domingo, junho 29, 2014

DIA DA CRIANÇA


 
 
Como já vai longe o barco da minha infância! Mas lá dentro, agarrada ao homem de barba e cabelos brancos, há ainda aquela esperança que nunca morre - é a criança que pula, a criança que ri, a criança que sonha.
Comemorou-se ontem o Dia da Criança. E talvez por isso esta minha necessidade de falar, de brincar, de sonhar, de voltar atrás no tempo. E nem sei por que o faço. Talvez a necessidade de confessar-me a mim próprio. Ou talvez a vontade de voltar a sonhar, de tentar reviver esse tempo sem tempo, esse tempo sem passado nem futuro...
Esse tempo sem preocupações, sem medos, sem hipocrisias e sem temores. E nesta romagem de saudades "voltei" à escola, àquele edifício térreo que ainda existe e que é agora o "Jardim de Infância". Como tudo mudou - desde as brincadeiras, aos trajes. Desde a lousa, do lápis de pedra, ao papel A4 e às esferográficas!
E separado por um fosso de mais de oito décadas, emocionado, ali permaneci algum tempo enquanto, lentamente, a bobina do filme da vida  ia rodando...
Entretanto, um petiz, passou por mim a correr, pôs a língua de fora e fez aquele gesto do boneco do fiado que se via antigamente em quase todas as mercearias das aldeias. Fruto do tempo. Ou do progresso?!  Talvez as duas coisas. E impotentes para modificar seja o que for temos de habituar-nos a esta "nova maneira de educar". Muito se fala das chagas da sociedade actual: droga, prostituição divórcios, enfim, de todos esses males que estão minar a célula familiar. Detecta-se o mal, mas não há remédio para o erradicar. A "explosão" escolar que se verificou, esbarrou não só com a carência de infra-estrutura eficientes na orgânica dos respectivos serviços, mas também com a falta de recursos humanos. Daí este "angustiante drama de quantidade" e o "pungente drama da qualidade", como alguém já afirmou. E não se deve apenas culpar a escola. O mal começa na própria casa, onde hoje, em muitos casos, se compram os filhos, dando lhes tudo e, por vezes, até com bastante sacrifício. E entrou-se num verdadeiro círculo vicioso donde não é fácil sair... Nesta divagação, meti, talvez, a foice em seara alheia. Que me desculpem os "entendidos". Foi apenas um desabafo. E voltemos ao começo. Durante todo o dia de ontem, por intermédio da Televisão, chegaram a nossas casas, as imagens e os sorrisos felizes de milhares de crianças. E, como disse, talvez daí o grito que acordou a criança que dorme dentro de todos nós. Daí a vontade de inventar uma juventude que passou, de sonhar os mesmos sonhos, de jogar a bola de trapos, de roer uma maçã verde, de correr pelos campos, de fazer de pássaro, de avião…Mas o tempo não volta atrás. E muito embora ainda ao leme falta-me a criança que desafiava as marés. Muitas vezes nem marinheiro já sou.

 

 

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