domingo, junho 29, 2014

QUANDO É O DINHEIRO A MANDAR

 
A turbulência política, social e económica é a nota dominante do dia-a-dia português. E nada indica que essa turbação tanto nas coisas como nos espíritos tenha o fim à vista.
É tão confuso este ambiente de ordens e contra-ordens, de afirmações e de desmentidos, de leis e de contra leis, de reticências e de ziguezagues, que o caminho da razão, do bom senso, e da justiça parece ser cada vez mais difícil de reencontrar.   
Diziam os nossos Avós que «onde todos mandam, ninguém manda, onde todos falam ninguém se entende e onde todos roubam, não há ladrões...» E por mais que isso nos custe a admitir, o certo é que, entre nós, e em cada dia que passa, o verdadeiro conceito do antigo ditado está a tornar-se cada vez mais evidente.
Há situações em que é difícil saber quem manda. E se aprofundarmos bem, acabamos por concluir que mandam todos - mandam os políticos do governo, mandam os da oposição, mandam os deputados da maioria, mandam os da minoria, mandam os secretários, mandam os subsecretários, mandam os presidentes, mandam os tesoureiros, tudo manda, minha gente!
Quanto a falar, todos falam, e embora poucos digam alguma coisa de jeito, ninguém se entende porque cada qual quer fazer prevalecer o seu ponto de vista. Certo ou errado, não importa...
No que diz respeito à última parte do ditado, ao roubo - alto e pára o baile! O roubo é façanha dos pequenos. Os grandes, não roubam, "desviam"!... E a nova estratégia que dá pelo nome da tal famosa e badalada engenharia financeira, que em dois tempos e quatro movimentos faz do mais famigerado ladrão, o mais impoluto dos cidadãos. E assim vamos vivendo «no melhor dos mundos possíveis», subscrevendo a afirmação de um senhor chamado Pangloss que, - não sei se com alguma coerência e razão – sustentava que tudo acontece porque tem mesmo de acontecer.
E assim, talvez por fatalismo ou falta de coragem, ninguém reage. É o deixa andar. Quanto mais confusão melhor. O país é uma espécie de terreno inculto em que o matagal esconde a mais variada e esquisita fauna – uma espécie de reino da bicharada. E aí o bicho homem passou a ser avaliado não pela sua competência, pela sua honestidade, pelo seu aprumo moral e intelectual, mas só e apenas porque pertence a uma determinada classe de privilegiados para a qual, quanto mais trabalhamos, mais nos é exigido...
A contrastar com os principescos salários e inúmeras benesses dessa classe, deparamos com pensões de miséria de milhões de portugueses que tentam sobreviver. A ganância e a luta pelo dinheiro deram origem a um desprezo total pelos designados códigos de honra. Hoje o dinheiro compra tudo – “a honestidade dos homens é regulada por uma tarifa. Cada consciência tem o seu preço...” e o dinheiro comanda a vida. Talvez a comparação seja exagerada, mas Roma caiu quando à produção de riqueza útil, sucedeu o reinado do dinheiro fácil com toda a sua habitual comitiva de arbitrariedades e injustiças.  
 

 

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