Foram tantas as injustiças denunciados
pelos indígenas, que obrigaram o Criador a agir. E então, Deus, chamou o Noé
português e disse-lhe: “Vou fazer chover continuamente até que o “Rectângulo”
desapareça do mapa. Dou-te seis meses para construíres uma Arca onde guardarás
um casal de cada ser vivo que habite o rectângulo. “Muito bem”, disse Noé a
tremer. E Deus continuou: “Dentro em breve começará a chover e é bom que te despaches…
Passados dois meses a chuva começou a
cair, e Deus, por entre uma nuvem, avistou Noé a chorar sobre um penedo, mas
não viu qualquer vestígio da Arca.
E então Deus perguntou: “Noé, onde está
a Arca”? E Noé respondeu: “Peço-te perdão, meu Deus, tenho feito o possível,
mas tenho tido grandes contratempos: em primeiro lugar o plano que deste para a
construção não foi aprovado, porque não respeitava as normas da Troika. A
seguir o Banco que me financiava faliu. Depois tive uma grande discussão com a
protecção civil que obrigou a juntar ao plano um sistema de aspersão em caso de
incêndio na Arca. A seguir o meu vizinho fez queixa às autoridades por estar a
construir a Arca em terreno não contemplado no PDM. Com as madeiras para a
construção tive também grandes dificuldades, porque as árvores que queria
cortar serviam de abrigo a uma ave rara, o papagaio, que faz parte do bando,
que faz saraus no Palratório Nacional e cuja espécie está protegida.
Surgiu depois um imprevisto com o
sindicato dos carpinteiros a respeito de horas suplementares e só consegui
contratar seis que estavam no Fundo de Desemprego. Outra contrariedade surgiu
quando comecei a querer capturar os animais. Tive de fazer várias reuniões com
a Sociedade Protectoras dos bichos e com os ecologistas, que teimavam em não os
deixar aprisionar.
Quando tudo parecia estar em ordem
recebi do Ministério do Ambiente uma carta intimando-me a apresentar um mapa
com o sítio da inundação e os eventuais prejuízos para a Natureza. Mandei-lhe
um globo terrestre onde indicava São Bento e parece que ficaram satisfeitos.
Agora mesmo recebi ordem para me apresentar no Ministério do Trabalho, porque
não respeitei a quota de emprego e só contratei velhotes, os únicos que
quiseram trabalhar.
Por fim, o Governo avisou que vai
confiscar todo o material que está no estaleiro com o pretexto de que os
direitos de autor não foram pagos ao primeiro construtor.
Por tudo isto, meu Deus, por todos estes
atrasos, só daqui a cinco meses conseguirei ter a Arca pronta…”
De repente o céu tornou-se limpo e azul,
o sol começou a brilhar e um arco-íris apareceu com toda a sua beleza. Noé,
esperançado, sorriu. “Meu Deus, através deste sinal celeste, quererás dizer-me
que já não vais fazer desaparecer o meu País?” E Deus respondeu: “Não, Noé! Não
o vou destruir, porque os homens que vós escolhestes para governar, já o
fizeram…”
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