quinta-feira, abril 02, 2015

O MEU GINÁSIO

 
Estou, como costuma dizer-se, “num molho”. E por quê?... - quererão saber os leitores mais curiosos. Eis a resposta: porque, hoje, sábado, 28 do mês de Março do ano da graça de dois mil e quinze, pela primeira vez, ‘fiz’ ginásio!
É verdade que é um ginásio diferente daqueles das cidades. É assim a modos que um ginásio rural. Não tem aqueles acessórios com nomes esquisitos e estrangeiros, mas nele também se pode tratar do físico da mesma maneira e usando processos naturais.
O único acessório que não é nacional, é uma máquina de cortar relva de marca inglesa, porque os restantes são todos feitos cá no rectângulo e alguns já os meus avós usavam para conservar o esqueleto em boa forma.
A forquilha, a pá, o ancinho, a barra de ferro, a picareta, a enxada, o machado, o sacho, o serrote, a tesoura da poda, o farpão, são alguns dos apetrechos que se perfilam aqui nesta minha área de manutenção. Esqueci-me de mencionar o carro de mão que é também, e ao mesmo tempo, um transporte e um instrumento de desporto.
Cerca das nove da matina eu e a minha alma gémea, vestidos a preceito, começámos o treino - eu exercitando os músculos dos braços puxando a máquina, e ela com o carro de mão, onde esvaziava a relva cortada, fazia flexões dos membros e tronco, e a seguir despejava os resíduos num monturo destinado ao processo de curtimenta.
De vez em quando interrompíamos este exercício e percorríamos a distância entre a parte relvada e o fundo do quintal, exercício este, que não só servia para descontrair, mas também para nos refrescarmos colhendo e comendo uma laranja do pomar.
Durante o ano, sobretudo a partir da Primavera, esta prática é semanal e todos os outros utensílios que atrás mencionei são utilizados noutros exercícios adequados ao seu desempenho.
Hoje, por exemplo, a pá e o sacho foram também utilizados num exercício de remoção de terras trazidas pela enxurrada o que obrigou, com várias insistências, a flexionar o tronco e a desenferrujar a “mola”.
De igual modo a tesoura da poda, ao ser utilizada para aparar alguns arbustos da sebe obrigou as falanges, falanginhas e falangetas a contorções que lhes avivaram a elasticidade.
O sol quis também associar-se e, acalorado, deu uma ajuda, fazendo com a transpiração escorresse esqueleto abaixo, deixando manchas no vestuário, ao extravasar as toxinas contidas no organismo.
E assim, durante algumas horas, fomos tratando do físico, terminando os meus exercícios com uma espécie de sessão de halteres erguendo e baixando o machado amiudando lenha para ajudar a acender o fogão nas manhãs e noites frias que ainda vamos ter…
Agora podem fazer uma ideia, ainda que ténue, de como me sinto. Dói-me tudo. E se estou a descrever a minha manhã de “exercício físico” é para demonstrar que na aldeia também podemos dar-nos ao luxo de “fazer ginásio”. É verdade que nos sai do corpo, mas poupamos na carteira e fazemos uma limpeza aos pulmões, inalando esta mistura de ar puro do campo e da serra.

 

  

 

 

   

 

 

 

 

 

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