sexta-feira, dezembro 12, 2014

EM JEITO DE CONFISSÃO

Há muita gente que tem medo de envelhecer. No meu caso, confesso que me sinto feliz por ter chegado a esta fase da vida. Ela dá-me a oportunidade de prosseguir o meu desenvolvimento tanto no aspecto pessoal como social.
E quanto não vale este livro ilustrado que é a memória com todas as experiências vividas?!...
É por isso que aceito o envelhecimento como uma fase da existência terrena de cada ser humano – encaro-o assim como que uma espécie de prolongamento de um projecto inacabado!
Agora que os sonhos se esfumaram, que as paixões se esvaziaram e que à euforia de outrora sucede a crua realidade do dia-a-dia, o tempo tem outro encanto, outro sabor e cada amanhecer é uma dádiva que aviva o sentimento da maravilha do ser humano na terra com toda a sua riqueza e diversidade.
E é também uma outra maneira de interiorizar a vida com a alegria de poder participar nas iniciativas que povoam o curso fértil da humanidade através da solidariedade e do voluntariado. 
Mas nem sempre é fácil. Numa sociedade computorizada e consumista em que se passa o tempo a premir teclas e botões num ritmo alucinante imposto pela informática e pela cibernética, só com força de vontade e determinação se consegue aguentar a corrida desgastante que a maquiavélica máquina exige.
É uma sociedade traiçoeira, esta em que vivemos!...
Ela não se compadece com ninguém, nem mesmo com aqueles que são testemunhas vivas dos laços de família ao longo de várias gerações.
O conflito entre elas agudiza-se em cada dia que passa. O individualismo selvagem e cruel anda à solta; a afirmação pessoal agride; a competição social destrói e a solidariedade entre as pessoas tende a desaparecer.
Por isso são várias as dificuldades com que o idoso se debate e é necessária uma grande força de vontade e uma fé inquebrantável para fazer a integração nessa nova sociedade, sem que tenhamos de abdicar dos princípios básicos daquela em que fomos criados.
Apesar de estarmos na era da globalização, não podemos esquecer que a Família continua a ser a célula básica da sociedade.
Durante estes últimos vinte anos foi talvez o período da minha vida em que se desenvolveu mais esta opção individual de reforçar o meu optimismo perante a vida. O envelhecimento não é uma doença nem uma incapacidade, que nos impeça de ter uma vida produtiva e feliz.
O diálogo entre gerações é essencial para prevenir a solidão e a exclusão social. Só por volta dos meus 60 anos é que comecei a martelar as teclas do computador. E os meus primeiros professores foram os meus netos…
 
 
 

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