Hoje é sábado, o Sol aquece, e aqui
estou eu no meu habitual cantinho, ao ar livre, a ver o pulsar da aldeia.
Grande azáfama. Os tractores passam em frente, na estrada, a caminho dos campos
onde os agricultores vão plantar as suas batatas, o cebolo, as alfaces, semear feijão
e proceder aos demais trabalhos próprios da época.
Hoje de manhã também plantei um
pessegueiro e embora seja já um pouco fora da época espero que vingue e que
ainda possa comer os seus deliciosos frutos - aqueles pêssegos carecas que têm
um cheirinho característico e que resistem, sem pesticidas, a essas pragas que
agora por aí proliferam. Ontem foi a vez de dois abacateiros pequeninos em
substituição de outros que a geada queimou.
Dias encantadores, estes, de sol
traiçoeiro, mas que depois de um Inverno frio e chuvoso nos vem agasalhar a
alma e devolver a boa disposição. Há pouco fui até ao fundo do quintal e em
todas as plantas há sinais de renovação. Pequenos borbotos indiciam a chegada
da Primavera. As andorinhas já riscam o céu e o chilrear da passarada é a
música de fundo desta colorida manta que começa a cobrir o meu quintal.
Como é bela a minha aldeia! O local onde
demos os primeiros passos...Mesmo no Inverno, quem fica insensível à primeira
camada de geada numa bela manhã estranhamente azul e quieta, que deixa tudo
branco? Que encantamento esse que ainda hoje perdura no arquivo poeirento das
minhas recordações!
Que sensação de
bem-estar agora ao contemplar estes verdes campos, assistir ao nascer do dia,
ver o brilho das gotas de água nas plantas que, como lágrimas, rolam pelas
folhas, acariciadas pelos raios do Sol que desponta!
E na Primavera, manhã
cedo, abrir a janela e respirar essa mistura de perfumes da Natureza ouvindo o
chilrear da passarada – essa sinfonia ímpar que reboa no manto verde dos
campos?! E o grito estridente e temeroso do melro que ali bem perto procurava
alimento e foge? E aquele silêncio misterioso do dia quando acorda ainda
envolto na neblina da manhã!
E há tantas outras
coisas insignificantes que nos deliciam: uma criança que ri na casa ao lado, as
dolentes badaladas de um sino lá longe; o canto do galo do vizinho, um amigo
que passa na rua e nos dá os bons dias; o cheiro característico exalado pela
terra seca borrifada por uns pingos de chuva...
Costuma dizer-se que
a felicidade não mora longe de nós, mas vive escondida no nosso interior,
disfarçada em pequenos nadas.
Haverá melhor bálsamo
– tão simples, tão fácil de comprar e tão eficaz – para minimizar as amarguras
e as arrelias do dia-a-dia, reforçar a paz interior e dar força para continuar
a caminhada, do que essas pequenas coisas em que tropeçamos constantemente?!...
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