admiradoras. Edith Piaf reina no music-hall e quando
canta «é a chuva que cai, é o vento que sopra, é a luz da lua que estende o seu
manto», no dizer de Cocteau. De Bruxelas chegam Brassens, Bécaud e Brel que vêm
justar-se a Yves Montand, Aznavour, e a tantos outros. Do outro lado do
Atlântico é Sidney Bechet com "Petite Fleur" e os seus novos ritmos
de jazz "New Orléans" que faziam vibrar a juventude, que escutava,
bebendo laranjada. E paro de folhear...
São pedaços de
papel amarelecido, escritos na solidão dos trópicos, à luz da
"Petromax", ouvindo os ruídos indefinidos da floresta virgem, e
sorvendo o perfume inebriante das orquídeas selvagens, como há dias referi num
texto sobre uma das minhas caminhadas.
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