sábado, maio 16, 2015

PAPEIS AMARELECIDOS


 
Faz hoje, dia 8 de Maio de 2015, setenta anos que terminou a segunda Guerra Mundial. A notícia da assinatura da rendição correu o mundo na manhã do dia 8. Truman, nos Estados Unidos; Churchill, no Reino Unido; e de Gaulle, na França, anunciam oficialmente o fim da guerra às 15 horas. A partir de então, o dia 8 de Maio tornou-se a data-símbolo da vitória sobre a Alemanha nazista. Recordo-me desses tempos difíceis devido ao racionamento de bens e lembro-me também das artimanhas a que tinham de recorrer os lavradores, - cuja produção era contabilizada pela mão dos regedores - para lhes fugir e venderem os produtos sem que a IGA (Intendência geral dos Abastecimentos) uma espécie de ASAE de hoje, tivesse conhecimento!... 

Muito havia a dizer sobre isso, mas encontrei hoje, por acaso, uns papéis já amarelecidos nos quais rabisquei a euforia vivida após o conflito. Nos anos 50, vivia-se a todo o gás, tentando recuperar o tempo perdido. Com as sopas em pacote chega ao Velho Mundo a coca-cola. Começa a falar-se no aspirador e as meias de nylon fazem a sua aparição. Em França – de onde tinha mais notícias, através dos jornais, embora chegados com atrasos de meses – a indústria automóvel atingia as 190 mil unidades produzindo, entre outros, um carro que acabaria por seduzir a Europa, a Renault 4. Em 54, – tenho anotado – no salão das "Arts Ménagers" em Paris, podia fazer-se a barba de graça com a máquina de barbear eléctrica, made in USA!

Era o tempo dos três "Dês" – "Drôles de Moeurs, Drôles de Modes e Drôle d’Espoque! Mas era também a grande festa da literatura francesa com Sartre, Mauriac, Camus, Gide e da ousadia de Françoise Sagan com "Bonjour Tristesse". E com Minou Drouet que publica poemas de amor aos 7 anos e Roberto Benzi que dirige em calção as mais famosas orquestras! Era o tempo dos prodígios! E continuo a folhear...Martine Carol, Brigitte Bardot, são duas "bombas" que explodem e cujas ondas de choque chegam a atingir os "States". O cinema marca pontos: Jean Marais, Eddie Constantine, aliás, Lemy Caution, Louis Jordan, Belmondo, Charrier, Gérard Philipe, apaixonam multidões de admiradoras. Edith Piaf reina no music-hall e quando canta «é a chuva que cai, é o vento que sopra, é a luz da lua que estende o seu manto», no dizer de Cocteau. De Bruxelas chegam Brassens, Bécaud e Brel que vêm justar-se a Yves Montand, Aznavour, e a tantos outros. Do outro lado do Atlântico é Sidney Bechet com "Petite Fleur" e os seus novos ritmos de jazz "New Orléans" que faziam vibrar a juventude, que escutava, bebendo laranjada. E paro de folhear...

São pedaços de papel amarelecido, escritos na solidão dos trópicos, à luz da "Petromax", ouvindo os ruídos indefinidos da floresta virgem, e sorvendo o perfume inebriante das orquídeas selvagens, como há dias referi num texto sobre uma das minhas caminhadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

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