sexta-feira, abril 17, 2015

RESPOSTA A "O MEU GINÁSIO" .. de um citadino, claro!


CRÓNICAS & COMENTÁRIOS

 João Ventura da Costa

O meu ginásio
 O senhor Director deste jornal, pessoa que muito estimo e respeito e que acumula o cargo com o de marido da senhora minha Mãe, escreveu, há umas semanas, um artigo sobre a sua preparação física, feita, nas suas palavras, num ginásio muito diferente dos que existem nas cidades.

A ideia geral do artigo era, pareceu-me, enaltecer as virtudes do exercício feito a vergar a mola nas tarefas rurais e menosprezar a manutenção do corpo quando feita num ginásio duma grande cidade, de Lisboa por exemplo.

Não gosto de me envolver em polémicas com colegas da escrita, especialmente quando isso significa meter-me com o tipo que me paga estas crónicas (a peso de ouro, diga-se de passagem); contudo, desta vez senti-me atingido pelo texto, irritado com aquele arrazoado de superioridade rural e, vai daí, elaborei todo um esquema para provar a falsidade do pressuposto.

Um primeiro ponto, desde logo, nos separa: graças à evolução civilizacional que só as mentes brilhantes que habitam nas grandes cidades permitem, nós, os citadinos, os verdadeiros “homos sábios”, há muito que pusemos de lado o uso de instrumentos de tortura da idade média!

Instrumentos, de cuja intensa utilização o senhor Director faz gala: é a forquilha, a barra de ferro, a picareta, o machado, o serrote e o farpão! Entre outros! Com quase noventa anos e ainda agarrado a instrumentos tão retrógrados, de tão má memória? É obra!

Suprema lata quando escreve eu exercitando os músculos dos braços puxando a máquina (que é eléctrica, esqueceu-se o senhor de dizer….) e ela tinha que empurrar o carro de mão (que nem é eléctrico, nem a gasolina….) e fazer flexões dos membros e do tronco….”.

Valha-me o nosso senhor da paciência! É claro que a sua alma gémea também tinha que frequentar aquilo que o senhor diz ser um ginásio! Mas é por medo, é por puro medo e até me arrepio só de o imaginar atrás dela, o farpão em riste, impedindo-a de ir descansar ou de recolher ao doce e suave recato do sofá, na sala.

Pois bem senhor Director deixe-me dizer-lhe o seguinte: o seu ginásio, em comparação com o meu, com o da cidade, é uma treta! É que não há comparação! E olhe que o comprovei usando um método científico recentíssimo, não lhe explico porque o meu amigo não ia entender patavina, é só para gente com muita urbanidade, tangencial ou secante, de índole e carácter pioneiros e coisas do género, conversa tipo um candidato a candidato que dá pelo nome de Sampaio.

Eis o resultado: em cinco horas consecutivas de intensa poda de arbustos, de alucinado desbaste de ervas daninhas e dum furioso corte de relva, nem uma ponta de suor na minha camisa! Nem tão-pouco um aumento na elasticidade das falanges, quanto mais das falangetas. Dores nas costas? Puf…nem sei o que isso é!

Infelizmente tenho que terminar. A Maria precisa da minha ajuda, ela sim é que ficou muito maltratada, está, como o senhor diz “num molho”! Coitadinha, não admira, sozinha durante todas aquelas horas de exercício rural.

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