CRÓNICAS &
COMENTÁRIOS
O meu ginásio
A ideia geral do artigo era, pareceu-me,
enaltecer as virtudes do exercício feito a vergar a mola nas tarefas rurais e
menosprezar a manutenção do corpo quando feita num ginásio duma grande cidade,
de Lisboa por exemplo.
Não gosto de me envolver em polémicas
com colegas da escrita, especialmente quando isso significa meter-me com o tipo
que me paga estas crónicas (a peso de ouro, diga-se de passagem); contudo,
desta vez senti-me atingido pelo texto, irritado com aquele arrazoado de
superioridade rural e, vai daí, elaborei todo um esquema para provar a
falsidade do pressuposto.
Um primeiro ponto, desde logo, nos
separa: graças à evolução civilizacional que só as mentes brilhantes que
habitam nas grandes cidades permitem, nós, os citadinos, os verdadeiros “homos
sábios”, há muito que pusemos de lado o uso de instrumentos de tortura da idade
média!
Instrumentos, de cuja intensa utilização
o senhor Director faz gala: é a forquilha, a barra de ferro, a picareta, o
machado, o serrote e o farpão! Entre outros! Com quase noventa anos e ainda
agarrado a instrumentos tão retrógrados, de tão má memória? É obra!
Suprema lata quando escreve… eu exercitando os músculos dos braços puxando a máquina (que é
eléctrica, esqueceu-se o senhor de dizer….) e ela tinha que
empurrar o carro de mão (que nem é eléctrico, nem a gasolina….) e fazer flexões dos membros e do
tronco….”.
Valha-me o nosso senhor da paciência! É
claro que a sua alma gémea também tinha que frequentar aquilo que o senhor diz
ser um ginásio! Mas é por medo, é por puro medo e até me arrepio só de o
imaginar atrás dela, o farpão em riste, impedindo-a de ir descansar ou de
recolher ao doce e suave recato do sofá, na sala.
Pois bem senhor Director deixe-me
dizer-lhe o seguinte: o seu ginásio, em comparação com o meu, com o da cidade,
é uma treta! É que não há comparação! E olhe que o comprovei usando um método
científico recentíssimo, não lhe explico porque o meu amigo não ia entender
patavina, é só para gente com muita urbanidade, tangencial ou secante, de
índole e carácter pioneiros e coisas do género, conversa tipo um candidato a
candidato que dá pelo nome de Sampaio.
Eis o resultado: em cinco horas
consecutivas de intensa poda de arbustos, de alucinado desbaste de ervas
daninhas e dum furioso corte de relva, nem uma ponta de suor na minha camisa!
Nem tão-pouco um aumento na elasticidade das falanges, quanto mais das
falangetas. Dores nas costas? Puf…nem sei o que isso é!
Infelizmente tenho que terminar. A Maria
precisa da minha ajuda, ela sim é que ficou muito maltratada, está, como o
senhor diz “num molho”! Coitadinha, não admira, sozinha durante todas aquelas
horas de exercício rural.
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