sexta-feira, dezembro 12, 2014

NÃO TÊM OUTRO NOME

 
Há dias, numa entrevista, quando o jornalista perguntava a um dos nossos “meninos de coro”, qual a receita que tinha usado para adquirir tamanha fortuna em tão curto espaço de tempo, o entrevistado, carinha de anjo papudo, respondia sem pestanejar:
- “ Com muito trabalho, muito suor e muitos sacrifícios. Não se esqueça que até andei descalço…”
A um outro figurão a quem perguntavam o que tinha a declarar pelo facto de ser acusado de estar envolvido numa “troca de agulhas” que conduziu ao descarrilamento de uma “pipa de massa” respondia com um sorriso angélico que “nada temia porque estava de consciência tranquila…”
Aqui estão dois casos que exemplificam o pensamento de uma certa classe de indivíduos que se passeia cá pelo rectângulo, que nunca trabalhou, que nada fez, mas que mercê do cargo que ocupou ou ocupa é hoje detentora de fortunas incalculáveis!
E não é preciso procurar muito, porque os exemplos estão à vista e ainda há pouco tempo as estatísticas nos diziam que, por cá, a percentagem de milionários não cessa de aumentar.
Enquanto de norte a sul uns indivíduos a que chamam de “ladrões” tentam forçar caixas do multibanco e aliviar as caixas registadoras de bombas de gasolina a poder de armas de fogo e marretas, outros, menos violentos e apenas com a ajuda de uma esferográfica, vão aforrando, desviando e avolumando as suas contas bancárias.
Acredito sinceramente que tanto a uns como aos outros, as duas expressões – “pé descalço” e “consciência tranquila” – assentem que nem uma luva, pois não há ninguém que não tenha andado de pé descalço quanto mais seja na praia ou quando vai para a cama.
Quanto a “consciência tranquila” e por força da profissão que ocupam, tanto uns como outros, esse sentimento íntimo que avisa e dá conhecimento das nossas acções, aprovando-as ou reprovando-as, é coisa que não devem possuir. Hoje consciência é coisa de pobre…
Aqui há uns tempos, os serviços cartográficos deram a notícia de que a superfície de Portugal tinha aumentado, pois após uma nova medição mais uns tantos quilómetros foram acrescentados ao rectângulo…
Na altura foi com surpresa e algum cepticismo à mistura, que “engoli “o alongamento. Hoje verifico que precisamos de muito mais espaço para albergar os tais figurões “do pé-descalço “e de “consciência tranquila.” E o que é terrivelmente assustador e escandaloso é que eles não param de aumentar dia após dia. E tudo legalmente… Ladrões!

 

 

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