sábado, maio 09, 2015

CAMINHADAS

Esta minha caminhada começou em 14 de Abril de 1951 apenas com dois participantes. Os anos foram passando e, entretanto, juntaram-se mais dois caminheiros. Éramos, então, quatro. E quase isolados do Mundo, sob o calor tórrido dos trópicos, partilhámos as nossas vidas, os nossos afectos e fruímos de uma felicidade sem igual!
Foram dias, meses, anos de manhãs de sol quente com o perfume das orquídeas selvagens e com a seiva da juventude a borbulhar na mente e a desenhar em arabescos indecifráveis projectos de um futuro utópico.
Era naquele tempo sem tempo, - a Primavera da Vida - no tempo das flores em que os frutos começam a  crescer…
E por falar em crescimento, e apesar de tantos anos passados, ainda tenho na mente as gargalhadas estridentes e o chorar, por vezes birrento, dos meus meninos!
Mas como acontece com a Natureza, a Vida tem também os seus caprichos, as suas mudanças, os seus ciclos.
E à medida que o tempo foi passando, o percurso foi mudando, umas vezes com subidas íngremes, outras com descidas bruscas e inesperadas. E quão difícil foi subir umas ou descer outras!
Mas nem sempre é noite. Há sempre o dia que se segue. E em momentos de aflição, de desânimo e até de desespero, a determinação falou mais alto e dentro de mim, qualquer coisa de inexplicável despertou, ajudando-me sempre a erguer e a prosseguir o caminho.
E sessenta e quatro anos depois aqui estou. Agora mais acompanhado. De dois que éramos, quatro que fomos, somos agora, apesar de algumas desistências, uma dúzia!
E quantos sacrifícios, quantas lágrimas, quantos sorrisos, quantas renúncias, mas também quantas alegrias, e quanto orgulho!...
Começar do nada sem ajudas de ninguém e apenas com o nosso próprio suor e trabalho, ser livre, sem peias de qualquer espécie é coisa difícil de fazer compreender a muita gente deste nosso mundo de hoje - um mundo egoísta, invejoso, hipócrita, cheio de falsos profetas, ávido de dinheiro fácil, mais dado à preguiça do que ao trabalho, mais inclinado para gastar do que para angariar.
Sessenta e quatro anos!...
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial – industrializou a esperança, fazendo-a funcionar até ao limite da exaustão.
E se multiplicarmos sessenta e quatro anos por doze meses, verificamos que o somatório dá para qualquer ser humano se cansar… Mas é então aí que entra o milagre. O da renovação. Que me leva a pedir mais uma fatia para saborear conjuntamente com toda a equipa.
 
 

 

 

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